Na contramão do País, Ceará mantém bons índices de vacinação

Estado teve melhor cobertura do País na tríplice viral em 2018, segundo o Ministério da Saúde. Para especialistas, muitas pessoas ainda deixam de se vacinar, considerando o "desaparecimento" de doenças como o sarampo

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Mesmo quando não há surtos de doenças ou campanhas de vacinação, população deve manter as doses em dia
Foto: FOTO: J L ROSA

O Ceará vem se mantendo em destaque no País nas coberturas vacinais. É o que revelam dados do Ministério da Saúde ao se constatar, por exemplo, que a tríplice viral - imunização que inclui a proteção contra o sarampo - alcançou 106,9% de cobertura em 2018, o melhor índice entre todos os estados brasileiros. O balanço da hepatite A, por sua vez, alcançou a 2ª melhor posição nacional no mesmo ano, com 90,28% de cobertura, atrás apenas do Mato Grosso do Sul, com 91,03%.

Os índices trazem um cenário de conforto, sobretudo quando o Brasil demonstra a preocupação com o retorno de doenças que estavam praticamente erradicadas, como o sarampo, atrelado ainda à queda na vacinação no País. Para especialistas, a população está deixando de se vacinar em virtude da diminuição ou ausência total de casos. Essa mudança de mentalidade foi debatida durante a 21ª edição da Jornada Nacional de Imunizações, que acontece em Fortaleza desde ontem (4) até sábado (7). O evento é promovido pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e conta com a presença de mais de 100 palestrantes na programação.

"As pessoas acham que se erradicou a doença, não precisa mais vacinar. Mas só se pode parar de vacinar quando a erradicação é mundial, quando não há mais nenhum caso no mundo inteiro. Enquanto tiver, é preciso proteger a população", ressalta Jocileide Campos, presidente regional da SBIm no Ceará.

Segundo ela, mesmo quando o surto da doença é eliminado, é preciso manter a cobertura vacinal em 95% da população que venha a nascer após o fim dos registros. Caso contrário, a doença poderá ser reintroduzida, uma vez que ainda existem casos sendo confirmados em outros locais do País. O sarampo é um bom exemplo dessa situação.

Estratégias

Campos esclarece a importância de uma mudança de mentalidade não só da população, mas também da comunidade médica. "Os responsáveis somos todos nós. É a população que nunca mais viu a doença, são os médicos que se acostumaram também com a ausência da doença, e não incentivam a imunização".

Entre as estratégias citadas para reverter a baixa cobertura vacinal, duas são destacadas: "A primeira, e mais importante, é a população buscar as vacinas. Se ela busca, está consciente e vai buscar sempre. A outra é o serviço através dos agentes comunitários de saúde, fazendo visitas domiciliares, e também pesquisando nas escolas quem são os alunos que ainda precisam das doses de vacina", diz.

Apesar do foco lançado recentemente sobre o sarampo, devido ao surgimento de novos casos no Brasil, outras doenças geram inquietação entre especialistas. "Nós temos uma preocupação com a poliomielite, praticamente erradicada no mundo, mas que ainda tem alguns casos ocorrendo todos os anos no Afeganistão e no Paquistão, e, se nós não tivermos as coberturas vacinais elevadas, ela pode voltar. Pessoas viajam e podem trazer o vírus".

Para Juarez Cunha, presidente nacional da SBIm, a perda da certificação de País livre de sarampo representa um retrocesso para o Brasil. "Além disso, é um exemplo de alerta, porque se perdemos para o sarampo, podemos perder para outras doenças, como a pólio e a rubéola", afirma.

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