Engenheiros demitidos da Cagece alegam subfaturamento em obra

Projeto desatualizado e dificuldades na escavação do solo em Tauá exigiram custos maiores que os previstos no projeto original. Segundo profissionais, a empresa executora faliu porque a Companhia não cobriu os gastos extras

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br

No início deste mês, quatro funcionários da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) foram demitidos por suposto envolvimento no superfaturamento de uma obra de saneamento no município de Tauá, conforme a Companhia. Contudo, segundo a versão dos engenheiros civis acusados de participação na fraude, na realidade, houve um subfaturamento, já que o valor repassado da Cagece para a empresa contratada só conseguiria custear um terço das obras. A Companhia estaria devendo à empresa aproximadamente R$ 1,7 milhão.

Os quatro engenheiros procuraram o Sistema Verdes Mares subsidiados por um relatório técnico que narra os acontecimentos da obra. O primeiro ponto apresentado é a desatualização da licitação: o projeto da obra datava de 2008, mas as intervenções só começaram em 2013. Nesse período, "a cidade cresceu, as ruas foram asfaltadas", ressalta o engenheiro Gentil Maia.

À época da elaboração do projeto, dizem, não houve um estudo geológico aprofundado da área. Só quando as escavações foram iniciadas, os técnicos perceberam que o solo era muito duro, impossível de ser perfurado apenas com maquinário. A situação não estava prevista no Manual de Especificações de Obras e Serviços da Cagece (Meos), documento orientador do órgão que previa uma perfuração mais fácil.

Logo, foram necessárias detonações com explosivos, procedimentos mais caros e danosos às estruturas das ruas, implicando na execução de valores que não estavam previstos na planilha orçamentária licitada. Ou seja, para os especialistas, a orientação do Meos "nunca deve se sobrepor a uma realidade de campo", visto que o documento traz apenas premissas teóricas.

Segundo eles, a equipe comunicou a situação à diretoria da Cagece, que optou pelo andamento da obra. A empresa passou a arcar com os gastos, sob a promessa de que um aditivo contratual faria a compensação financeira dos gastos com a aquisição e transporte de reaterro de valas, asfalto para a recomposição de vias e reparo de residências danificadas pelas detonações.

Gastos

O engenheiro Delano Gondim frisa que, na Companhia, existe uma orientação de que, "quanto menos paralisar a obra, melhor". Assim, em outubro de 2015, a ordem de reinício foi assinada entre a empresa e a Cagece, mas o documento foi cancelado depois por "decisão administrativa". Impossibilitada de cobrir os gastos, a BT Serviços LTDA. "quebrou" e passou a solicitar, via judicial, o ressarcimento de valores à Cagece.

Os engenheiros endossam o pedido de perícia "séria", já solicitada durante o Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Além disso, solicitam ao Secretário das Cidades que a acusação de improbidade seja revista. Em nota, a Cagece informou que só se manifestará sobre o caso em juízo.

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