Ceará tem 1ª cirurgia bariátrica com método mais seguro a pacientes

Cirurgiões cearenses passam a utilizar medicamento e aparelho que tornam a vascularização dos órgãos "fluorescente". Isso permite a identificação e a correção de possíveis falhas no "grampeamento" do estômago

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: A vantagem do método é a identificação de áreas que estejam mal vascularizadas
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

A obesidade afeta, em média, 20% da população adulta de Fortaleza - em número aproximado, mais de 500 mil pessoas estão acima do peso na Capital, de acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) divulgada em 2019. As consequências à saúde podem ser graves e levar a doenças letais. Uma das formas de reduzir o peso é a cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como "redução do estômago" - procedimento incrementado, agora, no Ceará, pelo método da "fluorescência", que aumenta a segurança cirúrgica e diminui os riscos pós-operatórios ao paciente.

O primeiro procedimento utilizando a técnica no Estado foi realizado ontem (10), no Hospital São Mateus, no bairro Papicu. O cirurgião geral e bariátrico da unidade, Ibraim Cavalcante, explica que "a cirurgia continua basicamente a mesma", mas que o novo método utiliza a injeção de um medicamento nos tecidos do paciente. "Essa substância brilha, refletindo a vascularização do órgão. Assim, com o equipamento que temos agora, conseguimos ver se a circulação está boa, identificar algum ponto falho e corrigir na hora da cirurgia", pontua o médico.

A cirurgia bariátrica é feita por meio do "grampeamento" do estômago, reduzindo a capacidade de acondicionamento de alimentos. Um dos principais riscos do processo, evitado pela utilização da fluorescência, é a criação das chamadas fístulas, espécies de "conexões irregulares" no organismo. "A vantagem do método é que, na hora da cirurgia, podemos identificar algum local que esteja mal vascularizado. Isso diminui a possibilidade de uma complicação importante, que é a fístula, e também de uma isquemia", frisa Ibraim.

Junto ao médico, o cirurgião geral e do aparelho digestivo Marcelo Falcão também participou da primeira cirurgia adotando a técnica no Ceará, e esclarece a importância dela para o "acabamento" do procedimento cirúrgico. "A principal consequência da falta de perfusão do tecido é a possibilidade de abertura do grampeamento do estômago, que pode causar infecção e complicação grave. Se está bem perfundido, há cicatrização adequada e o paciente terá um bom resultado", resume Falcão.

Dr. Ibraim ressalta que o uso da fluorescência é novo no Nordeste e no Ceará, mas "já existe há muito tempo em outros centros, como São Paulo, Europa e Estados Unidos". Por enquanto, o procedimento é realizado apenas no Hospital São Mateus, mas o cirurgião aposta na capacidade de expansão. "Em outros centros, isso já é utilizado no SUS (Sistema Único de Saúde). Não é uma técnica de grande custo, então pode e provavelmente vai ser incorporada".

Indicações

A cirurgia de redução do estômago é indicada de forma direta para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC, a razão entre peso e altura) acima de 40, ou acima de 35 associado a alguma comorbidade, como hipertensão e diabetes. "Antes da cirurgia, o paciente precisa passar por toda uma equipe multidisciplinar, com cirurgião bariátrico, endocrinologista, psicólogo, cardiologista e nutricionista, que avaliam, veem as indicações e verificam se o paciente é elegível para a cirurgia", diz Ibraim.

A serventuária de Justiça Irna Lima, 41, passou por todo o processo na rede privada, quando engordou cerca de 40 kg em apenas um ano e meio, após enfrentar problemas emocionais. "Um dia recebi fotos do aniversário do meu pai e não me reconheci. Fiz a consulta e meu IMC tava 44, obesidade quase grau III. Em 30 dias, fiz todo o procedimento. Não tive problema nenhum, e a cirurgia salvou a minha vida", afirma reconhecendo, porém, os cuidados necessários.

"É todo um processo psicológico de se adaptar a uma nova alimentação, e dois ou três anos depois da cirurgia, tem um reganho de peso. Tenho dez anos de operada, estive agora no médico e engordei só 10kg. Ele disse que em dois ou três anos, alguns engordam até 15kg. Existe a Irna de antes e a de depois da bariátrica. Hoje, tenho uma vida tranquila", comemora.

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