Desrespeito e falta de estrutura ainda são obstáculos a ciclistas

Apesar dos importantes investimentos direcionados ao modal nos últimos anos, o risco para usuários ainda está presente nas ruas. O desacato à legislação de trânsito é uma das principais queixas dos usuários

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: O tráfego irregular nas ciclofaixas e ciclovias é a principal infração cometida contra ciclistas em Fortaleza
Foto: FOTO: ISANELLE NASCIMENTO

Já se vão anos em que investimentos destinados à mobilidade urbana em Fortaleza direcionam atenção especial a um usuário em amplo crescimento: o ciclista. Ciclofaixas e ciclovias - além do próprio Sistema de Bicicletas Compartilhadas - trouxeram novas e otimistas perspectivas ao modal. Não o suficiente, contudo, para sanar fatores de risco ainda presentes, em especial, à disputa pelo espaço público.

Em 2018, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) registrou 5.337 infrações que afetam diretamente a segurança desses usuários. Destas, 4.346 foram por transitar em ciclofaixas ou em ciclovias - redução de 32% se comparado ao ano anterior, 2017 - e 991 infrações por estacionar nesses espaços.

O relatório de vítimas do Observatório de Segurança Viária de Fortaleza de 2018, por sua vez, apontou o ciclista como o único perfil a apresentar crescimento entre as mortes, de 21% em relação a 2017, permanecendo como a 3ª categoria que mais sofre acidentes na cidade, atrás dos motociclistas e pedestres.

A produtora cultural Luana Holanda, 35, precisou amputar uma das pernas ao ser atropelada por um ônibus. Anderson Lucena Ribeiro, 41, trafegava quando foi atingido por um caminhão e veio a óbito. O aspecto comum entre os casos é que em ambos o meio de transporte era a bicicleta.

Segundo Francisco Gondim, ciclista há 10 anos e participante do grupo CC Bikes, no Conjunto Ceará, há entraves claros. "Nossos maiores problemas: motoristas e motoqueiros acham que o ciclista não faz parte do trânsito e, por isso, não deve estar na rua. Não respeitam a preferencial, ou param ou transitam na ciclofaixa. O que falta para sermos bem tratados é fiscalização mais efetiva'', lamenta.

O perigo também surge do aspecto estrutural, com a malha cicloviária - muitas vezes - comprometida por obstáculos como lixo, buracos ou estruturas danificadas, a exemplo da ciclofaixa da Avenida Domingos Olímpio, que consta sem parte das grades de proteção no trecho localizado no canteiro central, entre a Avenida da Universidade e a Rua Senador Pompeu.

Buracos

Para Gondim, a situação que mais incomoda os ciclistas são as vias esburacadas. "A gente fica o tempo todo gritando 'buraco', pra avisar quem vem atrás", relata.

Para muitos, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é avaliado como justo, estando no não cumprimento da legislação o problema. A ciclista Ana Clésia afirma que já foi muito desrespeitada nas ruas, com carros bloqueando sua passagem e motos quase a atropelando. "É impressionante! Você tá na sua mão direitinho, andando de capacete com as lanternas ligadas e eles não têm respeito nenhum, até ônibus na faixa tem", afirma.

Já o caso de Luana Holanda segue demandando cuidados. Segundo ela, continua sendo acompanhada por uma equipe do Instituto Dr José Frota (IJF). "Também estou usando uma prótese provisória, mas daqui a pouco preciso passar para a definitiva", afirmou. Luana conta que a vaquinha online realizada para conseguir a prótese está indo bem e deve garantir o equipamento. Atualmente, Luana usa uma provisória doada pelo médico que a acompanha.

Para ela, a carência de campanhas de educação no trânsito e a fiscalização insuficiente colaboram com o cometimento das infrações. "Muitos motoristas nem ao menos conhecem o Código de Trânsito, fazem apenas a quantidade de aulas mínimas na autoescola para poder tirar a Carteira Nacional de Habilitação. Se pelos menos seguissem as normas de conduta e circulação teríamos um trânsito com menos vítimas", conta.

A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) informou realizar de forma constante a manutenção e a renovação de sinalização de ciclovias já existentes, bem como a recuperação da pavimentação dessas infraestruturas por meio da operação de recuperação de vias.

Dando continuidade a esse processo, segundo a Pasta, outras passarão por manutenção ainda este ano. Entre elas, a da Avenida Bezerra de Menezes, que terá seu pavimento todo recuperado, além da realização de estudo para manutenção de outros espaços.

De acordo com o superintendente da AMC, Arcelino Lima, a quadra chuvosa mais intensa deste ano acabou por demandar a recuperação desses espaços, seja na pavimentação ou no reforço da sinalização horizontal. "Esse processo de revitalização já aconteceu em parte da Regional II e a partir da próxima segunda-feira (22) daremos prosseguimento no Centro, e nas regionais I, V e VI", afirma. A recuperação das grades da ciclofaixa da Avenida Domingos Olímpio, complementa, deve acontecer até o fim deste mês.

Fiscalização

Ainda segundo Lima, a fiscalização da AMC acontece por meio das câmeras de videomonitoramento, nas estruturas que dispõem dos equipamentos, e por rotas volantes que percorrem a cidade, embora seja mais difícil a detecção das infrações, por se tratarem de casos muito momentâneos.

Sobre o desrespeito quanto à distância de um metro e meio até o ciclista, Arcelino explica que a Pasta promove campanha com motoristas de transportes coletivos e já começou a implantar o conceito de ciclofaixas mais protegidas, com uma distância maior entre a faixa de circulação de veículos e os ciclistas. "Na Avenida Perimetral já está sendo implantada assim. É uma forma de a gente visar a questão da segurança e permitir com que crianças e idosos façam uso também", pontua.

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