Avenida Eduardo Girão passa por reparos há quase nove anos

Via movimentada de Fortaleza recebe intervenções que interferem no trânsito e no cotidiano de moradores da área. Segundo a Cagece, já foram investidos cerca de R$ 13,6 milhões nas obras, mas não há prazo para fim dos trabalhos

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: No local, não há necessidade atual de interdição de ruas secundárias, mas veículos precisam encarar um estreitamento que piora o tráfego nos horários de pico
Foto: FOTO: ISANELLE NASCIMENTO

Esgoto tratado e saneamento são direitos básicos, mas envolvem uma rede de tubulação intrincada que serpenteia sob nossos pés. Tão complexa que, em Fortaleza, uma grande avenida passa por obras recorrentes na rede de esgotamento sanitário há quase uma década. Trata-se da Avenida Eduardo Girão. Junto à obra, uma coleção de reclamações.

Quem passa por esse trecho da cidade sabe bem como é a situação: muito quebra-quebra, interdições no tráfego e mau cheiro, às vezes, durante vários meses. Atualmente, a Avenida passa por mais uma obra que faz parte de um projeto maior - ainda sem data de conclusão.

A reportagem do Sistema Verdes Mares conferiu que há obras da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) por lá, que datam de janeiro de 2011. À época, eram mais comuns intervenções emergenciais por conta de abertura de crateras no asfalto e do entupimento de bocas de lobo. Em 2013, começaram obras de substituição da tubulação na via, também conhecida como Avenida do Canal.

De metro em metro, as obras avançaram. Segundo a Cagece, os serviços visam à substituição da rede da avenida, que possui 5 km de extensão. "Até o momento, mais de 2,5 km da rede foram substituídos. No total, a Cagece já investiu cerca de R$ 13,6 milhões nos serviços realizados na via", notificou a empresa.

As obras são executadas de forma gradativa devido às intervenções no trânsito. A Companhia não deu prazo para o fim dos serviços. Até a primeira semana de setembro, a via terá um novo trecho em obras, entre as ruas General Silva Júnior e Padre Leopoldo Fernandes, para substituir 80 metros de tubulação. O serviço está orçado em R$ 192 mil.

Modificação

Conforme a Cagece, as tubulações de concreto da área estão sendo trocadas por um material de plástico reforçado com Fibra de Vidro (PRFV), "mais resistente aos gases ácidos do esgoto e com maior durabilidade". Embora não haja interdição total, os veículos precisam trafegar por apenas uma faixa estreita. As intervenções trazem impactos também aos negócios da região.

Flávia Furtado, proprietária de uma gráfica às margens do canal, conta que os nove anos de obras no entorno resultaram em acúmulo de prejuízos. "O engarrafamento fica pior e os clientes reclamam. No fim do ano, chegamos a fechar totalmente o comércio. Atrapalhou bastante", lamenta a empresária.

Na avaliação de Marco Aurélio Holanda, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), "a engenharia é capaz de fazer qualquer coisa desde que se aloque recursos necessários", que devem ditar a rapidez ou a demora da execução. Ele também considera a troca do concreto pela fibra de vidro "corretíssima". "O processo de decomposição da matéria orgânica dentro dos tubos de esgoto corrói o concreto, que está condenado rapidamente a se deteriorar. A fibra de vidro tem durabilidade muito superior. Se for bem executada, provavelmente não vão ter de refazer essa obra por um bom tempo", explica, ressaltando que a fibra deve ser assentada com cuidado porque é mais sensível a choques mecânicos.

Tempo de espera

Enquanto isso, Fernando Queiroz, dono de uma loja de tecidos na Avenida, contabiliza diversos problemas. "Estou sem estacionamento para clientes. A pista cedeu porque, quando cavaram, esqueceram de recolocar as placas de ferro. De uma hora para outra, o asfalto pode ceder. E o pedestre reclama porque a calçada tem entulho e precisa ir para o meio da rua, correndo risco", relata, reclamando que operários "disseram que a obra iria demorar uma semana e já está com 20 dias".

Legenda: Empresário Fernando Queiroz aponta para trecho que ele julga perigoso pela possibilidade de o asfalto ceder
Foto: FOTO: ISANELLE NASCIMENTO

Ainda de acordo com a Cagece, o objetivo da obra é "otimizar a capacidade de transporte dos efluentes produzidos na área, otimizar o fluxo do esgoto e prevenir extravasamento na rede coletora". A Companhia alerta ainda sobre o mau uso da rede e recomenda que a população "não destine lixo e gordura à rede de esgotamento sanitário". "Além disso, em nenhuma ocasião, os equipamentos da Cagece devem ser manuseados por pessoas não autorizadas", completa.

Marco Aurélio Holanda, da UFC, confirma que as ligações clandestinas de drenagem podem contribuir para corromper a tubulação.

"Você acaba vendo a rede de esgoto em colapso na época de chuvas, quando não deveria haver", explica. O ideal, para o especialista, é o uso de um sistema separador absoluto entre as águas pluviais e as provenientes do esgoto sanitário de residências, estabelecimentos comerciais e fábricas.

O canal da Avenida Eduardo Girão, também conhecido por Riacho Tauape, faz parte da bacia do Rio Cocó. Ele canaliza o sangradouro da Lagoa do Porangabussu e recebe uma confluência do canal do Jardim América; este, por sua vez, originado no sangradouro da Lagoa Damas.

A construção do canal data da década de 1950. O objetivo inicial era minimizar as áreas alagadas da região. As águas correm por vários bairros até convergirem para o Rio Cocó, após a Avenida Governador Raul Barbosa, no bairro da Aerolândia.

 

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