Avenidas 13 de Maio e Heráclito Graça têm as maiores concentrações de poluentes no ar

Pesquisa da Uece e do IFCE mapeou emissões em 13 locais de prática de esportes ao ar livre de Fortaleza e constatou presença de compostos prejudiciais à saúde

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: A poluição, segundo a pesquisa, acaba sendo potencializada nos primeiros momentos da manhã, com os raios do sol.
Foto: FOTO: NAH JEREISSATI

Monitorar a qualidade do ar é questão de saúde pública, segundo alerta a professora doutora Mona Lisa Moura, da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Embora não haja um monitoramento efetivo da qualidade do ar na Capital pelo poder público há 12 anos, a Uece e o Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE) investigam emissões de poluentes na cidade, pelo menos, desde 2012. Um dos estudos mais recentes monitorou as concentrações de gases em 13 áreas de prática esportiva, e encontrou as maiores concentrações de poluentes legislados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) no entorno do IFCE, na Avenida 13 de Maio, e na praça Bárbara de Alencar, na Avenida Heráclito Graça.

Entre os gases analisados (emissões-traços de poluentes), estão o dióxido de nitrogênio (NO2), irritante ao sistema respiratório que pode prejudicar a função pulmonar, além de contribuir para chuvas ácidas e a formação do ozônio (O3); e o dióxido de enxofre (SO2), gerado em processos de combustão de diesel e gasolina, por exemplo, que também irrita olhos, membranas mucosas e vias respiratórias, podendo causar edema pulmonar e bronquite.

As chamadas Áreas Urbanas Desportivas (AUDs) foram monitoradas nas sete Regionais, durante três meses, nos períodos da manhã e da tarde. Os pesquisadores revelam que, embora as emissões de gases estejam abaixo das normas vigentes, há preocupação quanto ao tempo de exposição da população.

"Por mais que você não veja, você está adoecendo. As duas extremidades etárias, idosos e crianças, podem sofrer problemas de saúde. A poluição do ar é um problema grave de saúde em todo o planeta", afirma Mona Lisa, destacando o surgimento cada vez maior de reações alérgicas e problemas de pele em decorrência da exposição prolongada às substâncias.

As práticas esportivas, principalmente a caminhada e a corrida de rua, cresceram em Fortaleza, nos últimos anos, acompanhadas pela instalação de equipamentos públicos como academias ao ar livre. Porém, para Moura, sem estudos de impacto da qualidade do ar local.

Conforme a especialista, muitas pessoas costumam frequentar praças a partir das 6h da manhã, mas o horário coincide com o surgimento dos raios solares: eles reagem fotoquimicamente com os gases emitidos pelos veículos e são capazes de originar poluentes secundários ainda mais danosos à saúde.

Alternativas

"E, quando você está lá fazendo exercício, claro que está inspirando bem mais", lembra a estudiosa. As concentrações de gases atingem níveis substanciais ao meio-dia. O ideal, segundo a pesquisa, é iniciar a atividade física ao ar livre a partir das 17h45, mas, quanto mais à noite, melhor.

Além das praças já mencionadas, foram registradas concentrações-traço desses poluentes na da Gentilândia, no Benfica; numa localizada na Av. Leste-Oeste; e nas praças Luiza Távora e das Flores, ambas na Aldeota. As menores concentrações foram observadas na Praça Farias Brito, no Passaré, e na Praça do Detran, no bairro da Maraponga.

Outro levantamento do Laboratório de Conversão Energética e Emissões Atmosféricas (Laceema), integrante dos Laboratórios Associados de Inovação e Sustentabilidade (Lais/Uece) em conjunto com IFCE, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Lisboa, mostra que Fortaleza foi e é responsável por mais de 80% das emissões de poluentes de toda a Região Metropolitana. Motos antigas são grandes contribuintes, já que, só após 2011, passaram a ser fabricadas com catalisadores que auxiliam na redução. Já caminhões e ônibus colaboram mais para as emissões de óxidos de nitrogênio e material particulado (a fumaça preta que sai do escapamento).

O estudo fez estimativa das emissões de poluentes na Capital para o ano de 2020 e desenhou dois cenários futuros com possíveis melhorias: um inclui a utilização exclusiva de etanol por veículos flex; e, o outro, a expansão do sistema de Transporte Rápido por Ônibus (BRT) na cidade, a exemplo dos que já funcionam nas avenidas Bezerra de Menezes e Aguanambi.

Eficiência

A equipe da professora Mona Lisa mostra que mais alternativas incluem migrar fluxos de vias, fazer mapeamento de transporte de aplicativos e táxis e incentivar neles a mudança de fontes energéticas, como sair da gasolina e do diesel para o gás natural; bem como políticas de melhoria do transporte público com uso do biometano (Gás Natural Renovável), que pode ser originado da degradação do lixo, tal como o que o Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia (Asmoc) já produz.

Alterações

As alterações visam a redução do uso da gasolina, combustível que emite a maior quantidade de poluentes analisados. "Se as emissões são elevadas, é porque nossa máquina térmica ainda é ineficiente (mesmo com tanta tecnologia nos veículos). De cada litro de gasolina que você abastece, só, ou pouco mais de 28% a 30% vai se transformar em trabalho", explica a professora Mona Lisa. A especialista acredita que mudanças reais só devem acontecer quando, atrelado à conversão energética, o problema for sentido no bolso dos motoristas.

Licitação

Na semana passada, o Diário do Nordeste explicou que a Prefeitura de Fortaleza lançou uma licitação para a contratação de uma Central de Monitoramento do Ar, incluindo uma estação móvel.

A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) adquiriu equipamento semelhante que deve percorrer a Capital e outras áreas do Ceará, mapeando e ranqueando, periodicamente, o índice de qualidade do ar.

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