Capital tem um ano para bater meta de redução de mortes no trânsito

O ano de 2020 é o último para que as cidades brasileiras reduzam em 50% o número de acidentes fatais. Meta foi estabelecida pela ONU e leva em conta a década de 2011 a 2020. No ano passado, a queda chegou a 44% no período

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Intervenções como a instalação de faixas de pedestres e Áreas de Trânsito Calmo estão entre ações para redução de mortes
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Em Fortaleza, entre 2011 - ano de início da Década para Ações em Segurança Viária - e 2018, houve uma redução de 44% na taxa de mortalidade relacionada a acidentes de trânsito. Desde 2014, a Capital também registra quatro quedas consecutivas no número absoluto de mortes. Até o fim de 2020, a cidade tem a meta de reduzir esse tipo de morte pela metade, de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

No último ano, foram registradas 8,6 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, o equivalente a um óbito no trânsito para cada grupo de 12 mil pessoas. Em 2011, o índice era de 15,4. Entre 2014 e 2018, a estimativa é que mais de 400 vidas tenham sido salvas, considerando que as 377 mortes ocorridas naquele primeiro ano tivessem se mantido nos seguintes.

Poder público e especialistas atribuem a redução a intervenções em mobilidade urbana, redesenho viário, fiscalização e comunicação, além de mudanças no comportamento, cada vez mais atento, de condutores, ciclistas e pedestres. Segundo o secretário-executivo da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia, as projeções atuais encaminham a cidade para a quinta queda consecutiva - mas também pede cautela sobre os números.

"Devemos ficar próximos da meta, mas não podemos arriscar ainda. Com o fim de ano, a gente redobra a atenção porque aumenta o consumo de bebida alcoólica", aponta. Esse é justamente um dos principais focos nas ações de fiscalização da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC). "Embora muitas vezes a velocidade seja apontada como a causa principal do acidente, ao beber, as pessoas conduzem de forma mais agressiva", destaca o secretário-executivo.

Para Sabóia, no trabalho de levar à redução das mortes, o passo inicial é avaliar os dados dos acidentes fatais porque, "sem o conhecimento do detalhe, não conseguimos avançar". Sabendo onde as pessoas estão se acidentando, a gravidade e os padrões dos sinistros e o perfil dos acidentados, pode-se partir para ações de redesenho urbano, comunicação e fiscalização.

Apesar dos avanços, no ano passado, 226 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito, em Fortaleza - uma morte a cada 65 colisões. As causas, no entanto, são totalmente evitáveis, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outras 11.150 vítimas ficaram feridas, parte delas com sequelas permanentes. Desde 2011, a Década de Ação para a Segurança no Trânsito incentiva os países a implementar medidas identificadas a nível internacional, a fim de tornarem as suas vias mais seguras.

Educação

O comportamento no trânsito, entretanto, ainda precisa melhorar. A supervisora Edlane Ribeiro - usuária de veículo automotor - reconhece as intervenções realizadas, principalmente a revitalização da sinalização, mas gostaria de ver as ações em mais vias periféricas. "A gente vê muito isso nas grandes vias. As periferias ainda são desassistidas". Ela acrescenta, no entanto, que de nada adianta as ações do poder público, sem a atenção dos usuários no trânsito. "Eu vejo cada absurdo. É muito comum as pessoas dirigindo e digitando no celular ao mesmo tempo", avalia.

Para o atendente Tiago Santos, a pior perspectiva quanto a uma maior segurança viária ainda é a do pedestre. "As intervenções são importantes, mas dependemos muito da consciência do motorista. Muitos, por exemplo, não dão pra gente a preferencial ao dobrar em uma rua, mesmo tendo uma faixa de pedestre".

De acordo com secretário-executivo Luiz Alberto Sabóia, a cidade vem, aos poucos, passando de uma mentalidade em que a prioridade era "o fluxo" para uma que valoriza "a vida". "O que eu percebo é que os condutores passam a respeitar os modos mais vulneráveis. Ainda não temos o respeito à faixa de pedestres como queríamos, mas as travessias elevadas ajudam nisso. É uma mudança em curso, é preciso um tempo maior para incorporar", assume.

