Homossexual não pode doar sangue

Escrito por Redação ,
Legenda: Doação de sangue
Foto: Agência Brasil
Doar sangue é um ato de solidariedade. Este conceito é de aceitação geral. No entanto, também parece ser generalizado não se atentar para o fato de que doar sangue não é um direito. Sendo assim, para alguns o momento da doação pode figurar um reforço de preconceitos. Para outros, mais uma instância de verificação do “risco transfusional”. Esta foi a situação por que passou um estudante de fisioterapia de 30 anos que pediu para não ser identificado.

No último dia 13, ele foi até o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) para doar sangue, atitude que já havia tomado outras duas vezes. Na hora da triagem epidemiológica, na hora da entrevista, questionado a respeito de um possível comportamento de risco, ele revelou que era homossexual, sendo, então, avisado de que não poderia ser doador.

O estudante não concorda com a recusa, pois tentava ajudar o próximo. “A mulher que me atendeu até supôs que eu namorava uma menina porque eu não tenho jeito afeminado. Ela perguntou: ´E faz quanto tempo que você namora essa menina?´ e eu respondi: ´não é uma menina, é um cara que eu namoro há três anos´”, conta.

Através da assessoria de imprensa, o Hemoce declara que “não quer se pronunciar a respeito deste caso”, acrescentando apenas que “estamos de acordo com a norma da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”.

O Hemoce se refere à resolução nº 153, de 14 de junho de 2004, da Anvisa, que dispõe que “homens que tiveram relações sexuais com outros homens nos últimos 12 meses que antecedem a triagem clínica devem ser considerados inaptos temporariamente para a doação de sangue”.

Ainda de acordo com a resolução, no Brasil, desde 1988 esta medida vem sendo adotada, o que resultou numa “drástica redução do risco transfusional”. A eliminação total do risco não é possível por conta da “janela imunológica”, período compreendido entre a infecção pelo vírus e a produção de marcadores detectáveis por exames. Esse período é de 22 dias.

Em relação à triagem do Hemoce, o estudante entende que: “Se eu não quisesse dizer que tinha uma relação homoafetiva, eu não tinha dito. Não precisava nem ter mentido, já que a mulher já quis entender que eu não era homossexual. E a janela imunológica de um homossexual é a mesma de um heterossexual. Quer dizer que um paciente pode receber sangue contaminado? Esse método é extremamente falho, das outras vezes, nem me perguntaram nada”.

A Anvisa afirma que “considera vários critérios de exclusão associados a diferentes situações de risco, o que denota que não existe discriminação baseada em preconceitos”. Entretanto, o estudante diz estar determinado a processar a Anvisa e o Hemoce.

Para doar sangue é preciso ter entre 18 e 65 anos de idade, pesar mais de 50 quilos, ter boa saúde, não estar utilizando medicação e ser declarado apto na triagem clínica.

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