Fortaleza lidera no País em cobertura do tempo integral

Rede municipal teve incremento de matrículas da modalidade e é destaque entre as capitais brasileiras, segundo levantamento do Inep. Em números absolutos, município ocupa a segunda posição, atrás apenas do Rio de Janeiro

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@verdesmares.com.br
Legenda: Alunos da Escola de Tempo Integral Maria Odete Colares, no Bairro Messejana, inaugurada em março de 2018
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Dados preliminares do Censo Escolar 2019, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam que Fortaleza se tornou, neste ano, a capital brasileira com maior cobertura percentual de matrículas de tempo integral. Hoje, o percentual contempla 41,3% de atendimento na rede municipal, ficando à frente de cidades como Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ao todo, dos 208.544 matriculados, 86.121 participam do modelo. 

A Capital cearense também passou para 2º lugar no ranking de números absolutos de matrículas na modalidade, segundo o levantamento. O município só fica atrás do Rio de Janeiro, que possui 197.357 dos 610.855 estudantes matriculados em escolas de tempo integral.

Os dados indicam avanço em relação ao Censo de 2018. O levantamento anterior mostrou que, em um ano, o total de matrículas em Escolas de Tempo Integral (ETIs) cresceu 20,2%, passando de 56.065, em 2017, para 67.417, em 2018 - um acréscimo de mais de 11,3 mil estudantes. Na ocasião, Fortaleza se enquadrava na 3ª capital do Brasil e 1ª do Norte e Nordeste em matrículas no tempo integral.

Conforme a titular da Secretaria Municipal de Educação (SME), Dalila Saldanha, a modalidade é uma das principais estratégias para o fortalecimento da aprendizagem e para o desenvolvimento da criança com base na proficiência exigida para cada série. Para ser caracterizada como tempo integral, é necessária a permanência de, pelo menos, 7 horas diárias na escola.

Rede

Hoje, o parque escolar de Fortaleza conta com 23 escolas exclusivas de tempo integral e 161 escolas de educação infantil que atendem, nessa modalidade, crianças de 1 a 3 anos de idade (hoje, mais de 70% das matrículas nessa etapa são da modalidade). "Além disso, todas as escolas de tempo parcial têm jornada ampliada de mais 15h", explica a secretária, detalhando a separação em três horas diárias a mais, por semana.

Esta terceira estratégia faz parte do programa "Aprender Mais", de contraturno escolar, que atende a mais de 70 mil alunos na Capital. "Trabalhamos com o fortalecimento de Português e Matemática (das 15 horas extras, 8 horas são para elas), e as outras são voltadas para áreas interdisciplinares", detalha Saldanha. A lista inclui matérias de esportes, arte (música, teatro), tecnologia, educação patrimonial e até mesmo combate às arboviroses, como dengue e chikungunya.

Para Thaiane Pereira, coordenadora de projetos do Movimento Todos pela Educação, a escola integral "não é só mais tempo na escola", mas pressupõe características como o protagonismo do aluno, maior flexibilidade no processo de aprendizagem e maior diálogo com os professores e com a própria família - sem "terceirizar" responsabilidades, mas agregando-a como componente importante no projeto pedagógico.

"Não são variáveis fáceis de implantar, mas que fazem diferença na vida dos jovens. O modelo tem se provado positivo; os resultados educacionais do Ideb mostram que as ETIs têm indicadores melhores", explica a coordenadora, salientando que os estudantes do tempo integral têm mais chances de ingressar no Ensino Superior e podem contribuir, consequentemente, para diminuir as desigualdades sociais.

Investimentos

"Nas escolas de tempo integral, a proposta pedagógica é toda integrada com o currículo das disciplinas obrigatórias. O modelo contempla o projeto de vida e valoriza o protagonismo dos estudantes; eles mesmos escolhem as disciplinas eletivas, aquilo que eles desejam. Na educação infantil, além das áreas obrigatórias, é contemplado o brincar, as relações e o autodesenvolvimento da criança", diz a secretária Dalila Saldanha.

Mais tempo na escola também representa um peso maior nas contas da educação: precisa-se de mais educadores, mais insumos de trabalho, mais merenda escolar. Na educação infantil, o custo chega a ser 60% maior do que no turno parcial, de acordo com Dalila. No entanto, "a gente considera que é um investimento e que vale a pena priorizar", aponta.

Parte do modelo é custeado com dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O montante é completado com recursos do próprio Município. A titular da SME garante que a ampliação do tempo integral será gradativa. A meta é chegar a 50% de atendimento da rede pública em 2020, correspondendo a pouco mais de 100 mil matrículas.

Thaiane Pereira, do Todos pela Educação, defende que haja uma boa gestão orçamentária para alocar bem os recursos existentes e prospectar novas fontes de financiamento. "É importante investir mais em modelos de indução do tempo integral. Quando isso se reverte para alunos e professores, precisa ser prioridade", ressalta.

Além disso, a coordenadora de projetos destaca que, para uma escola operar em tempo integral, é preciso ter garantida uma infraestrutura mínima. "Elas precisam de quadra decente, de laboratórios decentes. Isso não pode ser um problema nem para escolas de tempo parcial. Por isso, os programas de apoio são tão importantes, tanto do ponto de vista financeiro quanto de apoio técnico", completa.

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