Falta de profissionais afeta Unidades de Vigilância de Zoonoses

Além da ausência de médicos veterinários em quatro dos nove equipamentos destinados ao atendimento clínico de cães e gatos, a infraestrutura debilitada e a falta de segurança prejudicam o serviço prestado à população

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Infiltrações e rachaduras evidenciam o cenário da Unidade de Vigilância de Zoonoses do Posto de Saúde Maciel de Brito
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Destinado ao atendimento clínico gratuito, dentre outros, para cães e gatos, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e as Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ) de Fortaleza já não são, como um todo, sinônimo de apoio à população. Dos oito equipamentos, cinco funcionam sem a presença de veterinários, o que inviabiliza a realização de consultas nos locais. Danos à infraestrutura e falta de segurança também afligem severamente duas das unidades.

A reportagem visitou o CCZ e as sete Unidades de Vigilância de Zoonoses da Capital, e conversou com funcionários que preferiram não ser identificados. Falta de profissional, infiltrações, goteiras e rachaduras evidenciam o cenário debilitado da UVZ do Posto de Saúde Maciel de Brito, no Conjunto Ceará. Há dois meses, o atendimento foi restrito à aplicação de vacina antirrábica e de medicamentos mediante receita médica e realização de exames de calazar, uma vez que o veterinário deixou de trabalhar no local. Cerca de 10 a 15 pessoas comparecem à UVZ diariamente em busca de consultas.

Durante as chuvas, parte da estrutura da unidade é comprometida por alagamentos, forçando a saída dos funcionários. Em uma parede dos fundos, uma antiga porta foi selada por tijolos para evitar os arrombamentos e roubos frequentes - uma televisão, um botijão de gás e materiais de limpeza já foram levados.

Insumos

Já na UVZ do Distrito Técnico de Endemias, no Autran Nunes, além da ausência de veterinário desde fevereiro, faltam insumos como álcool e algodão para realizar até serviços mais simples.

Desde o dia 1º de abril, a unidade do Posto de Saúde João Medeiros, no Vila Velha, funciona sem veterinário, também restrita aos exames de calazar e aplicação de vacina antirrábica. Antes, a UVZ costumava realizar 30 a 40 consultas diárias.

Funcionando em uma pequena casa com apenas três cômodos, a UVZ do José Walter está sem água encanada e energia há cerca de 20 dias, segundo relatos. "Apesar desse problema, essa UVZ é uma das que mais funciona, comparada com outras unidades. Mas não está afetando nosso atendimento, a casa vizinha está fornecendo água pra gente", comenta um funcionário.

Outro gargalo também pode ser observado. Em algumas unidades não há soro antirrábico para humanos. Apenas dois locais em Fortaleza disponibilizam o medicamento, a UVZ do Centro da Capital e o Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), na Parquelândia. "A pessoa é mordida aqui no José Walter e tem que se deslocar lá pro Centro pra poder tomar a antirrábica. É complicado".

Enquanto a reportagem estava no local, a técnica de enfermagem Andreia Rodrigues Siqueira Araújo, 46, levava a gata Violeite para fazer o exame de calazar. "Salvei ela de uma enchente na rua, então tenho que trazer ela aqui. Tenho outros animais e sempre trago eles aqui que o atendimento é rápido e nunca falta nada", conta.

Em Messejana, de acordo com um funcionário, a UVZ atende em média 30 a 40 animais, entre cães e gatos, principalmente. Na unidade do Posto Paulo Marcelo, no Centro, funcionários confirmaram a ausência do médico veterinário desde fevereiro, por problemas de insalubridade. Na última sexta-feira (26), quando a reportagem esteve no local, a sala destinada ao atendimento estava fechada.

"Não tem veterinário porque está totalmente insalubre, com infiltração, tudo mofado por dentro e não tem condição de trabalhar ali. Só tem os meninos da Zoonose, que dão vacina contra raiva para os animais, mas só pela manhã. Já solicitamos e veio uma equipe para fazer uma geral e providenciar uma reforma. Estamos esperando. O veterinário não volta se não tiver reforma porque realmente não há condição de trabalhar. Ele até ficou doente", comenta uma das funcionárias.

Na Cidade 2000, a unidade de Zoonose anexa ao Posto de Saúde Rigoberto Romero estava aberta na última sexta-feira (26) para vacinas. Segundo um funcionário, o atendimento ocorre apenas no turno da manhã. A unidade do Itaperi é a sede das UVZs e conta com atendimento de veterinários e vacinadores em ambos os turnos e também no fim de semana (domingo até 12h).

Providências

Segundo o coordenador de vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Nélio Moraes, a Prefeitura reconhece tanto os gargalos estruturais como os relativos aos recursos humanos. No caso da falta de estrutura, ele explica que o Município deverá resolver a situação da falta de energia e água no José Walter, pois a unidade está vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e um processo já está aberto para recuperar os serviços.

A Unidade vinculada ao Posto Paulo Marcelo, no Centro e a do Conjunto Ceará são, segundo Nélio, as que apresentam demandas mais urgentes por obras. "O que temos é um recurso do BRICS para reformas e ampliação. Mas as obras com esse recurso não vão acontecer em 2019. Não temos perspectiva, mas a partir de 2020 sim", explica. Mas, procedimentos emergenciais devem ser realizados nas duas unidades com recurso do próprio município no mais tardar em 120 dias, acrescenta.

Em relação à falta de veterinários, a situação, garante Nélio, se deve a uma série de aposentadorias. Em 2014 e 2019, 14 veterinários aposentaram-se. Outros dois que estão em atividade já estão na lista da aposentadoria. Hoje, a SMS precisa contratar oito profissionais para, somados aos 12 componentes do atual quadro, atenderem à rede. A realização de um concurso é idealizada. Enquanto isso, a Prefeitura afirma que fará contratações pontuais sem definir prazos específicos.

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