Avanço de barracas prejudica resgates na Praia do Futuro

Visão de bombeiros guarda-vidas em torres de observação é dificultada pela presença crescente de guarda-sóis e coqueiros na faixa de areia, dificultando a visualização de banhistas em situações de afogamento

Escrito por Theyse Viana , theyse,viana@diariodonordeste.com.br
Legenda: Altura das torres não é suficiente para driblar os obstáculos colocados pelas barracas na Praia do Futuro
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Em nome do conforto, do lucro, da otimização do espaço, não importa - as estruturas de barracas da Praia do Futuro, em Fortaleza, estão indo longe demais. Além da ocupação excessiva da faixa de areia, que é espaço público, o avanço tem causado outro problema grave: o bloqueio da visão que os agentes do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) devem ter dos banhistas, fundamental para sucesso dos resgates em situações de afogamento.

De acordo com o comandante da 1ª seção de salvamentos do CBMCE, major Jectan Oliveira, os pontos com maior número de frequentadores e que registram mais ocorrências de afogamentos, fatais ou não, ficam entre as barracas Cuca Legal e Vira Verão - justamente onde se concentram transtornos aos trabalhos de salvamentos. No primeiro estabelecimento, está instalada uma torre com dois guarda-vidas, cercada por mesas, cadeiras e guarda-sóis que restringem completamente o raio de visão dos profissionais.

"Isso compromete o serviço, dificulta a ação do guarda-vidas. Na barraca Crocobeach, por exemplo, tivemos que desativar a torre e deslocar para a vizinha. A implantação de coqueiros também compromete consideravelmente a linha de visão. Além disso, as condições das torres de observação não são adequadas, já carentes de reforma", destaca o major.

Danificadas

A reportagem do Sistema Verdes Mares visitou torres em quatro pontos diferentes da praia e atestou ambos os problemas. Em três delas, a ferrugem já corrói a estrutura, fezes de pássaros entram pelo teto de palha desgastado e estacas de madeiras quebradas completam a precariedade.

Na quarta, em frente à barraca Vira Verão, a torre que existe é improvisada, construída com materiais reaproveitados e comprados pelos próprios guarda-vidas para se protegerem do sol. Um dos profissionais informou que aquele é justamente um dos pontos mais críticos da praia, devido à formação de valas, gerando as chamadas correntes de retorno (fenômeno que "puxa" os banhistas do raso para as regiões profundas) - o que, em tese, deveria demandar mais atenção e estrutura para os resgates.

Outro guarda-vidas afirmou ainda que a forma como as torres em geral são construídas é incorreta, já que, ao identificar uma vítima, o profissional precisa descer por dentro da estrutura, perdendo contato visual e atrasando o resgate.

Conforme o comandante da 1ª seção de salvamentos, "já está em trâmite na corporação um projeto de revitalização e construção de torres novas", com desenho baseado nas norte-americanas. "Existe a promessa da associação dos proprietários de barraca construírem, mas estamos trabalhando há mais de um ano e ainda não se concretizou. Então retomamos a estratégia da substituição ser feita pelo Estado", declara o major Jectan.

Atualmente, existem nove postos de salvamento na Praia do Futuro, cada um com uma distância de até 900 metros um do outro e dispondo de dois guarda-vidas. O efetivo deve ser intensificado em janeiro do ano que vem, com a chegada de novos soldados à corporação.

Irregularidade

Sobre o avanço irregular das barracas, a presidente da Associação de Empresários da Praia do Futuro, Fátima Queiroz, justifica que "é para atender à demanda do cliente, que quer ficar literalmente à beira-mar e na sombra", mas reconhece que "isso não é certo". "Essas invasões são casos isolados, só duas barracas extrapolaram os limites, e vamos resolver imediatamente. Crocobeach e Chico do Caranguejo já se comprometeram a recuar", disse.

Apesar de mencionar "limites", a empresária revela que, sobre a ocupação da faixa de areia, "o que existe é um acordo, não tem nada no papel".

Uma liminar concedida pela 4ª Vara de Justiça de Fortaleza em 2006, e ainda válida, proíbe a realização de qualquer obra ou benfeitoria não autorizada que inove o estado atual das barracas da Praia do Futuro. Segundo o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Alessander Sales, os empresários que avançam estão descumprindo a determinação. "A punição é demolir e aplicar multa. Se continuar, embarga o comércio. Se persistir, existem ações penais por descumprimento de embargo", salientou.

Na tarde dessa quarta-feira (28), o Ministério Público Federal e a comissão do Fórum da Praia do Futuro se reuniram para discutir sobre o Termo de Referência a ser firmado para ordenamento da região. O termo dispõe sobre a regularização das barracas, tocando em pontos como a distância delas até o mar, a altura e área permitida para construção. Conforme o procurador, uma definição sobre o ordenamento da praia deve ser firmada até abril de 2019.

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