Falta de estrutura afeta profissionais e ações de salvamento em praias

Guarda-vidas denunciam insuficiência no efetivo, problemas estruturais nas torres de observação e falta de materiais básicos para realizar salvamentos; Corpo de Bombeiros admite más condições dos postos

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Na Praia do Futuro, além da estrutura precária, todos os postos estavam sem efetivo
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Quantidade de guarda-vidas insuficiente para a extensão da orla, torres de observação com estruturas desgastadas e sem manutenção, e falta de materiais básicos para trabalho, como fardamento, protetor solar "de qualidade" e nadadeiras. As queixas, sobretudo a primeira, são repetidas em uníssono por profissionais de salvamento aquático das Praias de Iracema e Barra do Ceará, tarefa realizada pela Guarda Municipal de Fortaleza (GMF).

A reportagem do Diário do Nordeste percorreu, durante dois dias, a orla de Fortaleza e constatou a situação. No Litoral Oeste, dois postos da Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA) da GMF, cada um com dois guarda-vidas, dão conta de supervisionar toda a extensão da Praia da Barra do Ceará. Na Praia da Leste Oeste, não há nenhum.

No Aterro da Praia de Iracema, fica o terceiro posto, seguido de outros quatro ao longo da Beira Mar. De acordo com um dos profissionais, que preferiu não se identificar, os sete postos se distribuem em 12 Km de praia - e nem sempre há guardas lotados neles. "Tem alguns fechados, porque o número de profissionais é insuficiente, não tem efetivo. E aqui é uma área onde acontecem muitos afogamentos. Estamos há quatro anos sem receber fardamento. A gente faz um, improvisa. O protetor solar que dão ninguém usa, compra o próprio, porque sai na água. Nadadeiras e flutuador estão ficando inutilizáveis. Nas torres, não dão manutenção nenhuma: o teto de uma caiu e a gente teve que ajeitar", descreve um dos agentes.

Outro profissional da GMF, de identidade também preservada, reforça as reclamações, declarando ainda que "15 integrantes da inspetoria, cujo pelotão já estava pequeno, foram retirados da praia, deixando a área descoberta".

"Às vezes, um guarda sozinho consegue dar conta, mas com ajuda de um surfista ou outro banhista. Só que isso é um perigo grande, porque sem preparo, o ajudante pode se tornar outra vítima. E se atender afogamento com uma pessoa já é difícil, se for duplo ou triplo se torna quase impossível", avalia o guarda-vida.

Vítimas

Outro profissional, que também terá a identidade preservada, admite estar preocupado com a proximidade da alta estação. "Principalmente, para os guarda-vidas que trabalham na Praia de Iracema e Náutico, locais onde cresce bastante o número de turistas nessa época. Estamos com o efetivo bastante reduzido, caiu em torno de 50% em relação a 2016. Tememos não somente por nós, mas por toda a população que será prejudicada se essa situação continuar", enfatiza.

Em nota, a GMF garante que "a ISA atua com uma média de dois guardas por posto, para garantir a segurança dos banhistas na área compreendida entre a Barra do Ceará e a Praia do Náutico, no horário de 9h às 17h". Também afirma que todo o equipamento necessário é fornecido aos profissionais.

Com relação aos 15 guardas supostamente retirados das atividades na orla, a Guarda esclarece que "estão participando, temporariamente, de um novo curso de capacitação", mas não informa se eles retornarão ao litoral.

O total de profissionais que compõem o efetivo de salvamento não foi confirmado pela GMF. A instituição informou, porém, que mais de 170 atendimentos de afogamentos, sem vítimas fatais, foram realizados, de janeiro a julho de 2019, no trecho (de praias) pelo qual a ISA é responsável. No ano passado, foram 400 "resgates, ações preventivas e participação em eventos e projetos (não especificados)".

Na outra ponta do litoral alencarino, a Praia do Futuro, alguns dos problemas persistem: como as más condições das torres de observação, destruídas dia a dia pela ação do vento e da maresia. A falta de manutenção contribui para completar o cenário de tetos desgastados, repletos de buracos; estruturas corroídas por ferrugem; escadas com degraus incompletos e, ainda, partes de madeira arrancadas. O cenário de abandono se completa com a ausência dos profissionais, que deveriam atuar das 9h às 17h - mas não foram vistos pela reportagem, na manhã de ontem.

Na Praia do Futuro, o dever de salvaguardar banhistas é de 93 agentes do Corpo de Bombeiros Militar (CBM-CE), distribuídos em dez postos. Segundo o comandante da 1ª Companhia de Salvamento Marítimo, major Chailon Fonteles, o motivo da ausência na terça-feira (8) foi excepcional: "o efetivo estava em reunião no quartel". Quanto à precariedade das torres, o comandante é categórico: "já estão inviáveis para trabalho".

"As torres foram feitas há quase 20 anos, não são adequadas, já foram 'engolidas' pelas barracas e pelos coqueiros. São muito altas, a escada é escondida, de modo que o guarda-vida perde a visão da vítima ao descer. Estamos batalhando para que, em dezembro, na Operação de Férias, novas torres, mais baixas, já estejam instaladas", estimou.

Em novembro do ano passado, as dificuldades do trabalho de salvamento aquático no Litoral Leste - inclusive pelo avanço excessivo das barracas de praia - já haviam sido denunciadas pelo Diário do Nordeste. Na ocasião, o Ministério Público Federal (MPF) estimava que uma definição sobre o ordenamento da praia deveria ser firmada até abril deste ano.

Isso aconteceria por meio de um Termo de Referência, que poderia regularizar as barracas, normatizando pontos como a distância até o mar, a altura e área permitida para construção. Quase um ano depois, nada mudou.

A reportagem também solicitou à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) o número de óbitos por afogamento na orla da Capital, nos últimos três anos, mas os dados não foram respondidos até o fechamento desta edição.

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