Quem anda a pé, na hierarquia dos usuários do trânsito, corre mais riscos. Entre os principais mortos em Fortaleza, estão motociclistas e pedestres, com 44,7% e 36,7% do total, respectivamente, conforme o relatório anual elaborado pela Prefeitura em parceria com a Iniciativa Bloomberg pela Segurança Viária. Os homens representam 83,2% do total de vítimas que perderam a vida no trânsito.

Para a OMS, pensar na segurança viária é um reconhecimento pelos Estados do impacto do número de vítimas do trânsito, "uma vez que mundialmente os acidentes representam uma das principais causas de morte, sendo a primeira entre jovens na faixa etária de 15 a 29 anos e do pesado fardo que as lesões e mortes ocorridas no trânsito representam para as economias nacionais e para as famílias".

A Capital chegou a ser avaliada no estudo "O poder das cidades: atacando doenças não transmissíveis e ferimentos no trânsito", publicado pela OMS no fim de outubro. A entidade elenca as intervenções do projeto "Cidade da Gente", no bairro Cidade 2000, e no entorno do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura como formas de incentivo à ocupação dos espaços públicos. Nos dois modelos, aumentaram as áreas para pedestres e ciclistas.

Iniciativas

Os programas de compartilhamento de bicicletas, como Bicicletar, Mini-Bicicletar e Bicicleta Integrada, foram citados como modelos de sucesso para melhoria da qualidade do ar e da segurança viária. "Estamos finalizando, no primeiro trimestre do ano que vem, o Plano de Segurança Viária de Fortaleza partindo do princípio de que o número de mortes aceitáveis no trânsito é zero", ressalta Sabóia. "A gente ainda tem muito à frente. Na Europa, temos cidades em que há uma morte para cada 100 mil habitantes. No Plano, vamos estabelecer metas anuais para que isso seja um processo continuado".

Sobre as ações para reduzir mortes do trânsito, o Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE) informou, por nota, que "nos últimos anos ampliou sua atuação, tanto nas atividades de fiscalização, quanto nas ações de infraestrutura e educação. Além disso, o órgão faz um trabalho conjunto com a Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza".

Nota do Detran-CE

Nos últimos anos, o Detran-CE ampliou sua atuação, tanto nas atividades de fiscalização, quanto nas ações de infraestrutura e educação. Além disso, o órgão faz um trabalho conjunto com a Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza - AMC. 

Parceria Detran & AMC

Entendendo a importância do trabalho em parceria, o Detran-CE cedeu à AMC – Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza 6 caminhões que fazem o serviço de reboque de veículos, auxiliando a autarquia no desenvolvimento de suas atividades de fiscalização. Além disso, o Detran realiza a cobrança das multas autuadas pela AMC e repassa cerca de 12 milhões de reais por mês para o órgão, referentes a multas que são cobradas junto com o licenciamento de veículos, recursos utilizados pela autarquia para o incremento das suas atividades de fiscalização, sinalização e educação. 

As ações do Detran-CE também se refletem em todo o interior do Estado e isso é comprovado através de índices que demonstram que, além de Fortaleza, outros municípios também estão reduzindo seus índices de acidentes. Num estudo que será divulgado ainda este ano pelo Detran-CE, além da capital, os municípios que apresentaram maior redução absoluta de acidentes em rodovias estaduais no período de 2014 a 2018 foram:

- Pacatuba: (-51%)
- Juazeiro do norte: (-34%)
- Caucaia: (-17%)
- Maracanaú: (-15%)

Outro índice relevante é a evolução de acidentes nas rodovias estaduais. Ao longo dos últimos 4 anos, registrou-se uma redução de 25,4% no total de acidentes e 31,1% na quantidade de acidentes fatais.

