Ceará reduz mortes maternas, mas taxa de óbitos ainda é alta

O Governo do Estado lançou, neste ano, o programa Nascer no Ceará, com o objetivo de mudar o quadro atual

Escrito por Thatiany Nascimento - Repórter ,
Legenda: Em 2017, no Estado do Ceará, o índice foi de 50 mortes a cada 100 mil nascimentos. ONU indica redução para 35 mortes a cada 100 mil

A cada 100 mil bebês nascidos vivos no Ceará em 2017, 50 mulheres morreram em decorrência de complicação durante a gestação, parto ou puerpério. A proporção, que há 10 anos era de 70 óbitos maternos a cada 100 mil nascimentos, felizmente tem sido reduzida no Estado. No entanto, esse índice está longe do quantitativo "aceitável" para países em desenvolvimento, conforme preconizado nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Organizações das Nações Unidas (ONU), cuja meta é de atingir 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos. O agravante, conforme destacado pelo Ministério da Saúde, é que 92% dessas mortes maternas obstétricas são por causas evitáveis, como hemorragias e infecções.

O óbito materno, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), é caracterizado pela morte da mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gravidez. Outra classificação é o óbito materno obstétrico, definido a morte de uma mulher ocasionada por uma complicação durante a gestação, parto ou puerpério ou agravada por esta condição. Em números absolutos, segundo a Secretaria, em 2016, o Ceará registrou 73 óbitos maternos obstétricos. No ano passado, foram contabilizadas 64 mortes do tipo. Dentre as principais causas desses óbitos estão as doenças hipertensivas, as hemorragias, as infecções puerperal, a embolia obstétrica - obstrução de um vaso pela migração de um corpo estranho levado pela corrente sanguínea - e os abortos.

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Os fatores prevalecentes no Ceará, relata a supervisora do Núcleo de Saúde da Mulher, Adolescente e Criança da Sesa, Silvana Napoleão, são os mesmo predominantes no Norte e Nordeste. "Quando a gente investiga o óbito materno, comprova que teve falhas no pré-natal, no parto e puerpério", destaca.

De acordo com Silvana, o programa "Nascer no Ceará", lançado este ano pelo Governo do Estado, tem buscado reverter justamente essas distorções. A proposta é que os gestores municipais garantam a "assistência básica máxima", explica Silvana, assegurando, por exemplo, que as gestantes façam exames básicos como sumário de urina e o VDRL, usado para detectar casos de sífilis. A iniciativa busca padronizar a classificação de risco e fazer a vinculação das gestantes com uma das 22 policlínicas do Estado para efetivar o atendimento especializado. "A Sesa entra com a contrapartida de intensificar a atenção a essas gestações de risco".

Silvana defende, neste plano, reduzir o intervalo entre as consultas e fazer com que essas gestantes de risco sejam acompanhadas por médicos ginecologista-obstetra, pois, o que se percebe hoje é a tratamento dessas grávidas por médicos da família, além da ausência de interação na linha de cuidado dessas gestantes. No terceiro momento, cabe também ao Estado assegurar que essa gestante de alto risco estará vinculada a uma maternidade de atenção terciária. "Hoje, não tem essa vinculação prévia. O município não faz a classificação e a gestante, muitas vezes, ao parir fica peregrinando e para em um hospital que não tem a segurança necessária", reforça.

Unidades

No Interior, os hospitais regionais, segundo Silvana, devem receber as demandas de atendimento de gestações de alto risco. No caso da polução da do Litoral Leste, que aguarda a construção do Hospital Regional, as gestantes enquadradas nesse perfil devem ser referenciadas para as unidades de Fortaleza: Hospital Geral Cesar Cals, a Maternidade Escola Assis Chateaubriand, e a Hospital Geral de Fortaleza.

Silvana destaca que as causas da mortalidade materna "têm grandes diferenças, se considerados os fatores econômicos e sociais das pacientes. "Mulheres que morrem são pobres e negras. Além das dificuldade de acesso em todos os aspectos que ocorre para as mulheres do Interior, como a falta de laboratório e de unidades especializadas. O ideal é que cada município pudesse atender as suas gestantes de alto risco".

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