Fauna urbana e fragmentos florestais estão ameaçados

Escrito por Redação ,
Legenda: Muçuã (Kinosternon Scorpioides)
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Para contrapor os crimes ambientais que vêm ocorrendo na cidade, Correios devem construir uma Reserva Ecológica

Os constantes desmatamentos das áreas verdes em Fortaleza comprometem a fauna urbana e fragmentos florestais no perímetro urbano, que correm o risco de desaparecimento. Tudo em nome da especulação imobiliária e contando com aval do poder público.

Na Capital cearense há cerca de 250 tipos de vertebrados, sem contar com insetos e peixes. São 133 espécies de aves, 39 mamíferos, 40 répteis, 20 anfíbios, segundo dados do Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) e do wiki aves. Temos ainda 21 tipos diferentes de serpentes, 12 de lagartos, três de tartarugas terrestres, 20 de morcegos, 12 de roedores, um primata, um tatu e três marsupiais.

O grave, segundo ambientalistas, é que a maioria está ameaçada, porque ao se derrubar árvores, especialmente as frutíferas, a reposição de mudas não permite a transferência da fauna para as novas plantas.

Comprometimento

Segundo o biólogo e consultor ambiental Thieres Pinto, os espaços verdes estão diminuindo cada vez mais na cidade. A urbanização está passando por cima de tudo. "Nossas áreas verdes têm que ser consideradas pelos órgãos públicos, pela iniciativa privada e incorporadas aos espaços urbanos. Afinal, elas são importantes para a preservação da flora, já que contêm espécies exóticas e nativas. Além de conservar a diversidade da fauna".

A preocupação do biólogo é quanto ao desconhecimento da população sobre a importância da fauna e flora e, portanto, da necessidade de preservá-los. Thieres Pinto alerta para o mapeamento urgente de todas as áreas públicas da cidade pela Prefeitura, identificando os espaços prioritários para serem conservados no Município.

"Aí poderia se estipular a inclusão dessas áreas no planejamento urbano de Fortaleza e aproveitá-las para a promoção do lazer e do turismo", argumentou o biólogo. "A iniciativa privada também teria sua participação, contribuindo para conservação dos equipamentos e parques para que a população pudesse usar para fazer trilha, caminhada e exercícios.

O vigilante Aldemir da Silva Alves, 26 anos, residente na Lagoa Redonda, afirma ser comum encontrar em sua área de trabalho, no entorno de dois terrenos localizados em seu bairro, guaxinim, raposa, galinha-d´água, gavião, preá, tejo e camaleão. Na madrugada, alguns desses animais vêm para o córrego e depois retornam.

Conservação

"Nossas áreas verdes têm que ser consideradas pelos órgãos públicos e iniciativa privada"

Thieres Pinto
Biólogo e consultor ambiental

PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

Correios devem criar Reserva na Oliveira Paiva

Na Avenida Oliveira Paiva, um imenso terreno mantido pelos Correios, desde 1951, abriga não apenas uma relíquia ambiental, como uma diversidade de fauna. Ao todo, são 23 hectares de área. O diretor regional do órgão, José Estevam Tomaz, informou, que a direção nacional está determinada em criar no imóvel a primeira Reserva Correios do Brasil e sua criação seria já no próximo ano.

No terreno dos Correios, a presença de vegetação típica do bioma Cerrado é fator diferencial, já que esse tipo de paisagem é característico da Região Centro-Oeste do Brasil, com incidência apenas no Sul do Maranhão e Oeste do Piauí. Alguns tipos de insetos quase extintos, como vaga-lumes e gafanhotos são vistos. Réptil, como o calango-do-rabo-vermelho (Vanzosaura rubricauda) também é encontrado.

Estevam Tomaz assegurou que essa pretensão já é antiga, se arrastando há quase uma década. De positivo, lembra que a decisão de cercar a área foi um passo importante, em vista da necessidade de reduzir as agressões que a área vinha sofrendo por queimadas criminosas e transformando a mata em ponto de lixo.

Para a cerca será gasto um valor estimado em R$ 500 mil. No entanto, os investimentos deverão ser bem maiores quando a Reserva for aprovada por todas as instâncias do poder público. Atualmente, vem sendo avaliada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura (Seinf).

"Caso a administração municipal, juntamente com a Câmara de Fortaleza, aprove nosso projeto, a ideia é que o planejamento do parque aconteça já no próximo ano, com dotação orçamentária para iniciarmos os estudos e a metodologia para a instalação do parque", afirmou o diretor regional dos Correios.

Tomaz explica que no primeiro momento os estudos serão no sentido de definir o que se deve fazer naquele espaço, levando em consideração a possibilidade de plantio de mudas típicas do bioma do cerrado. Uma outra alternativa prevista para o parque é que haja uma definição da lei municipal, que classificou parte daquela mancha de interesse ambiental.

Ele alerta que parte do espaço já foi alterado pelo homem e a área pode ser utilizada para a construção de equipamentos necessários para a Empresa. "Nossa superintendência em Brasília tem interesse nesse projeto, porque já vem atuando na questão do Sistema de Gestão Ambiental, aprovado em 2010".

SOBREVIVÊNCIA

Iniciativa recebe apoio de biólogo

O biólogo Thieres Pinto entende que a criação do parque chegaria em boa hora, haja vista que os desmatamento e destruição de espaços verdes cada vez mais impõem adversidades para a sobrevivência da vegetação e da fauna urbana em Fortaleza.

Ele acompanhou a reportagem do jornal ao local, na noite da quarta-feira passada e nas primeiras horas da manhã de ontem. O objetivo era constatar os hábitos noturnos e diurnos da fauna.

No caso do parque, ele ressalta que a diversidade animal causa admiração, inclusive, para o fortalezense, que desconhece a existência de, pelo menos, 133 espécies de aves, 39 de mamíferos, 40 répteis e 20 anfíbios na Capital.

Boa parte desses espécimes pode ser encontrada na área mantida pelos Correios. Mas lamenta que a agressão vem acontecendo com muito mais velocidade do que medidas preservacionistas. "Há pouco tempo, uma área grande foi devastada na Aldeota, e o laudo constatou que não havia fauna. Isso é um absurdo, porque onde há uma árvore já existe uma cadeia alimentar envolvendo os bichos", afirma o biólogo.

Ele chama a atenção de que o espaço é também um lugar para se aprender mais sobre a natureza. Afinal, detém espécies do bioma Cerrado, dentro do ecossistema tabuleiro.

Essa junção de vegetações com características distintas faz com que se tenha uma paisagem única na cidade. A vegetação, composta por janaguba, junco e lírio-do-cerrado, entre outros, dá abrigo e alimentos para animais como raposas, guaxinins, preás, tejos e pebas, além de centenas de espécies de aves, inclusive corujas.

Atualmente, o terreno vem sendo cercado, com o material semelhante ao que protege o Parque do Cocó. No entanto, ainda há receio da comunidade local em adentrar o local, por medo de marginais e pela falta de orientação e trilhas.

ADALMIR PONTE E MARCUS PEIXOTO
REPÓRTERES

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