Brincadeiras ao ar livre melhoram o desenvolvimento na infância

Ao visitar espaços públicos, as crianças põem em prática a socialização e a aprendizagem, passando a entender melhor a cidade onde vivem, de acordo com especialistas. Pais e filhos se divertem e ampliam visões de mundo

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Psicólogos afirmam que o ato de brincar é imprescindível na formação das crianças
Foto: FOTO: LUCAS BARBOSA

Brincar, no dicionário, quer dizer "entreter-se". Quando conjugado na infância da psicóloga Viviane Lopes, 43, o verbo tinha um significado particular que a faz lembrar com saudosismo. "Era um mundo só nosso. Pega-pega, esconde-esconde, correr por todos os lados com amigos na rua". Agora, 'gente grande', casada e mãe de duas crianças, ela se esforça para que Luna,7, e Pedro,11, curtam a fase também de forma lúdica no Parque do Cocó, onde mãe e filhos se reúnem semanalmente em busca de ar livre e pé no chão.

Natural de São Paulo, Viviane relembra seus próprios tempos de escola ao ver as crianças correndo no gramado. "Eu me preocupo em trazê-los exatamente por isso. Eu vejo que, em casa, eles ficam muito tempo no celular quando estão sem nada para fazer, começam a ficar muito estressados, os dois, e ao mesmo tempo, ficam em silêncio. Mas se aquilo sair da mão deles, eles têm uma abstinência muito clara do aparelho", explica a psicóloga. Ela percebe, a partir disso, a mudança no humor dos filhos, que se mostram simultaneamente tensos e entediados com a ausência de contato social.

Com o aparelho em mãos, segundo Viviane, o conteúdo na tela é absorvido sem a troca e a criatividade características do 'mundo infantil'. Já no Parque do Cocó, brincadeiras surgem naturalmente, criadas pelos filhos, que se sentem livres para elaborar as próprias regras. "Quando eles estão no parque, esquecem do celular, nem pedem. Eles brincam de bola, de pular corda, de imitar, corrida do saco, de pega-pega", vibra.

A diferença se faz notar principalmente através da filha. "Ela é muito tímida, aí de tanto eu levá-la às praças que tem parquinhos, ela desenvolveu bem mais a sociabilidade. Ela chegava e não conversava com ninguém. Agora ela mesma chega, se apresenta e convida para brincar", observa. Para Viviane, os piqueniques sob o sol, aos domingos, onde ela pode se sentar para conversar com os filhos, são sinônimo de saúde mental.

Raiz

A inclusão familiar também motiva Juliana Almeida, 36, a levar as sobrinhas Giulia Montezuma, 8, e Evily Almeida, 11, para passear na Praia de Iracema. A corretora de saúde viveu sua infância no Município de Icó, a 365,5 quilômetros de Fortaleza, e considera um privilégio poder conviver com o mar na Capital.

"Eu sempre fui muito para o sítio. Tinha contato com os animais, açude, a gente brincava na rua. Eu tento passar essa infância mais 'raiz' para as minhas sobrinhas e os meus enteados, tanto é que eu os trago aqui para a praia". Segundo ela, essa convivência fortalece vínculos e cria lembranças, elementos que são "extremamente importantes para as crianças nessa fase da vida".

Andando de patins pela orla, a pequena Giulia diz que 'se sente como ela mesma' nesse momento. "Quando eu estou em casa, me sinto presa algumas vezes, porque não tenho nada para fazer. Mas, quando eu venho à praia, eu sinto o ar na minha cara, eu me sinto livre, feliz, alegre. Eu brinco mais de patins, skate, corda, algumas vezes jogo bola", revela a estudante.

"Com o passar dos anos, as formas de brincar se renovaram, e as crianças tornaram-se aficionadas por celulares e brinquedos virtuais. O brincar de subir em árvore, de bola, bicicleta e de lama constam apenas no imaginário dos que hoje são adultos", lamenta Fabiano Lopes, 38, auxiliar de almoxarifado. Ele nota que muito mudou em comparação às maneiras de brincar 20 anos atrás. Os jogos eletrônicos ficaram mais populares, afirma.

Lopes destaca que sempre tenta afastar seu filho Gabriel, 4, do celular, a fim de permitir que ele "seja criança" e viva "pelo menos, 10% do que era antigamente". "Já que hoje eles não podem mais subir em árvores, em pé de mangueira e goiabeira, tem que saber da importância de brincar. Eu prezo muito por isso, sempre brinco com ele de latinha, carrinho. Tentando tirá-lo da tecnologia de hoje", afirma.

Vivência

A psicóloga clínica Cláudia Jardim, professora da Universidade de Fortaleza, descreve o ato de brincar como imprescindível para a fase da infância, sendo um campo de possibilidade de subjetivação, de elaboração e de conhecimento de si próprio.

"É um tema que está muito próximo do outro, uma coisa que contém a outra, apesar de a gente saber que existem crianças que passam pela infância sem brincar, porque tem a questão do trabalho, das poucas condições, e elas acabam entrando num campo mais duro da vida", ressalta.

Segundo ela, os pais precisam utilizar esses espaços para o bom desenvolvimento dos filhos. "A gente mora numa cidade de luz, de praia, de sol, e esse movimento de ir para a rua é muito saudável porque amplia essa concepção de mundo". A ida a espaços públicos representa, ainda, uma forma de socialização e aprendizagem, uma vez que a criança passa a conhecer o mundo através da vivência. "É um aprendizado da cidade onde ela mora, das relações, e essa movimentação que contempla tanto os pais quanto as crianças", garante.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.