Mercado São Sebastião: comércio e afetos sustentam tradição

Com estrutura característica erguida de forma imponente no Centro de Fortaleza, o equipamento público movimenta a economia local, gera empregos e integra a rotina de moradores e turistas da Capital há 22 anos

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@diariodonordeste.com.br
Legenda: Aos 62 anos, seu Antônio Mariano fez do Mercado sua própria casa
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

Cheiro de manga e goiaba maduras, de carne fresca, de panelada fumegante. Sons de serras cortando ossos de bois, de vozes pechinchando os "três por dez" e das buzinas entrando da Bezerra de Menezes pelas portas de madeira. Movimento. Incessante. Assim pode ser descrita a rotina do Mercado São Sebastião, um dos equipamentos mais tradicionais e importantes para a história e para a economia de Fortaleza, que completou 22 anos neste domingo.

É sob o teto transparente do mercado, hoje já desgastado, que o permissionário Antônio Mariano, 62, vê o sol nascer todos os dias, "de segunda a segunda", quando sai do bairro Pirambu às 4h30 para abrir o box onde comercializa frutas e coleciona amizades desde a abertura do novo mercado. "Tem cliente muito antigo, gente que nem consegue mais vir, mas me liga e mando deixar a mercadoria em casa. Só saio daqui quando eu morrer, agora. A amizade, o contato com as pessoas? Eu gosto demais daqui", sorri Mariano.

A banquinha é simples, com cachos de banana miúda - "mas é prata da boa, orgânica da Serra da Rajada!" -, ovos e mangas dividindo o pouco espaço. "Ah, minhas frutas vêm de Cascavel, Maranguape e a macaxeira vem de Petrolina! Meus clientes são fiéis porque escolhem a qualidade", orgulha-se "Seu Mariano", que gostaria de presentear o mercado com um teto novo para cessarem os vazamentos.

Cliente assídua há uma década, a técnica industrial Diana Machado, 56, concorda que reformas são necessárias, mas não imagina uma Fortaleza em que o Mercado não exista. "Comodidade não temos, limpeza precisa melhorar. Mas os alimentos fresquinhos atraem. O preço, a variedade, as frutas, principalmente, e algumas coisas que não se encontra em outro lugar - como ovo de capota, que é mais rico em proteínas. Só tem aqui no Seu Mariano!", comemora.

Se para alguns a limpeza ainda é questão, para o açougueiro Carlos Rodrigues, 58, é a mudança positiva mais visível. O que não muda são os clientes. "Só muda se você tratar ele mal", conta. Desenhando a rotina diariamente a partir das 5h há 30 anos, antes de o Novo São Sebastião ser inaugurado, Carlos já desaprendeu a viver sem o odor forte de carne crua e o movimento frenético do local. "Eu sentiria uma falta muito grande se tivesse que sair daqui. Passo dois dias em casa e já fico doido pra vir. Não pelo dinheiro, mas pelo costume!"

Quem também ocupa a mente, os dias e os bolsos vendendo carne - mas de frango abatido, porque "fruta e verdura é ruim de vender e ganhar dinheiro" - é Angela Linard, 49, que "deixou de ser bancária para ser banqueira" no mercado, há duas décadas. Entre "diga, jovem!", "é vinte, meu bem!" e outras tantas expressões que parecem compor um dialeto próprio de quem vende ali, ela sentencia: "O Mercado deveria entrar entre as sete maravilhas da cidade. Não é porque eu trabalho aqui não, é porque acredito que é uma coisa realmente necessária."

 

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