Famílias em áreas de risco ainda sofrem por efeito da enchente

Moradores das comunidades do Conjunto São Cristóvão e João Paulo II estão entre os desalojados. Defesa Civil não sabe precisar o número de famílias afetadas. Prefeito de Fortaleza anunciou ações assistenciais

Escrito por Bárbara Câmara / Renato Bezerra / Thatiany Nascimento , metro@verdesmares.com.br

Se para a população como um todo a forte chuva que atingiu Fortaleza, entre o último sábado (23) e o domingo (24), trouxe apenas ocorrências pontuais, estar entre as mais de 21 mil famílias morando em umas das 89 áreas de risco da cidade é ser obrigado a conviver, por mais tempo, com as consequências do acumulado. As comunidades do Conjunto São Cristóvão, Conjunto Palmeiras e João Paulo II, em especial, ainda amargam o transbordo da barragem do Rio Cocó, fato que contribuiu para o alagamento de casas e o desalojamento de moradores.

A Defesa Civil de Fortaleza segue no diagnóstico das ocorrências, mas até o fechamento desta edição não tinha o número fechado de pessoas que tiveram que deixar suas casas. No fim da tarde de ontem, segundo o órgão, as equipes ainda atendiam os chamados do domingo, com, até então, 102 famílias desalojadas, quando as pessoas evacuam preventivamente a moradia até o retroceder das águas. Parte delas se encontram abrigadas no Cuca do Jangurussu.

Inaugurada em 2017, a barragem do Cocó tem como exata função a de reter o excedente de água nos períodos chuvosos, mas segundo explica o diretor de operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Bruno Rebouças, sozinha não tem a capacidade de evitar um alagamento. "Se a barragem não existisse, possivelmente essa cheia teria sido maior", diz.

Nesse caso, a incidência de vários fatores, segundo explica, dificultaram o amortecimento das cheias. Entre elas, a maré de sizígia, de amplitude maior, que favorece o bloqueio das águas que seguem para o mar.

Prejuízos

As famílias prejudicadas acumulam prejuízos, com móveis, eletrodomésticos, roupas e documentos perdidos. Na Avenida Governador Leonel Brizola, no Conjunto São Cristóvão, o desespero se instalou por volta das 4h da manhã do domingo (24). Moradores ergueram-se de suas camas ao serem surpreendidos pela água barrenta que avançava pelos cômodos.

Manchas úmidas nos muros e paredes de imóveis espalhados pela avenida e vias adjacentes, no Jangurussu, marcavam a altura exata que o volume de água atingiu, após passar um dia inteiro acumulada. Moradores confirmaram, a partir de suas próprias experiências, que o volume só começou a diminuir a partir de 23h. "Eu moro com a minha esposa e três filhos e nós perdemos praticamente tudo. Estou estimando um prejuízo de mais ou menos cinco mil reais. De alimentos, a perda foi total", relata o eletricista Aldo Lima, 45.

Sobre o que foi possível preservar, o pedreiro Necildo da Silva, 45, respondeu com um riso conformado. "Só a vida". Segundo ele, a última vez em que o bairro sofreu com efeitos das chuvas foi em 2002, antes mesmo da construção da barragem do Rio Cocó. Na época, porém, os danos não foram tão drásticos. "A gente perdeu três camas ontem. Só se salvou a caminha menor, do meu filho, que deu pra levantar acima da água".

Moradores informaram, ainda, que o Corpo de Bombeiros foi acionado mais de uma vez ao longo do domingo, com a promessa de que uma equipe compareceria ao São Cristóvão em breve. Mas até as 12h dessa segunda-feira (25), a população ainda aguardava.

Pela manhã, no entanto, o prefeito Roberto Cláudio visitou famílias alojadas no Cuca do Jangurussu, anunciando medidas para os próximos dias. Entre elas, o envio à Câmara Municipal do projeto de lei emergencial para tratar das indenizações às vítimas. Para isso, moradores devem comparecer ao equipamento municipal para realizar um cadastro, por meio do qual serão viabilizadas as visitas técnicas nos imóveis. "A gente precisa fazer um laudo para identificar e não correr o risco de pagar para quem não foi prejudicado ao invés de pagar para aquele que sofreu e perdeu as suas coisas", disse o prefeito.

A Prefeitura também prometeu fornecer colchonetes, redes, roupas e cestas básicas para as famílias prejudicadas. O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) também estará durante a semana no local para solicitações de 2ª via de documentos perdidos na enchente.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.