Exposição à poluição na Av. Domingos Olímpio é pior nas terças e quintas-feiras

Pesquisa realizada pelo Instituto Federal de Educação (IFCE) com ciclistas de Fortaleza aponta índices de materiais particulados inaláveis acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Na Av. Domingos Olímpio circulam, diariamente, cerca de 2.800 ciclistas por dia
Foto: Foto: Helene Santos

Em pelo menos três dias na semana, a Avenida Domingos Olímpio, na Capital, se torna rota de deslocamento para a comerciante Greciliane Pinheiro, 45, usuária de bicicleta há cerca de dez anos. Apesar dos benefícios que a prática lhe proporciona à saúde, a ciclista reclama dos efeitos gerados pela poluição e barulhos que invadem a via.

Estudo em andamento, realizado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) revela que a ciclista tem mesmo motivos para se queixar. Isso porque a análise do material particulado inalável de 10 µm (MP10) na avenida revelou índices que chegam a superar o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de até 25 µg/m³.

O verificado na pesquisa aponta que nas terças e quintas-feiras, no período da tarde, o índice alcançado na via foi de 38,4 µg/m³ e 52,3 µg/m³, respectivamente. Nas quintas-feiras pela manhã, o resultado chegou a 33,4 µg/m³. Já com base na resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o estudo aponta que 25% das resoluções da qualidade do ar foram superiores ao recomendado pela OMS também nas quintas-feiras.

O objetivo da pesquisa é analisar a incidência do material (partículas finas, como poeira, formada por diversos materiais) e as possíveis complicações na saúde dos ciclistas. Nesta primeira fase, um usuário voluntário fez viagens na Avenida Domingos Olímpio - acompanhado pelos pesquisadores. Foram monitorados fatores como temperatura, umidade e a concentração dos materiais inaláveis.

"A ampliação dessas novas vias e modais de transporte traz consigo doenças por poluição, já que pedestres, ciclistas, motoristas convivem no mesmo espaço e, em alguns momentos críticos, como engarrafamentos, o risco de exposição aos poluentes químicos aumenta", esclarece Rinaldo Araújo, professor do Departamento de Química e Meio Ambiente e do Mestrado em Tecnologia e Gestão Ambiental do IFCE.

Apesar da poeira trazida do solo pelo vento, de acordo com o pesquisador, grande parte do material inalável decorre dos escapamentos dos automóveis que, no processo de combustão, sai dos motores direto para as vias aéreas das pessoas expostas.

"Foram feitos estudos comparativos entre o material inalável que tinha na via pública e os valores previstos na legislação e na Organização Mundial de Saúde (OMS)", destaca o professor. Além do material físico, devem ser analisados os compostos químicos agregados à "poeira" em uma próxima etapa da pesquisa.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Ricardo Coelho, problemas de asma, crises alérgicas e até câncer de pulmão são doenças decorrentes do contato com o material particulado encontrado no ar, caso a exposição aconteça de forma contínua. Os ciclistas, explica ele, estão mais expostos aos poluentes por demandarem mais oxigênio devido ao exercício aeróbico.

"O que acontece é quando a gente faz um exercício físico, seja no ciclismo, seja na corrida, você respira com volume de corrente mais alta, com frequência mais alta, e respira pela boca. E o material particulado é aquele tão pequeno que mesmo respirando pelo nariz ele consegue vencer as barreiras e chegar aos brônquios. É um combinado de material sólido mais o gasoso, todos nocivos", explica. Uma forma de prevenção, aponta o pneumologista, é evitar locais e horários onde a concentração de carros e fábricas é maior. O uso de máscaras, acrescenta, pode diminuir essa inalação.

O ilustrador Breno Gomes, 23, usuário de bicicleta, diz ter percebido efeitos negativos em sua saúde quando passou a utilizar a Domingos Olímpio como opção de deslocamento. "Eu não estava acostumado a ingerir tanta fumaça de veículos. Então, quando comecei a fazer o trajeto casa-trabalho de bicicleta fiquei gripado algumas vezes, e com muita dor de garganta, repetidas vezes", diz.

Poluição Sonora

A exposição dos ciclistas aos ruídos também foi verificado. As amostras analisadas apontaram exposição sonora variando entre 63 decibéis e 108 decibéis, ultrapassando os limites estabelecidos pela OMS, de 53 decibéis para o período diurno e 45 para o noturno; e pela Norma Brasileira - NBR 10151, de 60 decibéis para o decorrer do dia e de até 50 decibéis para a noite. Ainda segundo o professor Rinaldo Araújo, o resultado foi verificado em todos os dias da semana.

"Os níveis de ruídos excederam não só na hora do 'rush'. Ultrapassamos a curva de ruídos. Durante 30 minutos da viagem, tanto na ida quanto na volta, o que o equipamento registrou é que estava sempre acima, quase três vezes mais do que é preconizado pelo regimento. Isso é um intervalo de tempo muito curto se você considerar que pode passar cinco, seis anos da sua vida trabalhando o ano inteiro, fazendo quase 200 viagens por ano, então é preocupante".

A Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) esclarece que o nível máximo de som permitido, conforme a Lei municipal 9.756/11, é de 70 decibéis no período diurno, de 6h às 22 horas. No horário noturno, entre 22h e 6h, o nível máximo tolerado é de 60 decibéis. Em 2019, até a última quarta-feira (11), o órgão realizou 1.750 fiscalizações e 783 autuações/notificações a responsáveis por atividades de poluição sonora. No ano passado, foram registradas 810 autuações/notificações.

O controle da poluição atmosférica em Fortaleza, por sua vez, tem como parâmetro o que preconiza o artigo 749 da Lei Complementar n°270/2019, do Código da Cidade, que caracteriza como infração "o ato de lançar ou liberar nas águas, no ar ou no solo, de toda e qualquer forma de matéria ou energia, que cause comprovada poluição ou degradação ambiental, acima dos padrões estabelecidos pela legislação".

De janeiro a 11 de dezembro deste ano, a Agefis realizou 538 fiscalizações e 289 autuações/notificações a responsáveis por atividades poluentes que não possuíam o licenciamento ambiental, quantidade 20% a mais que a registrada em 2018, com 240 autuações/notificações.

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