Crônica: Ares de liberdade

Escrito por Luã Diogenes , metro@verdesmares.com.br
Legenda: A Avenida 13 de Maio é cenário de festa e devoção em homenagem à Nossa Senhora de Fátima
Foto: Foto: JL Rosa

Caminhar lento, terço na mão. O relógio badala em ritmo de preces que os fiéis derramam em uma das avenidas mais movimentadas de Fortaleza. O olhar da santa carregada em um andor de rosas instiga a emoção dos devotos acompanhando a procissão que acontece duas vezes por ano em homenagem a Nossa Senhora de Fátima. A via nomeada com a data da Abolição da Escravatura no Brasil, hoje em Fortaleza, significa a libertação dos pecados na mente de vários católicos que em todos os "trezes" vestem branco e louvam a mãe do Cristo.

Eu, de pés descalços, vago junto dos fiéis, no asfalto quente e pedregoso em busca de salvação. Peço pelos meus, os que já se foram e os que aqui vivem. Peço pelo futuro e presente, já que o passado compartilhamos muito juntos. Falo da "Treze" já com intimidade, sem mencionar sobrenome. É minha casa, é onde morei boa parte da vida e hoje, sobre a ótica do décimo primeiro andar do meu edifício, aprecio com vista privilegiada o seu remexer durante o dia.

A data da libertação dos escravos, 130 e um anos atrás, também exalta a minha. A primeira vez que me senti livre foi quando fugi do colégio, adolescente, gazeando aula. Saí da Senador Pompeu, quase no Centro, até a Igreja de Fátima onde fui assistir uma missa. O que foi deboche para meus amigos, na minha mente foi o meu primeiro cenário de aventura. Aliás, o cruzamento da Treze de Maio está na minha vida antes mesmo da existência desta, pois foi no seu cruzamento com a Av. Da Universidade que meus pais se conheceram e desde então o amor se irradiava no ventre de minha mãe no qual viria a nascer.

Do amanhecer ao cair da noite, a avenida se enche de vida e é passagem de estudantes, idosos, crianças e turistas. Mostra um outro lado da cidade, longe da correria do Centro ou da perfeição do mar. É um lugar de ar mais puro, o que deixa as pessoas mais livres para viverem as alegrias do cotidiano simples e gratificante.

As cadeiras nas calçadas, o trafegar das beatas, o cheirinho do pão saindo do forno tornam o Bairro de Fátima e sua imponente Treze de Maio um símbolo de resistência para quem deseja rememorar a nossa cidade em décadas passadas e faz também o jovem saborear um pouco do "bairro com a família", o que hoje, infelizmente foi apagado no tempo pela velocidade do dia a dia.

Sem tirar o carro da garagem, em uma avenida, como pizza, tomo sorvete, caminho na Praça, converso com os vizinhos e se gripado, não falta farmácia! É minha vida, meu lar, meu ambiente, local que me acolhe em meio a uma cidade muitas vezes insegura e caótica que a metrópole Fortaleza vai se tornando. É refúgio sem deixar de ser encontro.

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