Corrida contra o tempo para encontrar sobreviventes no prédio

As equipes de resgate seguem à procura de vítimas nos escombros do Edifício Andrea. Especialistas afirmam que desidratação é a principal inimiga de possíveis sobreviventes. Número de mortos subiu para seis

Escrito por Redação ,
Legenda: Trabalhos seguem 24 horas por dia, com apoio de centenas de pessoas
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Três dias, centenas de agentes de saúde, trânsito, segurança e voluntários mobilizados, infinitas lágrimas derramadas e apenas uma esperança: a de encontrar vidas nos escombros do que restou do Edifício Andrea, residencial desabado na última terça-feira (15). A expectativa no resgate de sobreviventes se estreita com o passar das horas.

Em meio à carência de informações precisas, a contagem oficial do Corpo de Bombeiros do Ceará (CBMCE) cita 17 pessoas afetadas: sete sobreviventes, quatro desaparecidos e seis óbitos. Na manhã de ontem (17), dois corpos foram retirados dos escombros. Antônio Gildásio Holanda Silveira, de 60 anos foi encontrado nos destroços por volta das 6h45.

O segundo corpo, achado por volta de meio-dia, é da filha de Gildásio, a psicóloga Nayara Pinho Silveira, de 31 anos. No fim da noite, mais dois corpos foram retirados dos escombros e identificados pelos Bombeiros, o de Maria da Penha Bezerril Cavalcante, 81 anos, e de Rosane Marques de Menezes, 56 anos.

O terceiro dia de buscas começou com mais apreensão sobre o estado de saúde das pessoas ainda sob os escombros. A preocupação maior, de acordo com o médico emergencista Tadeu Pinheiro, é com os idosos. Entre os desaparecidos, pelo menos três têm acima de 50 anos. O mais velho é Vicente de Paula Vasconcelos de Menezes, 87.

“Hoje é dia de pensar mais nos idosos. Era um prédio habitado mais por idosos. Nesse estágio, a desidratação já está no limite da condição humana. É o limite que eles conseguem viver sem a ingestão de nenhum líquido. Como o corpo de pessoas idosas tem menos água, então eles desidratam mais rápido. Pessoas mais jovens conseguem sobreviver até cinco dias sem água, por terem mais líquido no corpo. São horas cruciais”, aponta.

Possibilidades

Na análise de Pinheiro, as condições médicas das pessoas que seguirem desaparecidas após o fim desta sexta-feira estarão muito delicadas. “Passou de 72 horas, se não tiver nenhuma fonte de água para beber, a chance de encontrar vivo é quase nula. Ficamos esperando um milagre ainda maior. A pessoa está praticamente desacordada, sem nenhum tipo de produção de energia. É uma condição bem debilitada”, pondera o profissional da saúde.

Outro fator essencial para que estas pessoas consigam sobreviver é a oxigenação. Sem espaço para receber ar, a dificuldade para respirar se torna uma verdadeira inimiga do corpo. Segundo Gustavo da Cunha Mello, especialista em gerenciamento de riscos, a formação de “bolsões de ar” é o que pode manter pessoas sob escombros vivas por dias, no aguardo do resgate. Normas internacionais e padrões estabelecidos até mesmo pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o caso de desastres, dizem que vítimas vivas podem ser retiradas de estruturas colapsadas, no caso do prédio, em até oito dias. Mas as possibilidades vão de caso a caso. Não se sabe de que maneira os escombros estão espalhados.

Resgate

O comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), coronel Luís Eduardo Holanda, que está à frente dos trabalhos de resgate desde o primeiro dia, afirmou que “tem todas as possibilidade de encontrar pessoas vivas”. Segundo ele, “a operação vai durar 24 horas por dia, sete dias por semana até que possamos retirar todas as vítimas. Nunca diminuimos nosso efetivo, todas as unidades do CBMCE estão cumprindo seus expedientes na cena do desastre”, comentou.

Maquinários pesados

Devido à possibilidade do resgate de pessoas vivas dos escombros, maquinários pesados, que têm a capacidade de quebrar entulhos e retirar estruturas pesadas com mais facilidade, não estão sendo utilizados prioritariamente nestes primeiros três dias de resgate.

Conforme o comandante Holanda, a medida é aplicada para não machucar quem estiver para ser resgatado. “Vamos postergar o maquinário até quando tivermos a possibilidade de fazer resgate de pessoas. Mas isso não quer dizer que não vamos usar. A única vez que os agentes de segurança precisaram ligar as máquinas mais elaboradas foi na última quarta-feira. “Utilizamos, nessa quarta-feira], pontualmente para retirar algumas lajes que estavam colocando a vida de bombeiros e a operação em perigo. Foi um caso pontual. Nós acreditamos que vamos tirar mais pessoas vivas. O maquinário começará quando realmente não tivermos mais nenhuma chance de fazer a busca manual”, ponderou o coronel-comandante. “É aí que a gente tá depositando toda a nossa confiança. Toda estrutura colapsada tem esses bolsões e a gente confia que essas pessoas podem estar lá, e a gente vai dar essa resposta”, afirmou o comandante, em coletiva de imprensa no início da noite de ontem.

Pessoas resgatadas com vida dos escombros

  • Até o fim da noite dessa quinta-feira, foram confirmadas seis mortes; todos os corpos das vítimas já tinham sido retirados dos escombros e identificados
  • 500 profissionais e voluntários no edifício
  • De acordo com o coronel-comandante do Corpo de Bombeiros, todo o efetivo de agentes da corporação está no local, além de voluntários

Condições de saúde sob escombros

  • 24 horas: primeiro estágio da desidratação. A preocupação com o oxigênio também é um fator, além de perda de sangue em razão de ferimentos e possíveis infecções devido a exposição à poeira. O calor também é fator de preocupação pois vai interferir na hidratação.
  • 48 horas: a desidratação ja é mais severa. Começa a alteração na consciência, a pessoa soterrada já está mais sonolenta e não consegue mais expressar que está vivo e nem dar sinais. Nesta fase começa a preocupação com doenças respiratórias pela exposição à poeira.
  • 72 horas: fase crucial da desidratação e de extremo alerta. Idosos são os mais prejudicados pela saúde mais fragilizada. É o limite da condição humana de sobreviver sem tomar água e se alimentar. Ao passar de três dias, as chances de encontrar alguém vivo nos escombros são mínimas.

Fonte: Tadeu Pinheiro / médico emergencista

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