Fortaleza não avança na expansão da cobertura vegetal

A Capital segue com 8 m² de área verde por habitante, marca atingida em 2015. No último ano, foram plantas apenas 35 mil mudas, bem abaixo da meta que previa 120 mil. Para especialistas, o índice reflete a ausência de políticas públicas específicas

Escrito por Felipe Mesquita , felipe.mesquita@verdesmares.com.br
Legenda: O Cocó é um dos 23 parques municipais regulamentados. O número continua o mesmo desde 2015
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Apesar de possuir um Plano Municipal de Arborização, Fortaleza não conseguiu expandir sua cobertura vegetal nos últimos quatro anos. A Capital ainda continua com 8m² de área verde por habitante, marca alcançada ainda em 2015. O mínimo preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 12 m² de área verde por cada morador, mas o ideal é de 36 m².

Segundo especialistas, tal estagnação ameaça o ecossistema urbano, sobretudo na cidade em que as obras de requalificação ou mobilidade viária quase sempre forçam o corte de plantas.

A mais recente baixa na flora local aconteceu no início do mês passado, quando, pelo menos, 50 árvores adultas foram retiradas da Beira-Mar. A intervenção faz parte do projeto de reestruturação da área que terá calçadas acessíveis, nova iluminação, fiação interna, quiosques padronizados e bolsões de estacionamento. De acordo com o secretário da Regional II, Ferruccio Feitosa, para cada árvore cortada serão replantadas outras dez.

Embora seja verbalizado com frequência pelas autoridades, o plantio de mudas nem sempre é executado. Enquanto a meta estipulada no Plano Plurianual do Município (PPA) era semear 120 mil árvores em 2018, Fortaleza teve o incremento de 35 mil mudas, segundo a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), uma diferença de 70% no número de plantas.

Área

Ainda que tivesse cumprido a meta anual, Fortaleza não conseguiria expandir o território da vegetação local. "O índice de área verde por habitante não é calculado por árvore plantada e sim por áreas verdes protegidas, regidas por lei. E estas áreas permanecem as mesmas desde 2015", esclarece a Pasta, referindo-se aos 23 parques municipais regulamentados.

"Mesmo assim, é importante arborizar a cidade, principalmente a nossa, que enfrenta problemas de inundação e de impermeabilização do solo, porque a cobertura vegetal faz as conexões com o subsolo e o lençol freático, e quando elas estão conectadas, amenizam o clima. Se nada for feito, prejudica a qualidade de vida das pessoas", explica o professor Jeovah Meireles, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará.

Para o geógrafo, não adianta plantar árvores sem ter uma política pública concreta para preservação ambiental. "Precisamos de uma completa reestruturação das áreas úmidas da cidade, arborização das bacias hidrográficas e desmatamento zero. Isso vai minimizar as enchentes e as doenças respiratórias", argumenta.

Na contramão da fala do especialista, o plantio na Capital entre 2015 e 2016 ocorreu com outro fim: em dois anos observados no Sistema de Informações Ambientais de Fortaleza (Siafor), 10.238 árvores foram plantadas para diminuir danos ambientais em obras de caráter público e outras 438 com foco na educação ambiental.

"Fortaleza não necessita desse tipo de intervenção de compensação de áreas desmatadas. A política de arborização deveria se antepor ao processo de desmatamento e da retirada da cobertura vegetal. A cidade ainda tem como prioridade a especulação imobiliária vinculada à abertura de vias", ressalta Jeovah Meireles.

E é nas obras de mobilidade urbana onde se concentram o maior volume de queixas. Segundo o presidente do Movimento Pró-Árvore, Iderlandio Morais, a problemática se acentua porque os projetos das intervenções para melhoria do tráfego de veículos na Capital "são feitos na base do concreto e não deixam espaço para arborização. As poucas árvores que ficam, eles estão derrubando e não recuperam da forma correta".

Como exemplo, ele cita a Avenida Bezerra de Menezes, importante via comercial da cidade, que teve a supressão de 90 árvores à época da construção do BRT, em 2014. Neste ano, a obra já concluída voltou a repercutir negativamente entre os ambientalistas após a implantação de jardins de plástico entre as estações do corredor expresso. As plantas artificiais já foram trocadas por naturais, nos canteiros.

Cuidados

O próprio Plano de Arborização de Fortaleza prevê o incentivo de plantios, mas conforme o engenheiro agrônomo Antônio Sérgio Farias, também do Pró-Árvore, nem mesmo a vegetação antiga recebe cuidados da Prefeitura: há avenidas tomadas de espécies invasoras, como nim indiano, mata-fome e leucena, além de árvores mortas.

"Todas precisam ser retiradas e substituídas por árvores nativas ou até exóticas, desde que não sejam invasoras, um flamboyant, por exemplo. Sem falar nas plantas mortas, que estão prestes a cair na nossa cabeça, como na Padre Antônio Tomás e na Treze de Maio. Só há interesse em transformar a cidade em um grande canteiro de obras", critica o ambientalista.

A Autarquia de Paisagismo e Urbanismo de Fortaleza (Urbfor) informou que as árvores mortas são imediatamente suprimidas quando identificadas. Já sobre as espécies transplantadas, o órgão garante o acompanhamento. "É a partir do monitoramento que é avaliado os ajustes na adubação, irrigação e fitossanidade, especialmente no primeiro ano após o transplante".

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