Exclusão digital cria um novo tipo de analfabetismo

Escrito por Redação ,
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Foto: Stênio Saraiva

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo 2000, 10% das residências do País possuem microcomputadores, sendo que 8% com acesso à Internet. Dos lares com computador, 25,5% ficam no Distrito Federal, 14,6% no Sudeste e 4,3% no Nordeste. Apesar de o Brasil estar mais conectado que muitos países latino-americanos e da África, milhares de brasileiros ainda estão desconectados, aumentando o problema da exclusão digital, que é um dos mais duros golpes da propalada globalização nos países pobres. Hoje, as novas tecnologias, a exemplo da internet, desempregam tanto quanto fez a máquina a vapor na época da Revolução Industrial. Concebida nos anos 60, com a promessa de democratizar a informação e aproximar as pessoas, os mercados, diminuir as distâncias e facilitar a vida das pessoas, hoje, o que se observa é que ela acirra ainda mais o fosso entre ricos e pobres, aumentando a exclusão. No Brasil, onde a exclusão digital é apenas uma das tantas outras — educação, saúde, moradia, emprego e comida — ela cria um novo tipo de analfabetismo: o digital. Para alguns teóricos, a exclusão digital pode ser considerada o analfabetismo do século XXI. Outros, chamam a atenção para o “apartheid da informática”, problema típico da sociedade de informação. São pessoas que não têm acesso ao mundo digital, que aliás, não é nenhum bicho-de-sete-cabeças ou uma nova descoberta da pólvora. É apenas a continuação do progresso tecnológico como televisão, fax, telex e telefone. O mais grave é que o mercado de trabalho fica cada vez mais exigente e, como não há emprego, utiliza exigências que não são ofertadas à população, como o acesso à Internet. A exclusão digital pode acabar virando um filão de mercado e mais um “produto” lucrativo. Nas periferias, os preços dos cursos variam entre R$ 15,00 a R$ 20,00 e cada vez mais surgem os “cyber cafés”, cujos preços chegam até R$ 2,00 a hora.

Conceito de escola foi ampliado na era da revolução tecnológica

Estar ou não incluído no mundo digital. Esta é a condição para muitos brasileiros saírem de uma nova categoria de analfabetismo: o funcional. É que algumas pesquisas estão incluindo na categoria dos analfabetos funcionais aquelas pessoas consideradas “off-line” (desconectadas) de determinadas ações básicas, como por exemplo, acessar um caixa eletrônico, inserir um cartão pré-pago ou executar funções elementares de um telefone celular. Só que essa situação ainda é pior para um determinado público no Brasil, os adolescentes e jovens.

São consideradas analfabetas funcionais aquelas pessoas que sabem ler, mas não são capazes de compreender o que está escrito. O fenômeno foi identificado nos Estados Unidos e, hoje, no Brasil, constitui um dos principais problemas, sobretudo entre os alunos da escola pública, a exemplo do Ceará. O conceito de alfabetização no mundo moderno, sobretudo na era da informação tecnológica, foi ampliado, assim como o da escola. Ela deve ensinar o aluno a ler, a escrever e a pensar.

Rui Aguiar, oficial de projetos do Unicef, tenta mostrar essa realidade em números no Brasil e no Ceará. Pesquisa realizada em 2000, pelo Unicef e IBGE identificou que, no Estado, 7.61% dos adolescentes, na faixa etária entre 12 a 17 anos, eram analfabetos. O percentual do Brasil era de 4.22%. Isso reforça que a responsabilidade do governo com essa parcela da população deve ser dupla. Ou seja, além da alfabetização tradicional (ler e escrever) terá que inserir esses adolescentes no mundo digital. Esses jovens devem ser priorizados, defende Rui Aguiar, lembrando que o acesso à Informática pode funcionar como um incentivo para entrar na escola. “O grande desafio é fazer com que esses adolescentes saiam de um mundo da Idade Média para um outro pós-moderno”, fazendo referência à inclusão digital. Na sua opinião, o acesso aos softwares e programas de computadores é fundamental nesse processo que não pode mais esperar. Propõe que as novas tecnologias e a informática sejam utilizadas para reduzir esse déficit educacional.

Sugere que, de todos os profissionais, o professor deve ser o mais afinado com o uso das tecnologias na educação. Defende a capacitação dos professores que devem ter “a Informática como uma ferramenta de trabalho e ter acesso a conhecimentos muitos específicos em informática educativa”. Os professores da rede pública devem participar dos núcleos de tecnologia informacional e a melhor ferramenta para isso é o computador. “Não dá para pensar um professor sem um computador em casa”, ressalta.

Iracema Sales
editoria de Reportagem

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