Conflito, tumulto e decisão de não retomar a greve

Escrito por Redação ,
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Representantes da OAB consideraram a votação legítima, mas com problemas na forma como foi comandada

Professores contra professores. Este foi o saldo da assembleia geral da categoria, que decidiu, ontem, não retomar o movimento grevista. Depois da votação, houve tumulto e episódios de agressão física.

Várias pessoas denunciaram que professores do interior foram coagidos a votar a favor da proposta do Governo do Estado, enquanto outros alegavam que tal resultado era fruto do desgaste do movimento.

Iniciada com uma hora e meia de atraso, a votação aconteceu no Ginásio Paulo Sarasate. Segundo o Sindicato dos Professores e Servidores do Estado do Ceará (Apeoc), cerca de 4 mil professores compareceram à assembleia, além de dezenas de estudantes.

Este número atípico motivou alegações de que os professores do interior teriam sido coagidos a votar. A cada ônibus que chegava ao ginásio, manifestantes gritavam: "Mais um ônibus, mais um curral eleitoral!".

"Essa vinda de professores do interior é pressão do Governo, principalmente em cima dos temporários. Ninguém vai admitir por medo, mas muita gente foi obrigada a assinar um termo se comprometendo a votar contra a greve. Quem tá pagando esses ônibus e a hospedagem desses professores?", alerta a professora Gorete Almeida.

A assembleia foi marcada por momentos de tensão. Vaias e gritos aumentavam quando um dirigente do Apeoc se pronunciava. Alguns chegaram a jogar papéis e garrafas de plástico na mesa onde estava sendo conduzida a votação.

A grande maioria decidiu não retomar a greve, mantendo a mobilização da categoria pela negociação. Seguranças tentaram conter os manifestantes que não se conformavam com o resultado da assembleia e tomaram a mesa de votação. O presidente do Sindicato Apeoc, Anízio Melo, teve que sair pelos fundos do ginásio com a escolta de seguranças.

Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Ceará, participaram da assembleia como observadores. Edmir Martins, da Comissão de Educação da OAB-CE, considera a votação legítima, mas vê problemas na forma como ela foi conduzida.

"Fiz uma questão de ordem junto à mesa diretora de que a votação não poderia ser conduzida pelo Sindicato Apeoc, o próprio Anízio Melo foi quem defendeu a proposta de não continuar a greve. Deveria ter sido conduzida por entidades isentas, como a CUT ou a própria OAB, que estavam presentes à assembleia", explica.

Fogueira

Na saída, professores de Fortaleza interpelaram os colegas do interior, chamando-os de traidores. Algumas pessoas fizeram uma fogueira com a bandeira da entidade e os crachás de votação. Os dissidentes marcaram uma plenária para amanhã, às 14 horas, na quadra coberta do Colégio Adauto Bezerra. Entre as propostas estão uma desfiliação em massa e a deposição da diretoria do sindicato.

A reportagem entrou em contato com a titular da Secretaria da Educação do Estado (Seduc), Izolda Cela, para avaliar o resultado da assembleia. A assessoria pediu que as perguntas fossem mandadas por e-mail, mas até o fechamento desta edição, não houve retorno.

KAROLINE VIANA
REPÓRTER

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