Câncer infantil: Ceará é referência no tratamento, mas pode avançar

Especialista defende a ampliação do atendimento oncológico de crianças com serviço de transplante de medula óssea e radiocirurgias contra tumores cerebrais, ainda inexistentes no Estado, que atende ao Norte e ao Nordeste

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Hospital Albert Sabin é a principal unidade de saúde no Ceará para o tratamento de câncer em crianças
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

O câncer é silencioso e pode acometer qualquer faixa etária, sendo perigoso inclusive para crianças e adolescentes. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, para cada ano do biênio 2018-2019, ocorrerão 2,9 mil novos casos de câncer infantojuvenil na Região Nordeste. Em todo o Brasil, serão 12,5 mil novas ocorrências. No Ceará, o tratamento da doença tem como grande expoente o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), mas especialistas defendem outros avanços para maximizar as chances de cura.

De acordo com a onco-hematologista Paola Tôrres Costa, professora de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Fortaleza (Unifor), a projeção de novos casos no Nordeste é ainda mais alarmante: 9 mil ao ano. Embora o Albert Sabin seja o único hospital no Ceará com serviço de diagnóstico precoce do câncer e referência no Norte-Nordeste no atendimento a pacientes graves e de alta complexidade, ainda têm lacunas que poderiam ser preenchidas.

"Temos um dos hospitais que mais atende a essa população, mas não um serviço de transplante de medula óssea para crianças", explica. O tratamento é indicado para doenças relacionadas com a fabricação de células do sangue e com deficiências no sistema imunológico - justamente os afetados pelas leucemias, tipos de câncer que mais acometem as crianças, segundo a especialista.

Hoje, o paciente infantil que precisa da intervenção é encaminhado a hospitais de referência no Sudeste ou no Sul do Brasil, como o Hospital de Amor de Barretos, em São Paulo. Além das leucemias, outro câncer que comumente afeta essa população é o cerebral. "Há uma grande incidência de tumores no cérebro, mas ainda não temos, em Fortaleza, a radiocirurgia", exemplifica Paola Tôrres. A técnica utiliza radiação para destruir ou inibir o crescimento das células anormais que formam os tumores. "Precisamos de mais investimentos e de atenção nessa área para que possamos avançar nos tratamentos", sintetiza a médica.

Sinais

Os desafios e potencialidades da área estarão em discussão hoje e amanhã (28), no Fórum Todos Juntos Contra o Câncer - Norte e Nordeste, que ocorre no Hotel Praia Centro. Criado em parceria pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e Instituto Roda da Vida, o evento reúne médicos, profissionais da saúde, representantes do Governo, de hospitais e de organizações de apoio ao paciente para debaterem o tratamento oncológico nessas duas regiões do Brasil.

Há maior necessidade, inclusive, de conhecimento da população. Paola Tôrres esclarece que a incidência do câncer infantil tem aumentado nas crianças pela maior exposição a agrotóxicos presentes nos alimentos. Outro fator que pode interferir na propensão de desenvolvimento da doença é a qualidade de vida da mãe durante a gestação, incluindo a dieta, embora a doença não seja hereditária.

A médica afirma que levar os filhos para consultas com um pediatra, regularmente, pode prevenir o câncer, até porque os sinais da doença são capazes de se esconder atrás de sintomas que parecem comuns a outras infecções da infância. Com o diagnóstico precoce, é possível aumentar as chances de cura em até 75%, conforme o Hias.

"Redução na disposição em realizar atividades cotidianas, redução do apetite e febrículas são sinais que se confundem. Na imensa maioria das vezes, são realmente infecções autolimitadas que vão embora logo. Se a criança fica com esses sinais persistentemente, se passa mais de uma semana com esses sintomas, por exemplo, deve ser levada a um pediatra para fazer exames", alerta.

Expansão

O ambulatório de câncer infantil começou a funcionar no Hospital Albert Sabin ainda na década de 1980. No fim de 2010, ganhou reforço do Centro Pediátrico do Câncer (CPC), resultado de uma parceria entre o Governo do Ceará e a Associação Peter Pan (APP). A unidade é formada por uma equipe de profissionais especialistas e conta com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) exclusiva para pacientes onco-hematológicos pediátricos, ambulatório de diagnóstico precoce e laboratório.

A Associação Peter Pan informou que, somente em 2018, mais de 2.600 crianças, do Ceará e de outros Estados, foram atendidas ao longo dos 12 meses. Em abril deste ano, mais 14 leitos de enfermaria passaram a funcionar na expansão do CPC, totalizando 95 leitos exclusivos para oncologia pediátrica na unidade. A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que foi autorizado o financiamento de novos leitos do Centro e que "as providências estão sendo tomadas".

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