Em frente às escolas, pais são reprovados no quesito educação

Escrito por Redação ,
Legenda: No embarque e desembarque dos alunos, os carros formam filas triplas
Foto: José Leomar
Segundo a AMC, as novas escolas precisam apresentar o Relatório de Impacto sobre o Sistema de Trânsito

Enfrentar o trânsito na frente das escolas no horário de chegada e saída dos alunos em Fortaleza exige habilidade dos condutores. A cada veículo parado em fila dupla ou até tripla, é necessário fazer um zigue-zague. Isso quando a via tem espaço para a manobra, caso contrário o jeito é ter paciência e esperar a boa vontade dos outros motoristas. A situação faz com que muitos pais sejam reprovados no quesito educação no trânsito.

Apesar da problemática não atingir o tráfego durante os jogos da Copa das Confederações ou Copa do Mundo de 2014, já que os estudantes estarão no período das férias, a situação é algo grave e constante para os pais de alunos e também para os condutores que precisam circular no entorno das instituições educacionais diariamente.

A empresária Cynthia Machado, mãe das gêmeas Rafaela e Gabriela, 13 anos, que estudam em uma escola localizada entre as ruas João Carvalho e Silva Paulet, no bairro Aldeota, ressalta que os problemas já iniciam no trajeto até a escola. De acordo com ela, o congestionamento começa na Rua João Carvalho, há duas quadras da instituição, pois os pais, inclusive Cynthia, são obrigados a parar no meio da via, fazendo filas duplas por não ter vagas ou outras opções de desvio. "Tenho que sair de casa pelo menos meia hora antes. Se eu me atrasar 10 minutos, as minhas filhas já perdem a primeira aula", destaca.

A situação é ainda pior para os condutores de transportes escolares que precisam circular por diversos trajetos até chegar ao destino. O motorista José Nilvan Teixeira ressalta que, há poucos anos, era possível levar alunos de três e até quatro escolas diferentes, mas, ultimamente, devido ao trânsito e à falta de opções, os transportes escolares se limitam a uma unidade. "Em algumas situações, mesmo com a existência de estrutura para estacionar, fica complicado de chegar ao destino, pois as ruas são estreitas", reclama.

Estratégias

Na tentativa de driblar o problema e dar mais conforto aos pais e alunos, uma escola particular instalada na Rua Monsenhor Catão e com entrada pela Rua General Potiguara construiu duas ruas internas para desembarque e um estacionamento subsolo. Além disso, foram contratados profissionais para ajudar na saída das crianças dos carros, direcionando-as para a porta do colégio.

O diretor da instituição, Estênio Mota, explica que todo projeto da construção da escola foi realizado pensando no trânsito do local. Segundo ele, quanto menor a permanência dos pais em frente a porta do colégio, mais rápido flui o trânsito. Até porque, as ruas do entorno da escola não facilitam o tráfego. "Além da estrutura, pensamos na logística. Para isso, contratamos funcionários para auxiliar nesse deslocamento. Se não tivéssemos pensado nisso, a situação seria difícil".

O chefe do Núcleo de Trânsito da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), Arcelino Lima, explica que, atualmente, os novos projetos dos grandes empreendimentos incluindo escolas e universidade precisam apresentar o Relatório de Impacto sobre o Sistema de Trânsito (RIT), que é aprovado pela AMC. O projeto deve ser elaborado pelos proprietários das escolas e incluir quantidade de vagas para estacionamentos, condições de embarque e desembarque, coleta de lixo, entre outros.

Ainda segundo ele, para reduzir os transtornos nos horários de chegada e de saída dos alunos, a AMC, por meio da Divisão de Educação para Cidadania no Trânsito (DECT), desenvolve o projeto Volta às Aulas, sempre no início do semestre letivo.

"O objetivo é conscientizar pais, alunos e educadores para o cumprimento de regras básicas de trânsito que melhoram a vida de todos os envolvidos no contexto escolar", ressalta. A campanha em vigor, com o tema "Quem dá bom exemplo no trânsito é nota 10", é desenvolvida desde de 2011.

