Fraudes na rede de água chegam a 16 mil por mês, segundo Cagece

Infrações com registro frequente na Capital, as ligações clandestinas - os populares "gatos" - podem ocasionar vazamentos, perda de pressão na rede e desabastecimento de parte da população de uma área

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Em junho deste ano, a Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE) expediu uma Ação Civil Pública para rever o percentual para 4,31%
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

No período de um ano, entre maio de 2018 e abril de 2019, cerca de 193 mil fraudes na rede de distribuição de água foram flagradas pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). O montante representa uma média de 16 mil fraudes por mês. Do total, 180 mil (93,3%) ocorrências tiveram registro em Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), enquanto cerca de 13 mil (6,7%) se deram no interior do Estado.

No período, foram investidos R$ 4,7 milhões no setor de combate às fraudes, possibilitando a recuperação estimada de 117 mil metros cúbicos de água por mês - ou 117 milhões de litros, o equivalente a quase 47 piscinas olímpicas. De acordo com a Companhia, entre os principais tipos de fraudes estão as ligações clandestinas, irregularidades nos hidrômetros, violação de ligações cortadas ou do lacre do medidor e desvio de água antes do hidrômetro (by-pass).

A ligação clandestina, popularmente conhecida como "gato", por exemplo, ocasiona vazamentos e perdas de pressão na rede, além da possibilidade levar ao desabastecimento de outras residências da mesma área. A Cagece alerta que, em alguns casos, a fraude também pode originar infiltrações que comprometem a estrutura dos imóveis.

Se o cliente for autuado pela Polícia Civil, responde por crime de furto e está sujeito a uma pena de dois a oito anos de reclusão. Assim que uma fraude é comprovada, a Cagece interrompe o fornecimento de água no imóvel e notifica o cliente. A penalidade para quem a comete é o pagamento de multa, além dos custos para regularização da ligação de água. Os valores têm acréscimo de 50% em caso de reincidência (confira os valores no infográfico).

Além das fraudes, outro fator importante para a perda de água na distribuição são os vazamentos, decorrentes de rachaduras ou falhas na tubulação, como aponta o especialista em recursos hídricos Marco Aurélio Holanda. "Os que mais causam perdas são os problemas nas grandes tubulações, em que a vazão é muito grande", destaca. Porém, ele também reforça ser fundamental reparar os vazamentos nas casas com rapidez. "A maior parte dos vazamentos residenciais são visíveis e não são difíceis de detectar", diz.

Pressão

Professor do departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Aurélio Holanda pontua que poderiam ser adotadas técnicas modernas para detecção de falhas na rede de abastecimento de água, como a vistoria acústica de tubos enterrados. Já para atenuar as falhas, Marco Aurélio diz que uma das medidas indicadas pode ser a redução da pressão de água em períodos de menor uso.

"Na madrugada, quando não há tanta demanda, você diminui a pressão e, com isso, tem uma grande economia sem muito gasto". Conforme o professor, é necessária celeridade das equipes de manutenção para evitar que os vazamentos não tragam dano maior. A Cagece informou que possui equipes técnicas atuando 24 horas por dia na retirada de vazamentos na Capital e na RMF. No último ano, a Companhia também investiu R$ 13,1 milhões em ações de combate ao problema.

Disse ainda que incrementou as equipes de "caça-vazamentos", proporcionando a redução do tempo de retirada de vazamentos para 8 horas, em média, inferior ao prazo de 24 horas exigido por agências reguladoras. A empresa lembra que a população pode participar na denúncia sobre fraudes e vazamentos por meio de aplicativo ou site.

Alerta

A necessidade de poupar água foi reforçada pelos órgãos de segurança hídrica após a divulgação do balanço da quadra chuvosa 2019, no início deste mês. "Os reservatórios da RMF estão com 81% de volume, mas eles, sozinhos, não dão garantia absoluta para a Região. Eles precisam periodicamente da contribuição do Castanhão e do Orós. Se não continuarmos economizando, aumentamos o risco do desabastecimento, se não em 2020, em 2021", informou o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira.

Atualmente, os 155 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) estão com 21,2% da capacidade total de armazenamento.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados