Óbitos maternos em Fortaleza serão apurados por inquéritos

Após reduzir dados de mortalidade materna, Capital deve investigar fatores de risco para o problema. Uso de drogas, gravidez na adolescência e infecções durante a gestação devem receber maior atenção dos órgãos de saúde

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: Acesso a alimentos saudáveis e ao saneamento básico são importantes durante a gestação
Foto: FOTO: RODRIGO GADELHA

Doze anos antes do prazo estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fortaleza atingiu bom índice na razão de mortalidade materna. Enquanto a entidade mundial preconiza registros de 30 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos até 2030, a Capital alcançou a marca de 25,1 ainda em 2018. O dado é 64% menor que a razão de 70,9 aferida em 2013. Segundo o prefeito Roberto Cláudio, o trabalho é impedir que o índice volte a crescer; para isso, os óbitos maternos relacionados à gestação devem passar por investigações mais aprofundadas.

"Passamos agora a uma pesquisa mais dirigida, inclusive fazendo inquérito desses óbitos: onde aconteceu, sob que condições, se tem algum padrão de acontecimento, para a gente criar novas ações e políticas que possam reduzir mais ainda essa razão", explica o chefe do Executivo municipal, também médico com ênfase em Saúde Coletiva.

Para ele, uma gestação sadia engloba bom pré-natal e assistência ao parto, acompanhamento no puerpério e no pós-parto e assistência hospitalar, "inclusive com UTI adequada, para gerir as complicações maternas mais graves".

Outras circunstâncias envolvem nutrição, como o acesso a alimentos saudáveis, e condições ambientais, como saneamento básico. Entretanto, o prefeito diz que a educação da mãe também é essencial, ressaltando a importância das consultas e exames durante o pré-natal. Por isso, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) mira agora em dois fatores de risco: o uso de drogas e as infecções durante a gestação.

"Ainda não temos provas científicas, mas há certo conhecimento em comum de que o uso de drogas, principalmente na juventude, tem levado à gravidez precoce e a uma gravidez não assistida, que precisa de cuidados especiais. É muito comum que jovens que engravidam na adolescência tenham maior possibilidade de terem bebês com baixo peso ao nascer. Estamos fazendo um trabalho não só de planejamento familiar, que é a melhor forma de prevenir, mas tratando cada gestante adolescente de forma diferenciada".

Tratamento

De acordo com a secretária Joana Maciel, da SMS, também é preciso investir em conversas com essas jovens. Uma das ações da Prefeitura é o Programa Agente de Saúde Jovem, em parceria com a Secretaria da Juventude, que propõe uma comunicação mais fácil com esse público. Ela explica, sem detalhar quais, que existem áreas de maior vulnerabilidade social em Fortaleza onde serão realizadas buscas ativas de mulheres grávidas, "para que elas não deixem de ir ao posto de saúde fazer as consultas do pré-natal".

Joana Maciel chama atenção ainda para alterações nos protocolos de tratamento de infecções, principalmente urinária, uma causa importante de prematuridade. "Hoje, a medicação que utilizamos pressupõe 10 dias de tratamento, então estamos vendo a possibilidade de trocar por uma monoterapia, que é um único comprimido, uma dose supervisionada. Acreditamos que isso pode ajudar a reduzir", assegura.

Outro dado comemorado pela SMS foi a redução na taxa de mortalidade infantil, que passou de 11,5 óbitos a cada mil nascidos vivos, em 2013, para 11,3 no ano passado. O dado é menor que o de outras capitais nordestinas, como Salvador (15) e Teresina (14,4). Conforme a Pasta, a melhora está relacionada à ampliação do acesso das gestantes à rede de saúde e à capacitação de profissionais assistenciais, além do estímulo ao aleitamento materno. Profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também foram capacitados para transporte de recém-nascidos de risco entre maternidades.

Centros de Parto

"Para impactarmos, hoje, nesses indicadores, não podemos investir só em maternidade e nem só no posto de saúde", destaca Joana Maciel, lembrando que os 113 postos de saúde funcionam com horário estendido, das 7h às 19h, para beneficiar mulheres que só possam fazer o pré-natal fora do horário de trabalho. Desde cedo, as grávidas podem ser vinculadas à maternidade onde ocorrerá o parto.

A secretária ressalta ainda a construção do Centro de Parto Normal (CPN) do Hospital Nossa Senhora da Conceição, no bairro Conjunto Ceará, em que a prática do parto humanizado e com qualidade é encorajada. Segundo ela, o Gonzaguinha da Barra do Ceará passará por reforma em breve e terá igual tipo de estrutura. Para o Gonzaguinha do José Walter, um projeto está sendo elaborado.

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