Assistência às vítimas do tráfico humano esbarra na subnotificação

No Ceará, quatro pessoas foram atendidas pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP) nos primeiros seis meses de 2017. Invisibilidade do crime é desafio para autoridades e redes de assistência

Escrito por Renato Bezerra , renato.bezerra@diariodonordeste.com.br

Um crime camuflado de grandes oportunidades e que, muitas vezes, tem a vulnerabilidade social como aliada. Assim se constitui o tráfico humano, prática que desafia autoridades e rede de assistência em todo o País. No Ceará, no primeiro semestre de 2017, apenas quatro casos chegaram ao Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), órgão vinculado à Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus/CE). A subnotificação das ocorrências está entre as dificuldades nesse combate.

Dos casos monitorados pelo NETP no ano passado, três pessoas foram atendidas por exploração sexual e uma por casamento servil (quando a mulher é traficada para servir a um homem). Em 2016, 19 pessoas no Estado foram atendidas pelo Núcleo, sendo dez casos de tráfico humano monitorados pelo órgão.

De acordo com a psicóloga do NETP/CE, Ingrid Borges, as principais modalidades do tráfico de pessoas no Ceará são para fins de trabalho escravo, seja em deslocamento intermunicipal ou interestadual; e em maior quantidade os casos para exploração sexual, tendo como principal rota Portugal, Espanha, Holanda e Itália.

"Para cada modalidade temos um perfil. Para o tráfico, a fim de exploração sexual, são mulheres e travestis entre 20 e 35 anos, geralmente em situação de vulnerabilidade, no sentido de não terem perspectivas de emprego e trabalho. Já no tráfico, para fim de trabalho escravo, são mais homens, geralmente com nível de escolaridade muito baixo, entre 18 e 60 anos", compara.

Entre as dificuldades enfrentadas na detecção dos casos, esclarece a psicóloga, está no fato de as próprias vítimas não se reconhecerem como tal. "Quando elas viajam ou saem para trabalhar, acreditam que será uma grande oportunidade, e quando a exploração de fato acontece, elas retornam com sonhos interrompidos e não querem falar e nem se expor. Essa dificuldade da vítima muitas vezes torna o crime invisível", diz a psicóloga

A fim de ajudar no esclarecimento da população sobre a prática, o NETP/CE tem, entre seus eixos de atuação, um trabalho preventivo, promovendo palestras e oficinas sobre o tema para públicos diversos, especialmente os adolescentes, além de capacitações para profissionais da saúde, educação e Poder Judiciário.

O Núcleo atua, ainda, na responsabilização pelo crime, fazendo o encaminhamento necessário para cada órgão competente - a depender da modalidade do tráfico - e no que compete a assistência, acolhe vítimas e familiares.

"Quando temos a notícia de que houve um tráfico de pessoa, a gente se coloca à disposição. Se ela deseja voltar a estudar, fazer um curso de capacitação, ter assistência à saúde ou atendimento psicológico, a gente faz o encaminhamento", diz Ingrid Borges.

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