Atendimento psicológico a autistas é paralisado em Fortaleza

Um grupo de mães denuncia a interrupção do atendimento a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em dois locais de Fortaleza. O serviço teria sido interrompido no início de janeiro deste ano.

Escrito por Redação , metro@verdesamares.com.br

Um grupo de mães de crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA) denuncia a interrupção do atendimento psicológico em algumas instituições de Fortaleza, mais notadamente no Centro Integrado de Atendimento e Reabilitação (Ciar), no bairro de Fátima, e no Núcleo de Atenção à Infância e à Adolescência (Naia), do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), em Messejana. Segundo elas, a descontinuidade do serviço ocorre desde o início de janeiro.

A última consulta do filho da educadora Regina Célia Barbosa, por exemplo, foi no dia 26 de dezembro de 2018. O menino de 11 anos, que tem TEA e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), necessita de atendimento multidisciplinar constante, com psicólogo e terapeuta ocupacional - que agora estão parados.

"As mães também passavam por terapia para ter um suporte mais efetivo", conta, referindo-se ao apoio encontrado no HSM. Segundo ela, no Ciar, cerca de 100 pessoas foram impactadas pela interrupção. Já no Hospital de Saúde Mental, o número gira em torno de 300, contando pacientes da Capital e do Interior. "Quando cortou, nos avisaram que a gente ia ficar aguardando, mas até hoje não fomos chamados", diz.

Com a voz embargada, a mãe revela o porquê de tanta inquietação:

Meu filho botou na cabeça que não pode comer senão vai engordar e ficar feio. A psicóloga é quem poderia ajudar. Isso está me deixando muito angustiada porque meu filho não quer se alimentar"

Às famílias foi informado um suposto corte de verbas do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, o Ministério da Saúde informou que todos os repasses financeiros estão sendo feitos normalmente.

Para a psicóloga infantil Carolina Ramos, a parada no atendimento psicológico é prejudicial pois com o tratamento psicológico, as crianças autistas conseguem trabalhar melhor o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais, cognitivas e psicomotoras.

Perigo do rompimento

"Romper o tratamento interrompe os ganhos. Se (a criança) está um, dois anos sendo acompanhada, tendo evolução e de repente parar, o que ela conquistou até ali não é perdido, mas vai deixar de ter novos ganhos", complementa a especialista.

Em comunicado enviado ao grupo dos pais, numa rede social, um representante do Ciar informou que esteve no setor de contratualização da Prefeitura de Fortaleza, na última terça (5). Na ocasião, a gestão repassou que até o fim da semana seria divulgado chamamento público para a renovação do contrato.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o Ciar, que atende pessoas com TEA, "possuía um contrato desde 2012 com a Prefeitura de Fortaleza para prestação de serviços a esses pacientes". Porém, "o contrato foi aditivado por seis vezes, máximo permitido pela legislação".

O Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) declarou, em relação à descontinuidade no atendimento psicológico, que "o processo para a contratação de novos profissionais está em andamento". No entanto, não detalhou por que houve a interrupção. Enquanto isso, os pacientes vêm sendo atendidos por médicos psiquiatras e pediatras.

Atualmente, o Naia atende a cerca de 290 pacientes; destes, 65 são autistas. O Núcleo também cuida de casos de psicose, transtorno de humor, TDAH e ansiedade. "O serviço do HSM é considerado referência na área de ensino ao oferecer Residência em Psiquiatria e Especialização em Infância e Adolescência. O Naia também recebe estagiários do curso de Psicologia de universidades públicas e particulares", completa a nota.

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