Fortaleza registrou 1.602 novos casos de tuberculose em 2018

No ano passado, a incidência foi de 60,6 casos a cada 100 mil habitantes. Segundo especialistas, a doença está diretamente ligada a indicadores sociais, que também influenciam na adesão ao tratamento

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br

À espreita pelos ares há mais de mil anos, a tuberculose resistiu às barreiras do tempo, modificando-se e acompanhando a evolução do ser humano. A cura para a doença causada pelo bacilo de Koch - ou Mycobacterium tuberculosis - já existe, mas a enfermidade ainda se faz notar em números. No ano passado, 1.602 novos casos de tuberculose foram registrados em Fortaleza, com incidência de 60,6 casos a cada 100 mil habitantes.

Os índices foram o foco de debates durante o 1º Fórum Temático "Tuberculose em Fortaleza: o controle é possível". O evento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ocorreu na Escola de Saúde Pública do Governo do Estado, ontem (29).

Para o coordenador das Redes de Atenção Primária e Psicossocial da SMS, Rui de Gouveia, a taxa de incidência está acima do esperado, principalmente se comparada ao que é observado em países com baixa transmissão, nos quais são registrados menos de 15 casos por 100 mil habitantes.

Sociais

"Isso mostra uma endemicidade grande em Fortaleza. Há uma queda nos casos, mas muito baixa ainda para o que a gente pretende alcançar. Se otimizarmos as estratégias, estima-se que a gente consiga atingir esses índices mais satisfatórios", diz. Segundo ele, a meta é chegar a 10 casos por 100 mil habitantes, até o ano de 2035.

Um dos principais desafios para a redução da incidência é manter os pacientes em tratamento. Por se estender, em média, ao longo de seis meses ininterruptos, muitas vezes o processo de cura não é conduzido até o fim, sendo frequente a desistência por parte dos próprios pacientes.

"A tuberculose é um problema mundial, que está em ascendência por questões muito mais sociais. São pessoas em situação de rua, que foram abandonadas ou abandonaram suas famílias, são usuários de drogas. Esses são os mais difíceis de tratar. É preciso que eles venham ao sistema de saúde, que persistam com o tratamento", ressalta Anamaria Cavalcante e Silva, coordenadora de Ensino, Pesquisa e Projetos Especiais da Secretaria.

O impacto de fatores sociais e sua correlação com os casos de tuberculose são reforçados por Rui de Gouveia. De acordo com o médico, é possível sobrepor os mapas de tuberculose, de homicídios na adolescência e de assentamentos precários. "Os mesmos locais que têm um, têm os outros".

Ações

Conforme o coordenador das Redes de Atenção da SMS, as ações a serem conduzidas para reduzir o número de casos dividem-se em três eixos: o primeiro diz respeito ao comportamento dos profissionais de saúde, que devem colocar o paciente no centro da ação, compreendendo os problemas multifatoriais que culminam na doença.

"O segundo eixo refere-se à política, no sentido da gestão pública, no sentido de colocar a tuberculose como prioridade nas ações de saúde, de fazer uma integração entre todos os órgãos que trabalham no Município, não apenas a SMS, mas a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimentos Social, a Infraestrutura, tudo que possa contribuir para que se consiga efetivar o tratamento das pessoas", diz.

A pesquisa e inovação vêm como o fator final, considerando que, com o avanço dos estudos, será possível identificar alternativas que melhorem a adesão ao tratamento e a eficácia de combate ao bacilo, sem causar um impacto tão grande à saúde dos pacientes.

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