Ministério da Saúde comemora 30 anos de campanha contra Aids

Em 2018, o Dia Mundial de Luta contra a Aids (1º de dezembro) completa três décadas de atuação. Neste ano, o Ministério da Saúde foca na importância de iniciar e continuar o tratamento, até atingir a carga viral "indetectável"

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Maria Veranise e Jeová Fonseca são exemplos da importância do tratamento na luta contra a doença
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

E agora? Essa, provavelmente, deve ser a pergunta que passa pela cabeça de cada pessoa que recebe diagnóstico do HIV/Aids. Mas, o "agora" pode ser guiado por um passo fundamental pós-descoberta: a importância de seguir o tratamento devidamente, em busca de se tornar "indetectável" - situação em que o soropositivo apresenta uma carga viral baixa, reduzindo o risco de transmissão a outrem.

Em 2018, o Ministério da Saúde comemora os 30 anos de campanha contra a doença, especialmente simbolizada no dia 1º de dezembro - instaurado em 1988 como "Dia Mundial da Luta Contra Aids". E após essas três décadas de combate, o Ministério pretende focar no dever dos soropositivos em prosseguir o tratamento para obter o máximo de normalidade cotidiana.

De acordo com dados da própria Pasta, no Brasil, 72% das pessoas que vivem com HIV/Aids sabem de sua condição, e 92% dos soropositivos se encontram na categoria indetectável. "Essa conquista, se deve ao fortalecimento das ações do Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, para ampliar a oferta do melhor tratamento disponível", completa o Ministério.

Dez anos após o mundo noticiar a criação de uma data para combater o HIV/Aids, em 2008, Maria Veranisa recebia a notícia que mudaria sua vida: o diagnóstico do vírus, até hoje, incurável. "Foi horrível", relembra a aposentada.

"Eu tentei suicídio várias vezes. Queria morrer. Foi uma barreira muito grande. Eu escondi por muito tempo da minha família, e depois que eu contei, eles continuam com preconceito até hoje. Mas eu 'to levando' de cabeça erguida!", revela Veranisa, que abertamente fala sobre a infecção do HIV/Aids, e que, hoje, com o tratamento regulado, encontra-se indetectável. Para o infectologista Érico Arruda, estar indetectável se reflete individual e coletivamente. "A pessoa que está em tratamento, e com carga viral indetectável, tende a ter melhor desfecho do ponto de vista clínico", comenta o especialista.

"Do ponto de vista coletivo, isso tem muita importância. Porque se sabe que com carga viral detectada, pode significar que a pessoa esteja transmitindo o vírus para outros indivíduos", complementa o médico do Hospital São José de Doenças Infecciosas, referência no que diz respeito ao tratamento de HIV/Aids.

Apoio em grupo

Foi na Casa de Retaguarda Clínica (CRC) que Veranisa reencontrou a confiança para erguer novamente a cabeça. "Eu dei entrada no (Hospital) São José 65 vezes. E foi depois que eu vim pra essa casa aqui que eu me senti acolhida, que eu saí da solidão, da angústia. Melhorei 100%. Hoje, eu sou outra" complementa Veranisa, que frequenta há mais de um ano a CRC, projeto da Associação de Voluntários do Hospital São José (AVHSJ).

A presidente da Associação, Selma Lourenço, comenta sobre o trabalho do grupo de apoio. "Eles realmente tem que aderir ao tratamento por questões de autoestima, e doenças oportunistas que podem surgir futuramente. Tudo isso é importante", revela a coordenadora da AVHSJ.

A chefe da AVHSJ completa ainda com as atividades da CRC. "Eles vêm (do Interior) para continuar o tratamento. Nisso, a gente oferece oficinas de artesanato, palestras, rodas de conversa sobre sexualidade, sobre o tratamento. E ainda tem o reiki para tratar da parte espiritual", complementa Selma.

Início conturbado

Muitos soropositivos revelam as dificuldades no início do tratamento, especialmente por conta do baque causado pelo diagnóstico. Além de fatores psicológicos e sociais, as reações colaterais causadas pelos medicamentos retrovirais também impactam na continuidade, ou não, da medicação. No entanto, o início conturbado não deve impedir a continuidade do tratamento.

"O tratamento no começo foi péssimo. Eu descobri no Conjunto Ceará, e de lá me encaminharam para o São José. Mas com uns cinco, seis meses eu suspendi o tratamento porque eu sentia muito enjoo, daí eu parei", revela Jeová da Fonseca, 41, que convive com o vírus há 20 anos.

Ele revela que decidiu retomar a luta contra a doença por conta de complicações no estado de saúde e após um internamento. "Eu fiquei depressivo, e também peguei uma infecção hospitalar. Fiquei em coma dois meses", relembra o soropositivo sobre os difíceis momentos vividos em 2007.

A terapêutica incorreta é uma situação comum aos soropositivos devido à quantidade de mutação do vírus. Por isto, o exame de "genotipagem" é fundamental, uma vez que nesse processo é descoberto a estrutura exata do vírus e a quantidade precisa de remédios. Após a descoberta, a medicação é regulada e o tratamento corre tranquilamente.

Informação

O apoio dos grupos e ONGs exerce um papel fundamental, e somado a eles, a informação é outro elemento essencial, quando se tem o tratamento como objetivo. O universitário Leonardo Almeida, 24, nunca participou de nenhuma ONG, mas devido ao conhecimento que acumulou durante a vida, soube reagir à pesada notícia do diagnóstico.

O jovem é mais um dos soropositivos que sofreram com o tratamento inicialmente, mas não desistiram de continuar tentando. "Eu não estava me adaptando aos remédios. A medicação que eu tomava não era a certa. Mas eu nunca senti nenhum efeito colateral", revela o jovem que está indetectável (com apenas 2% de chance de transmissão) desde janeiro de 2017, após reiniciar o tratamento em agosto de 2016.

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