Fortaleza tem cinco lixões inativos. O que é possível fazer para recuperar essas áreas?

Territórios que durante anos foram o destino final dos resíduos produzidos em Fortaleza, hoje estão urbanizados. Os lixões deveriam ser monitorados, pois estima-se que ainda apresentam riscos

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@diariodonordeste.com.br

Pesquisas científicas e o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), feito ainda em 2012, apontam que Fortaleza tem cinco lixões inativos. Esses espaços, que durante anos foram o destino final do lixo produzido na Capital, de modo geral, seguem sem monitoramento.

Especialistas afirmam que não é possível determinar quais efeitos esses lixões ainda provocam. Mas, ressaltam que os impactos ambientais, apesar do intervalo temporal, não são descartados. 

Pesquisadores e profissionais ouvidos pelo Sistema Verdes Mares apontam o que deve ser feito para recuperar ambientalmente esses locais e, principalmente, o Jangurussu. Pois, este foi o maior e mais recente lixão ativo dentro de Fortaleza. 

Essas áreas, localizadas no Monte Castelo (1956 a 1960), na Barra do Ceará (1961 a 1965), no Antônio Bezerra (1966 e 1967), no Henrique Jorge (1968 a 1977) e no Jangurussu (1978 a 1998), passaram por grande processos de urbanização. Apenas o Jangurussu não foi tomado por edificações.     

O doutor em saneamento ambiental e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental no Ceará (Abes-Ce), Humberto de Carvalho Jr, explica que deveria haver um monitoramento e o controle ambiental das áreas, com a utilização de equipamentos para a detecção da presença de biogases, além da análise do solo em relação ao movimento causado pela compactação do lixo e a decomposição de matéria orgânica. 

É difícil afirmar sem realizar sondagens em estudos in loco. Os impactos maiores nesses lugares já aconteceram. Todavia, mesmo na hipótese de não haver mais matéria orgânica e restos alimentares, temos resíduos que podem haver lixiviação. 

O professor argumenta que é preciso realizar uma sondagem para verificar a atual situação dos lixões inativos, mas ponderam que “os riscos seriam a possibilidade de construções elevadas serem afetadas estruturalmente”.  

A doutora em Geologia Ambiental e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Lamarka Lopes Pereira, acrescenta que “cada local é um caso” e também reitera que deve ser realizado um estudo de impactos ambientais, porém, afirma ela, “quando falamos de passivos ambientais, que é o caso dos lixões, os principais fatores de perigo são contaminação do lençol freático e águas superficiais, do solo e do ar, além da movimentação de massas”.

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Para o doutor em Engenharia Civil e professor do Mestrado em Tecnologia e Gestão Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Gemmelle Santos, não “Há mais impactos significativos nessas áreas em função do tempo e também porque receberam poucos resíduos”. No entanto, ele afirma que se existir algum risco eles estão atrelados a contaminação das águas subterrâneas. 

Recuperação do Jangurussu: o que é possível?

Em 2018, a “rampa do Jangurussu” completa 40 anos de criação e 20 anos de encerramento. O local foi o último lixão dentro de Fortaleza, mas não foi recuperado ambientalmente. 

Conforme a doutora em Geologia Ambiental, Lamarka Lopes, existem inúmeras técnicas de recuperação de espaços que serviram de lixão. Todas, explica ela, “dependem do estudo prévio da área, que leve em consideração o benefício ao meio ambiente e as pessoas, mas também consideração os custos da recuperação”. 

A utilização que será dada a área, vai depender exatamente de qual técnica foi utilizada no momento da recuperação, podendo ser até para construção de estruturas como casas, prédios, shopping ou apenas equipamentos para recreação como praças, quadras, campos, parquinhos ou reflorestamento. 

O professor do IFCE, Gemelle Santos, também evidencia que é possível requalificar essas áreas, pois há experiências concretas no Brasil. No caso do Jangurussu eles explica que a melhor alternativa e também mais barata é revegetar a área com espécies nativas. 
 
O engenheiro agrônomo e professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ronaldo Stefanutti, sugere que locais que abrigaram lixões devem passar por impermeabilização da superfície do solo impedindo a entrada de água de chuva, remoção  dos rejeitos para uma área de aterro sanitário e restauração da área para fins habitacionais, institucionais, com a recuperação paisagística. 

Exemplos de recuperação de lixões

1) Lixão da divisa dos municípios de Criciúma e Forquilhinha - Santa Catarina

No local, o Instituto de Pesquisa Ambiental e Tecnológica elaborou o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), contratado pela Petrobras Gás S.A., que executou a obra do PRAD-Lixão, e as prefeituras do dois municípios contrataram o instituto para fazer o monitoramento do local. A recuperação ambiental é de uma área com 97 hectares, da qual 13,5 hectares eram lixão. 
 
2) Lixão que virou Parque Ecológico do Sitiê - Rio de Janeiro

O Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, desde a década de 1990 acumulava entulho gerado pela demolição de residências e também detritos domésticos jogados pelos moradores. Por volta de 2006, um morador da comunidade resolveu mudar a situação. Após seis anos de mobilização e trabalho, com apoio de mutirões locais e dos garis comunitários, 16 toneladas de lixo e escombros foram retirados. A área batizada como Parque Ecológico do Sitiê, em 2016, foi reconhecida oficialmente pelo governo do Rio de Janeiro.  
 
3) Lixão Aguazinha - Recife

Após atender Olinda desde 1986, o Lixão de Aguazinha encerrou as atividades em 2017. O antigo lixão passa por um processo de recuperação executado pela Prefeitura de Olinda. No local, além da cobertura dos resíduos, também está sendo realizada o plantio de árvores nativas e gramas. Um empresa é responsável pela análise do chorume e vai ao lixão uma vez por mês. 


 

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