Mudança no letreiro do Aeroporto de Fortaleza é questionada

Retirada do nome do aviador Euclides Pinto Martins da fachada do equipamento gera debate sobre a importância da preservação histórica. Cearense marcou a aviação mundial com o primeiro voo sobre o Atlântico

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Foto: José Maria Melo e Camila Lima

Quantas vezes frequentamos lugares cuja personalidade que o nomeia nem sequer sabemos quem foi? O batismo de ruas, praças e prédios serve também para, de alguma forma, a memória e o conhecimento sobre pessoas relevantes para a história local sejam preservadas. Uma dessas referências, o Aeroporto Internacional de Fortaleza, que desde 1954 faz homenagem ao aviador cearense Euclides Pinto Martins, teve o letreiro trocado durante o processo de reforma e provocou incômodo naqueles que reivindicam a preservação desse registro histórico.

O equipamento recebeu o nome do aviador após sanção da Lei Federal 1.602 de 13 de maio de 1952 pelo então presidente Café Filho. Em 2018, a Fraport, empresa alemã, assumiu a administração do Aeroporto de Fortaleza e deu continuidade a obras de reestruturação do equipamento. Uma das ações foi a retirada do letreiro antigo da fachada. A empresa esclarece que o nome do aeroporto não sofreu alteração e diz que a denominação Fortaleza Airport é apenas "a marca comercial da empresa". Em nota, informou que "respeita e preserva a memória do aviador cearense e mantém no Terminal um busto de Pinto Martins, com uma placa de homenagem a ele".

Memória

A família de Pinto Martins reprova a retirada do nome. O sobrinho-neto do aviador, Armando Pinto Martins, reforça que "gostaria que a memória histórica fosse preservada". "O jovem precisa saber quem foram essas pessoas. Saber da grandiosidade e ter uma referência", ressalta. Hoje, conforme Armando, ele é o único familiar de Pinto Martins que mora no Ceará. Os demais parentes estão no Rio de Janeiro.

Euclides Pinto Martins destacou-se, sobretudo, por ter realizado o primeiro voo sobre o Oceano Atlântico entre as cidades de Nova York e Rio de Janeiro na década de 1920. O percurso foi feito a bordo de um hidroavião biplano (com capacidade para pouso na água) durante cerca de cinco meses, com sucessivas escalas em diversos países.

O aviador cearense nasceu em 15 de abril de 1892, na cidade de Camocim - a 360km de Fortaleza. Na adolescência, foi enviado pelo pai aos Estados Unidos, onde se formou engenheiro mecânico. Após entrar em uma escola de aviação, obteve sua licença de piloto. Associado ao piloto Walter Hinton, Pinto Martins fracassou na primeira tentativa. Em agosto de 1922, o hidroavião Sampaio Corrêa I caiu no mar próximo a Cuba.

Façanha

O cearense não desistiu e, após financiamento de um jornal, conseguiu a aeronave Sampaio Corrêa II. No voo mais importante de sua carreira, Pinto Martins partiu de Nova York no dia 4 de setembro de 1922 e chegou ao Rio de Janeiro no dia 8 de fevereiro de 1923. No percurso, no dia 19 de dezembro de 1922, Pinto Martins passou por Camocim, onde foi homenageado. Em 12 de abril de 1924, Pinto Martins foi encontrado morto em sua residência no Rio de Janeiro.

Para o jornalista Ivonildo Lavor, coautor do livro "A História da Aviação no Ceará", Pinto Martins é "o maior herói da aviação do Estado". Ele lamenta que o Ceará não preze tanto pela preservação da própria história. Pelo legado do aviador, Ivonildo sentencia: "não vejo outro nome que possa ocupar o lugar dele".

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