Capital tem retorno positivo com ações voltadas ao pedestre

Primeiras iniciativas do movimento de inversão da prioridade no trânsito de Fortaleza já apresentam resultados positivos no quesito segurança viária. Entre os desafios para um melhor caminhar, está a condição das calçadas

Escrito por Renato Bezerra , renato.bezerra@diariodonordeste.com.br
Legenda: A Área de Trânsito Calmo do Hospital Infantil Albert Sabin é destaque entre as intervenções
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Correndo para reverter o prejuízo, metrópoles brasileiras tentam, hoje, reverter um longo e injusto processo que deu aos veículos automotores a prioridade no planejamento, construção e expansão de suas estruturas viárias, em detrimento justamente daquele que sempre foi o mais vulnerável no trânsito: o pedestre.

Em Fortaleza, o desafio é mudar não só esse cenário, mas também o comportamento de todos os usuários no tráfego urbano, especialmente os motoristas.

Um ano e meio após alterações estruturais que fizeram do entorno do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS) uma região amigável para se caminhar, a comerciante Lúcia Almeida, 55, percebe e aprova as mudanças. "O fluxo de carros está mais tranquilo e hoje é melhor para andar, principalmente os cadeirantes. Antes não tinha espaço", afirma.

O local recebeu a 2ª Área de Trânsito Calmo de Fortaleza, conceito que objetiva a segurança de pedestres e pessoas com mobilidade reduzida, agrupando intervenções como travessias elevadas, lombadas físicas, prolongamentos de calçadas, entre outras.

Na Rua Tertuliano Sales, uma das requalificadas pelo projeto, o pedestre passou a ter 56,5% do espaço, frente aos 31,5% antes da intervenção. Como resultado, o número de pedestres andando na rua, em vez de na calçada, passou de 41,7% para somente 3,8%, conforme dados da Prefeitura, em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global.

"Muitos criticam que o pedestre não se comporta de forma adequada, mas para ele fazer isso, a estrutura tem que estar adequada a ele. No Albert Sabin, as pessoas andavam na rua não porque queriam, mas porque não tinha espaço adequado", afirma Dante Rosado, coordenador Executivo da Iniciativa Bloomberg em Fortaleza.

Resultados

Junto às Áreas de Trânsito Calmo, no Albert Sabin e no bairro Rodolfo Teófilo, o gestor aponta com resultados efetivos o projeto Cidade da Gente - implantado na Cidade 2000 e no entorno do Centro Cultural Dragão do Mar - também sob o conceito de requalificação do espaço público; além da readequação de velocidade, considerada a principal medida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que a velocidade máxima em vias urbanas arteriais seja de 50 km por hora. Já em trechos com grande circulação de pedestres e ciclistas, a recomendação para o limite máximo é menor, de 30 km por hora.

Seis meses após a alteração na velocidade máxima permitida de 60 km para 50 km, na Avenida Leste Oeste, a redução no número de atropelamentos chegou a 83%, segundo aponta Dante Rosado. "As pessoas não entendem que, ao mudar a velocidade, o grande beneficiário é o pedestre, que é o usuário mais vulnerável. Esse benefício é o maior de todos, a preservação da vida das pessoas", comenta o coordenador da Bloomberg.

A expansão de iniciativas com foco no pedestre está prevista para este ano, segundo a Prefeitura de Fortaleza. O bairro Benfica receberá, neste mês, o projeto Esquina Segura 2.0. Até dezembro, 20 esquinas terão recebido a intervenção, estima a Pasta. Em abrangência maior pela cidade, o superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), Arcelino Lima, destaca a ampliação do número de semáforos exclusivos para pedestres em mais de 50% nos últimos quatro anos e a implantação de mais 45 até o fim do ano. Atualmente, existem 247 equipamentos.

Calçadas

Além da ausência de um maior número de vias adequadas ao pedestre, o incentivo ao ato mais natural do ser humano na Capital enfrenta, ainda, a irregularidade e ocupação ilegal dos passeios. Entre janeiro deste ano e a última terça-feira (7), a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) emitiu 519 notificações por meio da operação Calçada Acessível. Até o fim do ano, o objetivo é percorrer mais de 70 vias da cidade orientando donos de comércios e residências sobre a correta utilização e manutenção dos passeios.

O Plano Municipal de Caminhabilidade, por sua vez, estima o incentivo ao deslocamento a pé pela cidade. De acordo com a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), o desenvolvimento de um projeto-piloto na Rua João Moreira, no Centro, norteia a elaboração do documento, que deve aplicar no espaço urbano os conceitos e padrões de acessibilidade focados na escala do pedestre. O projeto será monitorado por meio de indicadores de mobilidade ativa e caminhabilidade.

Demais aspectos relacionados a boas práticas de mobilidade urbana e segurança viária serão abordados em reportagens do Diário do Nordeste, durante o mês de maio, por meio da Campanha "Amigos do Trânsito", do Sistema Verdes Mares. A cada semana, o foco será em um tipo específico de usuário: pedestre, ciclista, motociclista e motorista.

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