Fiscalização

Diariamente, as equipes do Detran-CE realizam as chamadas blitzes ou operações de fiscalização que são intensificadas durante os finais de semana e feriados na capital. De segunda a quinta são realizadas em média, 8 operações por dia nos três turnos (manhã, tarde e noite), enquanto de sexta a domingo este número sobre para 12 operações diárias. Em todas as operações, são utilizados etilômetros para auxiliar nas fiscalizações baseadas na Lei Seca. Além disso, os agentes verificam as condições gerais do veículo e do condutor, checando documentos como CRLV, CNH e utilização de equipamento de segurança como cinto e capacete.

Ao final de cada mês, são realizadas, em média, 228 operações que abordam aproximadamente 7.000 veículos. Do total de veículos abordados, aproximadamente 12% recebem algum tipo de notificação. Entre as principais notificações, podemos citar: veículos não licenciados, não uso do capacete, conduzir veículo sem habilitação e dirigir sob efeito de álcool ou substância psicoativa.

Infraestrutura

Em 2018, o Programa Sinalize que, em parceria com o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza investiu 30 milhões em obras de requalificação, conservação e recuperação de vias de trânsito urbanas, incluindo a implementação de ciclovias e calçadas, além da implantação de sinalização vertical e horizontal para promoção da segurança de veículos e pedestres em diferentes bairros da cidade.

Entre 2016 e 2019, o Detran-CE entregou um conjunto de 6 passarelas que facilitam a vida de milhares de pessoas, oferecendo tranquilidade para os pedestres, solucionando problemas históricos de travessia crítica em trechos rodoviários, sendo 4 dentro de Fortaleza. Erguidas em locais de grande fluxo de pessoas nas principais rodovias estaduais como CE040 (AV. Washginton Soares) e CE-401 (Av. Senador Carlos Jereissati), as passarelas construídas pelo Detran CE atendem aos anseios da população que precisa cruzar diariamente essas estradas de forma segura.

Logo após a construção e liberação de cada passarela para usufruto dos pedestres, pesquisadores do Detran-CE acompanham periodicamente a utilização deste equipamento através de pesquisa. Dessa forma, calcula-se o índice de utilização das passarelas que, no caso do Ceará, chega a 86%. Mesmo apresentando um índice considerado elevado, o Detran CE continua realizando seu trabalho de educação, abordando os pedestres e buscando convencer aqueles que ainda não fazem uso da passarela, proporcionando-lhes informações sobre os riscos e como efetuar uma travessia mais segura. Aos que já utilizam a passarela, as equipes parabenizam e reforçam que eles fizeram a escolha mais adequada.

Educação

Desde maio de 2009, a Escola de Educação para o Trânsito do Estado do Ceará na sua Sede no bairro Maraponga (Av. Godofredo Maciel, 2900), em Fortaleza, desperta nas crianças e jovens, de forma lúdica, a consciência para o desenvolvimento de atitudes e posturas cidadãs no trânsito. A escola funciona de segunda a sexta, das 08h às 17h, recebendo visitas de escolas públicas ou privadas, ONGs e diferentes instituições para repassar às crianças e adolescentes de 06 a 16 anos lições sobre um comportamento seguro no trânsito. Além desse serviço, a escola também oferece palestras educativas que podem ser solicitadas por empresas públicas ou privadas e diferentes organizações. Basta montar um grupo de no mínimo 40 pessoas e um local com equipamento apropriado para que os educadores do Detran-CE levem informações e conscientização para adultos. Em 2019, empresas como ENEL, Ambev, Shopping Iguatemi e muitas outras ofertaram para seus funcionários as palestras do Detran-CE como mais uma atividade de segurança no ambiente de trabalho. 

Em parceria com elenco da Comédia Cearense, duas peças teatrais chamadas “Chapeuzinho no Vermelho” e “Passeio de Carro” são apresentadas ao longo de todo o ano em diferentes escolas e eventos da capital e do interior, levando Educação para o Trânsito de forma lúdica e divertida.

Em 2018, a Escola de Educação para o Trânsito de Fortaleza atendeu 180 escolas e promoveu suas ações para mais de 17 mil pessoas.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.