Ceará registra 277 encalhes de animais marinhos em três anos

Entre 2016 e 2018, foram achados 170 mamíferos e 107 tartarugas no litoral cearense. Entre as espécies encalhadas estão golfinhos, baleias, como cachalote, orca; e peixes-bois. Muitos desses animais são encontrados mortos

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Por conta de colisão com embarcações, os traumatismos também constituem ameaça e influenciam os encalhes de espécies como peixe-boi

Encalhado: substantivo utilizado para designar aquele animal marinho que vem à costa do litoral e não consegue rumar de volta ao habitat natural. Este é o destino de muitos animais no litoral cearense, por diversos motivos. Entre 2016 e 2018, foram encontrados, no mar do Ceará, 170 mamíferos e 107 tartarugas. Dentre as principais causas dos encalhes de animais marinhos estão doenças infecciosas, parasitária e morte perinatal, por conta da poluição. Além disso, no caso do boto-cinza, a captura acidental em redes de pesca é o fator central. Os dados são da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) e do Instituto Verdeluz.

Conforme o médico veterinário e coordenador do programa de mamíferos da Aquasis, Vitor Luz, entre os animais encontrados encalhados na costa cearense estão espécies de golfinhos, baleias, como cachalote, orca; e peixes-bois. Em Fortaleza, segundo a associação, a maior ocorrência de encalhes são dos botos-cinzas, espécie comum na enseada da praia do Mucuripe, em Fortaleza, onde espectadores, inclusive, juntam-se para apreciar a presença destes animais.

Além dos fatores já mencionados, os traumatismos, por conta de colisão com embarcações, também constituem ameaça e influenciam nos encalhes, explica o veterinário.

Aquasis

Vitor Luz acrescenta que os incidentes envolvendo os botos-cinzas possuem ligação com o caráter comercial da área do bairro Mucuripe, em Fortaleza. "Com relação a esta espécie, a principal causa é a captura acidental em redes de pesca", diz.

Na organização, 16 animais estão em processo de reabilitação em 2019, ano em que 22 animais da ordem dos cetáceos (mamíferos marinhos), já foram resgatados, mas 21 deles sem vida. O único sobrevivente é uma peixe-mulher, de nome Flor, que se junta a outros 15 da mesma espécie em tratamento para, posteriormente, voltar ao mar.

Apesar disso, a Capital cearense não possui um centro para reabilitação de animais marinhos específico para o trato dos botos-cinzas. A própria Aquasis, por sua vez, tem se especializado no cuidado com os peixes-bois, espécie da qual, segundo a instituição, o Ceará é líder de encalhes dentre os estados brasileiros.

Apesar desse cuidado específico, os demais animais marinhos também fazem parte do rol de atenção da instituição. O trato com essas espécies, porém, não é feito com a mesma periodicidade. Vitor Luz afirma que, ao encontrar algum animal de outra espécie encalhado, a reabilitação é, na maioria das vezes, feita no próprio local, sem levá-lo às dependências da organização.

Após o tratamento, o animal é devolvido ao habitat natural. "Em geral, os cetáceos vivos são atendidos e tratados em áreas abrigadas próximas ao local do encalhe. As exceções são peixes-bois, filhotes de golfinhos ou cetáceos de pequeno porte que requeiram tratamento prolongado, que trazemos para o Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos da Aquasis", afirma.

Problema estendido

O achado de animais marinhos sem vida não é realidade exclusiva dos mamíferos. O Instituto Verdeluz, por meio do Projeto de Estudos e Articulações sobre Tartarugas Marinhas (GTAR), registra, nos últimos três anos, 107 tartarugas, de quatro espécies diferentes, encalhadas. Destas, apenas 17 foram recolhidas ainda com vida e passaram por primeiros-socorros realizados por voluntários da organização. Mesmo com o cuidado, as tartarugas acabaram morrendo depois.

O trabalho de trato com as tartarugas marinhas, feito pelo Verdeluz, percorre todo o litoral de Fortaleza por meio de vistorias semanais para proteção destes animais. As ações são intensificadas entre os meses de setembro e junho, período de desova e eclosão das tartarugas-marinhas, como afirma Larissa Fortes, diretora de captação do Instituto.

Em caso do encalhe de tartarugas, o GTAR entra em ação com procedimentos diferentes, conforme cada caso. "Se o animal estiver vivo, é prestado o serviço de primeiros-socorros e tentamos encaminhar ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), ou para outra instituição. Se estiver morto, é avaliado o estado de putrefação. Quando pouco, a carcaça é levada às universidades para pesquisa; quando muito, é encaminhada para ser enterrada".

Legislação

No artigo 8º da Instrução Normativa ICMBIO/Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nº 01, de 2014, consta que a implementação de ações que envolvam coleta, captura, abate, transporte, retorno à natureza, introdução, reintrodução e monitoramento da fauna silvestre, depende de avaliação do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio). Licença que o Instituto Verdeluz renova anualmente, garante Larissa Fortes.

A representante da instituição assegura, porém, que o poder público não facilita o trabalho de resgate das tartarugas-marinhas. No último domingo (14), a organização usou as redes sociais para fazer uma reclamação contra a Prefeitura de Fortaleza. Segundo a publicação, uma tartaruga morta, em grau avançado de putrefação, foi retirada da Praia do Futuro, na Capital, pelo poder público, mas não teve a destinação divulgada.

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), por meio da assessoria, afirmou que a Pasta não possui a competência necessária para tratar de assuntos envolvendo fauna silvestre.

A Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) também assegura que a pauta não se refere à competência da Pasta, afirmando, por meio de assessoria, que trata da prevenção de crimes ambientais e que, uma vez que eles já tenham ocorrido, não é demanda da Semace, por exemplo, retirar o animal morto do local.

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