Ceará tem menor desigualdade de aprendizagem no Brasil

Apesar de se destacar no aprendizado entre o 5º e o 9º ano públicos, Estado estanca no Ensino Médio

Escrito por Theyse Viana - Repórter ,
Legenda: Alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, da escola Francisco Mauricio Matos
Foto: FOTO: JL ROSA

Os progressos se evidenciam em números: o Ceará foi o Estado com menor desigualdade de aprendizagem entre estudantes de diferentes níveis socioeconômicos, no Ensino Fundamental, entre 2015 e 2017, tendo destaque em quase todos os índices da Educação Básica nacional, segundo os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, divulgados ontem pelo Ministério da Educação. Apesar disso, um padrão se repete, como no País: em todos os números, estudantes de escolas privadas superam os das redes públicas estadual e municipal cearenses.

A disparidade nos resultados, segundo analisa a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes, são tendência nacional. "É um espelho das desigualdades socioeconômicas que temos, e só reforça a necessidade de que se garanta escola pública de qualidade para todo adolescente, criança e jovem. As redes privadas atendem a uma proporção muito pequena. Os índices não refletem só o que a escola oferece de ensino, mas uma condição global de vivência", salienta.

Os ensinos municipal e estadual também perdem, em números, para as escolas federais que, apesar de públicas, são "ilhas de excelência", conforme Guedes. "A rede federal é ínfima. Estamos falando de uma elite com mais recursos, que poderia estar em escolas particulares. Esse não é o caminho para a educação pública no ensino básico".

Recursos

Os dados do Saeb 2017 avaliam os desempenhos dos estudantes de escolas municipais, estaduais, federais e privadas do País, em Língua Portuguesa e Matemática, nos 5º e 9º ano do EF e no 3º do Ensino Médio (EM), comparando aos valores obtidos em 2015. Em geral, o Ceará vai bem: além de liderar com menor desigualdade de aprendizagem entre as classes mais alta e mais baixa no EF, o Estado também supera as médias nacionais e os pontos ganhos em ambas as matérias.

O Ceará é também o 6º do País a superar a média nacional no ensino de Língua Portuguesa no 5º ano, atrás de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Distrito Federal. Em relação aos ganhos de aprendizagem, entre 2015 e 2017, o Estado ocupa a oitava posição entre as 12 unidades federativas que superaram a média nacional. Entre estudantes do 9º ano, os cearenses estão entre os 12 melhores do País em Português.

Já em Matemática, 11 estados se destacaram por desempenho do 5º ano acima da média nacional, ficando o Ceará em sétimo. Em relação aos ganhos de aprendizagem nos dois anos, o Estado foi o oitavo a agregar mais pontos que a média nacional. Entre os alunos do último ano do Ensino Fundamental, dos 12 estados que obtiveram desempenho acima da média nacional, o cearense ficou em 11º.

A gerente de Pesquisa e Desenvolvimento define os avanços e o destaque nacional da educação pública cearense como "inspiradores", e atribui o progresso à "cooperação entre as redes municipal e estadual". "As origens desses avanços estão no Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), que o Ceará universalizou em todos os municípios. O programa é referência e traz, não só mais recursos financeiros, mas assessoria técnica, materiais e apoio às secretarias municipais e suas escolas", analisa.

Em contrapartida ao Fundamental, o Ensino Médio cearense ainda exige mais esforços. "O desafio no Ensino Médio do Ceará é o do Brasil como um todo: precisamos de um sistema de ensino que motive os estudantes, que mantenha os jovens nas escolas. Além de investimento e apoio técnico, é preciso um regime de colaboração entre os estados e os municípios", pontua.

Entre 12 estados que mais agregaram pontos relacionados a ganhos de aprendizagem em Língua Portuguesa, em comparativo a 2015, o Ceará é líder: mas, apesar disso, não consta entre os que superaram a média nacional. O cenário se repete em Matemática: dos 15 que agregaram mais pontos do que a média nacional, os estudantes cearenses ficaram em sétimo, e também não aparecem entre os que ultrapassaram os números do Brasil.

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