Atendimento nas UPAs municipais cresce 38% em cinco meses

De novembro de 2018 - último mês que antecedeu o início das chuvas na Capital - para março de 2019, o total de pacientes atendidos nas seis Unidades de Pronto Atendimento da Capital saltou de 53.753 para 74.272

Escrito por Redação ,
Legenda: A UPA situada na Avenida Leste-Oeste é uma das que registram aumento na procura
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Pelas pequenas janelas na porta de entrada da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Cristo Redentor, um cenário familiar era visível. A lotação que caracteriza os equipamentos públicos de saúde já quase não surpreende, porém, a frustração de quem aguarda atendimento com a saúde debilitada é sempre a mesma. Em março deste ano, as seis UPAs municipais de Fortaleza receberam, ao todo, 74.272 pacientes, o que aponta um aumento de 20.519 atendimentos em comparação a novembro do ano passado - período que antecedeu a quadra chuvosa -, quando foram realizados 53.753 atendimentos nas unidades do Cristo Redentor, Itaperi, Jangurussu, Vila Velha, Bom Jardim e Edson Queiroz. Os dados, que representam um aumento de 38%, foram registrados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Na manhã da última terça-feira (23), os pacientes em espera na UPA situada na Avenida Presidente Castelo Branco contavam com um único médico, sem previsão de tempo de atendimento. "Eu vim pra acompanhar a minha filha, que tá sentindo muita tontura e enjoo. A gente chegou às 10h e até agora, nada", lamenta a dona de casa Cícera Oliveira, 49. No interior da unidade, a filha Nayane, 26, abria a porta periodicamente para indicar à mãe que a espera continuava. "Eu preciso ir embora pra casa agora e ela vai continuar sozinha aqui, se sentindo mal, sem ter quem acompanhe. Não tem nem ideia de que horas vai ser atendida".

Críticos

A mesma indefinição preocupava Raimundo Nonato, 55, acompanhando a esposa que buscava tratamento para uma virose. "Aqui é sempre assim, isso não é novidade. Vim aqui recentemente com a minha filha pequena. Chegamos às 16h e só fomos sair daqui 23h57. Marquei até a hora", recorda. Na terça-feira (23), o casal chegou à UPA por volta de 10h, e não era possível estimar um horário de atendimento, menos ainda a hora de voltar para casa. "Vai depender da paciência dela, do quanto quiser esperar. Vamos ficar por aqui". Segundo o coordenador dos Hospitais e Unidades Especializadas da SMS, Romel Araújo, a presença de um único médico no atendimento da UPA não significa a ausência do restante da equipe.

"Nesse dia, tinham dois clínicos, dois pediatras e um chefe de equipe. O que acontece é que, às vezes, a demanda de pacientes críticos é maior, então os profissionais vão para a sala de reanimação, a 'sala vermelha', de pacientes críticos. Nesses momentos, acontece de ficar só um pra atender os demais"
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Ele descreve o atendimento de emergência como uma ação dinâmica, diferente do ambulatório, onde as consultas são agendadas. O aumento no número de pacientes atendidos nas UPAs de Fortaleza foi notável, conforme o coordenador, devido a uma mudança climática que afetou a sazonalidade já conhecida das doenças típicas do período de chuvas. "Começamos com o inverno em dezembro, também com um volume maior de chuvas. Por isso tivemos um aumento no número de pacientes nas UPAs, e também uma criticidade maior. A gente vê na quantidade de crianças com viroses, bronquite, pneumonia, tanto na rede pública quanto privada", explica Romel Araújo.

O coordenador observa que, em comparação a igual período no ano anterior, 2019 teve uma maior quantidade de casos e, especificamente, mais graves que o esperado. Tal mudança afeta o sistema de atendimento nas unidades em diferentes níveis, uma vez que requer mais internações e um maior tempo de permanência dos pacientes nas unidades de saúde.

Extremos

O grupo populacional mais afetado pelas doenças comuns ao período chuvoso também gera preocupação. "São pacientes mais suscetíveis, não só crianças como adultos. Começa com um quadro de virose, que as vezes não é tratada adequadamente, e termina tendo um bronquiolite ou pneumonia associada, uma série de infecções. Principalmente em relação aos extremos de idade, crianças e idosos".

As reclamações sobre demora persistem também na UPA do Itaperi. Lá, a vendedora Velésia Moreira, 24, esperou duas horas até conseguir atendimento para a filha Raynara, de 4 anos, com febre alta. "Eu tive que reclamar lá dentro pra ser atendida. 'Tá' horrível". A expectativa é de que "a sazonalidade das doenças diminua" após o fim da quadra chuvosa, a partir do 2º semestre, segundo Araújo.

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