Avanço do mar gera riscos e prejuízos para comerciantes no Icaraí

O asfalto destruído no limite entre a Avenida Litorânea e o mar, em Caucaia, dificulta o trânsito de veículos e pedestres. Para comerciantes e moradores da região, com inúmeras dificuldades, não há mais esperança de melhorias

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Degradação da Avenida Litorânea segue ameaçando moradores e comerciantes
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Há 15 anos, o quebrar das ondas compunha o cenário de tranquilidade e lazer na Praia de Icaraí, no município de Caucaia. Hoje, quando quebram, as águas do mar levam consigo pedaços da Avenida Litorânea, que margeia a orla.

O oceano já engoliu grande parte do que antes era a faixa de areia, e o medo do comerciante Idelmyr Arrais, 56, é de que suas barracas de praia sejam as próximas. Ele é proprietário de uma sequência de unidades situadas na Avenida, no trecho entre as ruas N e R. Na manhã de quarta-feira (4), sem clientes à vista, Idelmyr armava guarda-sóis presos a blocos de concreto, enquanto contemplava o estrago feito pela última maré alta.

"Eu durmo na parte de trás de uma das barracas. Já acordei no desespero, no meio da madrugada. Eu deitado e a água correndo pelo chão, tudo tomado. Perdi fogão e geladeira, o chão da barraca ficou cheio de cascalho, que eu tirei sozinho. Faz uns dois anos", lembra. Mais recentemente, há cerca de 15 dias, a maré atingiu o asfalto da via a poucos metros da frente de uma de suas barracas, fazendo ceder o material.

"Agora, para os carros passarem aqui, só se for pela entrada da minha barraca. Deixei de armar as mesas ali, passei a colocar nas laterais. Mas até isso eu vou deixar de fazer, porque não compensa. O dinheiro não dá nem pra pagar a conta de luz. Vou ter que fechar a unidade", lamenta.

Mesmo com as outras barracas, o prejuízo se faz notar. Segundo o comerciante, os danos à Avenida Litorânea desencorajaram turistas a visitar a praia durante o Carnaval, período de expectativa para os demais vendedores. "Esse feriado foi um fracasso, a pior data dos últimos anos", admite Idelmyr.

Para ele, a última barreira de contenção feita pela Prefeitura de Caucaia funcionou, mas por pouco tempo. Com o avanço contínuo do mar, sua esperança recai sobre uma mudança para o Interior do Estado, quando a vida no litoral se tornar insustentável. "Vou voltar pra Acopiara, onde eu nasci. Vai ser o jeito. Isso aqui não melhora. Não acredito que vai mudar mais".

Preocupação

O funcionário público Dennis Ferreira, 49, compartilha a opinião acerca da realidade na orla do Icaraí. Morador do litoral de Caucaia há 10 anos, ele revela a insatisfação com a cratera profunda que se formou no asfalto logo em frente ao condomínio em que habita. "É um problema em todos os sentidos. Uma poluição visual, acaba com a paisagem, quase não dá pra passar com carro. E só piorou com o tempo", avalia. "Não tenho esperança nenhuma de que isso vá mudar tão cedo".

Diante do cenário preocupante, com medidas anteriores ineficazes para reduzir os danos do avanço do mar, a Prefeitura de Caucaia informou que apresentou ao Governo Federal projeto no valor de R$ 129 milhões, para a construção de 12 espigões de 250 a 400 metros, em formato de serpente. O plano prevê também monitoramento oceânico, aterro da praia, com dragagem da areia do mar, drenagem pluvial e contenção das encostas. O município não informou, no entanto, prazos de execução das medidas.

Segundo o Executivo, no dia 17 de janeiro, "a Seinfra recuperou o muro de proteção localizado na Avenida Litorânea". Ao todo, 180 metros da orla receberam obras de enrocamento, que é a colocação de pedras e areia, além de preenchimento de uma camada de base granular e, em seguida, asfaltamento da avenida. "A Rua Sete de Julho, localizada no Icaraí velho, e a Rua Raimundo Mendes, no Icaraí Novo, também receberam obras de reestruturação realizadas pela Seinfra, totalizando 1.800 metros quadrados de calçamento revitalizado", finaliza a nota.

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