Obras da segunda etapa do Vila do Mar acumulam transtornos

Poeira, buracos, esgoto e objetos abandonados estão entre as principais reclamações de moradores do Grande Pirambu. Eles denunciam que os trabalhos estão parados desde março. Seinf afirma que cronograma é seguido

Escrito por Kilvia Muniz , kilvia.muniz@tvtvdiario.tv.br
Legenda: Doenças e acidentes em bueiros abertos devido ao atraso nas obras representam perigos para quem mora na região, denunciam moradores Moradora Lourdes Sebastião mostra improviso para tampar buracos Blocos de concreto permanecem largados no trecho em obras Rachaduras foram causadas por tratores, reclama Maria de Lourdes

Abrir a porta de casa e se deparar com uma montanha de areia, no lugar da calçada e da rua, é uma realidade que Lourdes Sebastião enfrenta há cerca de 1 ano e meio. Moradora da Rua Álvaro de Alencar, no Bairro Cristo Redentor, a poucos metros de um dos mais bonitos cenários da orla de Fortaleza, nem consegue mais se concentrar na vista privilegiada para o Atlântico. Tem vivido reclusa dentro de quatro paredes, não por acaso.

"Aqui é 24 horas com a porta fechada, porque é muita poeira mesmo. Eu tenho duas crianças em casa, tossindo, por causa da poeira. Almoçam com areia e a casa é toda suja, justamente, por conta da bagunça que fizeram em frente à minha casa", denuncia a moradora.

As obras que se concentram em frente à residência de Lourdes fazem parte da segunda etapa do projeto Vila do Mar, orçada em R$ 6,7 milhões, que inclui construção de calçadão, campo, quadra poliesportiva, praça, muro de contenção, galerias de drenagem e ciclovia entre a Avenida Pasteur e a Rua Santa Rosa, na comunidade da Areia Grossa, no Pirambu.

No total, estão previstas intervenções em 620 metros de extensão. Os trabalhos foram iniciados no dia 10 de março de 2018, com previsão inicial de término de 12 meses, como parte da continuação dos trechos já entregues em 2012 e 2016, da Barra do Ceará ao Cristo Redentor. De acordo com os moradores, o atraso de seis meses tem dificultado bastante a rotina e está relacionado às constantes interrupções do serviço.

"A obra foi parada desde janeiro, quando teve aquela rebelião. Pararam e retornaram em março, mas pararam de novo. Só fizeram esse pedacinho do calçadão", denuncia o morador Jeová Rodrigues.

A dona de casa Leidiane Alves também confirma que ninguém está trabalhando no trecho, próximo à Rua Santa Elisa. Ela reclama que o excesso de areia deixado na rua e na faixa de praia tem entrado nas tubulações e entupido o encanamento. "A obra é malfeita, começaram e pararam", explica. No quintal da empregada doméstica, que vive em casa com o marido e 3 crianças, o esgoto está estourado e, sem ter para onde escoar, a água fica acumulada. "Mau cheiro direto, né? A gente vai almoçar e tem essa catinga que vem lá de fora. Depois que eles mexeram na rua, ficou desse jeito".

Riscos

Na casa ao lado, o drama fica por conta de uma parede que está rachando. A dona de casa Maria de Lourdes, de 65 anos, afirma que a estrutura ficou abalada depois que as máquinas passaram pela área. "Quando o trator estava aí, arrancando as coisas, ficou sacolejando a parede, que ficou mole. Eu acho que é perigoso, né? Ainda não caiu porque Deus não quer", afirma. Ela vive na casa humilde com o neto de 12 anos, que está doente. "Está muito gripado por causa da areia, levei ontem na UPA", lamentou.

Além das doenças, os moradores denunciam que enfrentam os perigos de acidentes, já que diversos bueiros foram abertos na região e ainda não foram tampados. As estruturas de concreto que vão ser utilizadas na vedação já estão no canteiro, empilhadas e "abandonadas", segundo a população. Enquanto isso, o jeito é improvisar com papelões, entulhos e madeiras para sinalizar os buracos.

Ainda assim, as quedas são constantes. "Eu, pessoalmente, já caí estendendo roupa. A gente vem de costa, acha que não tem nada, cai num buraco desse, quebra uma perna. Minhas crianças também já caíram", explica Lourdes Sebastião. Ela conta que, à noite, os riscos aumentam quando o lugar fica mais movimentado.

"De noite, é menino brincando, menino subindo, tem buraco aqui, outro ali em cima, buraco em todo canto. A gente pode fazer o quê? Só improvisar com essas tábuas aí", conta a dona de casa.

Ocupações

De acordo com o projeto inicial, a previsão era desapropriar 100 casas na região. Muitas famílias chegaram a ser retiradas e indenizadas na comunidade da Areia Grossa, e as casas derrubadas. Mas, segundo os moradores, a demora da retomada dos trabalhos levou a novas ocupações irregulares.

"Se 'custar' de novo, os moradores fazem casa de novo, fazem alvenaria de novo, barraco de novo. O pessoal fica com raiva, revoltado, vendo pessoas vindo de outro canto e fazendo casa no local em que a pessoa foi indenizada", denuncia Jeová.

Ao contrário do que afirmaram os moradores sobre o abandono dos serviços no trecho, em consulta sobre o assunto, a Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza (Seinf) informou que "as obras estão dentro do cronograma". A conclusão total dos trabalhos, prevista para março deste ano, segundo a Pasta, está definida, agora, para o primeiro semestre de 2020.

"Ao todo, são 5,2 km de via paisagística totalmente recuperados. Destes, 4,6km já foram concluídos e entregues, o que corresponde a 88% de toda a intervenção", afirma. "O valor total do investimento referente às obras de urbanização é de, aproximadamente, R$ 120 milhões". A Seinf foi questionada sobre os buracos descobertos nas ruas, rachaduras em casas, ocupações irregulares e o andamento das indenizações, mas não enviou as respostas até o fechamento desta edição.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.