OPINião de ESPECIALISTA
Mobilidade urbana e colégios

Fernanda Rocha
Arquiteta e Professora da UNIFOR

O tema mobilidade urbana está cada vez mais em pauta em nossa cidade em função das dificuldades crescentes que enfrentamos em nos locomover por Fortaleza, principalmente em locais específicos onde existem os chamados Polos Geradores de Tráfego (PGT), situação que se agrava ainda mais em momentos específicos do dia ou determinados períodos do ano. Este é o caso das escolas e universidades que atraem grande fluxo de pessoas para o mesmo ponto e que acabam por impactar o dia a dia do seu entorno, ou mesmo de todo um bairro.

Quem já não se viu preso em um congestionamento ao inadvertidamente, ou até mesmo por falta de outra opção de percurso, tentar passar em determinadas vias de Fortaleza? Ou ainda, visto de outra perspectiva, quem já não traçou estratégias de locais e horários alternativos para pegar seus filhos na escola, tentando minimizar os impactos em suas agendas cada vez mais apertadas? Embora já contem alguns anos do ocorrido, lembro-me nitidamente de como isto era feito por meus pais, que, heroicamente, organizavam seu tempo, naquela época menos corrido, penso eu, para pegar a mim e aos meus irmãos nos colégios onde estudávamos.

Dito isto, verificamos que os inconvenientes atingem a todos indistintamente, apontando para o fato que urge pensar formas de solucionar problemas de modo mais responsável, onde não se transmitam ao coletivo, questões que são da responsabilidade individual resolver. E isto é o que vemos corriqueira e repetidamente em Fortaleza, quando as escolas não resolvem os acessos dentro de seus limites, e transferem o problema para a rua ao redor. Diante disso, o caos se instala e as infrações se acumulam por falta de opção de desvio ou mesmo de estacionamento privados.

Cabe aos poderes públicos coibir esta situação através de instrumentos cabíveis da legislação urbanística, mas principalmente às escolas e universidades lócus da educação cidadã, equacionar suas necessidades pensando nos desdobramentos de suas ações. Este me parece ser de fato o papel da escola: educar para a vida, principalmente pelo exemplo.

Táxis com passageiros poderão circular por corredores prioritários

"Nos deparamos toda hora com centenas de ônibus e caminhões que atrapalham o trajeto. Perdemos muitas corridas. Por conta do tempo que passamos no trânsito, seria muito mais fácil se existissem corredores exclusivos ou prioritários para ônibus e que nós, taxistas, possamos circular também por eles", desabafa o taxista Elson Nóbrega, locado no Aeroporto Internacional Pinto Martins há 15 anos.

Se depender de um projeto realizado pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) em parceria com a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), ainda neste ano os táxis com passageiros irão poder circular por corredores prioritários juntamente com os ônibus e vans. A informação é do presidente do Fórum Nacional de Secretários de Trânsito e Transportes e presidente da Etufor, Ademar Gondim.

Benefícios

Segundo ele, a medida vai possibilitar que 4.392 táxis possam ter um fluxo mais rápido quando estiverem com passageiros. Ainda conforme Gondim, o benefício atinge positivamente os outros condutores, que terão mais espaços para circularem nas vias onde serão determinadas os corredores: Bezerra de Menezes, Perimetral, José Bastos, Leste-Oeste, José Bastos e Aguanambi.

O presidente do Sindicato dos Taxistas de Fortaleza, Vicente de Paulo Oliveira, ressalta que a medida já foi aprovada pela Câmara dos Vereadores e vai ser uma solução objetiva e urgente para o trânsito da Capital. "A liberação para que os taxistas possam circular no contrafluxo dos ônibus vai amenizar o tráfego diário, que é intenso nas principais avenidas da Capital, além de possibilitar o aumento do número de corridas diárias realizadas pelos profissionais", analisa.

Vicente de Paulo destaca que, para que o profissional possa realizar, em média, dez corridas por dia, é necessário, no mínimo, uma carga horária de 12 horas, do contrário, há um grande prejuízo financeiro. Ele explica que cada corrida leva cerca de 35 minutos nos horários de pico, e ressalta que cada profissional chega a passar seis horas realizando trajetos: de 6h às 8h30 e de 17h às 20h. "Eles desperdiçam muito tempo. Diante disso, não são só os taxistas que perdem, mas a cidade, a mobilidade urbana e os pedestres", conclui.

KARLA CAMILA
REPÓRTER
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