Apenas um terço dos pontos com Wi-Fi público está na periferia

Atualmente, 51 espaços da Capital, disponibilizados pela Prefeitura de Fortaleza, contam com a conexão da rede internet sem fio. Entre eles, estão principalmente praças, terminais de ônibus, Cucas e areninhas

Escrito por Redação ,

Legenda: O estudante Victor Almeida na Praça do Ferreira, conferindo as redes sociais no smartphone 
Foto: Foto: Camila Lima

Modernizar é uma palavra diretamente conectada à internet. O desenvolvimento de qualquer cidade contemporânea passa, obrigatoriamente, por mãos que não soltam mais os smartphones, notebooks, tablets. Contudo, apenas 35% dos locais com Wi-Fi público de Fortaleza estão na periferia, região que concentra a maior área residencial da cidade.

Em fevereiro de 2019, a Prefeitura inaugurou novos 15 pontos de internet sem fio em locais públicos, resultados de uma parceria público-privada. A rede, denominada "WiFor", chega para complementar os pontos já existentes, anteriormente, denominados "FORTALEZA_Wifi". Dentro desse novo montante, seis locais estão no subúrbio de Fortaleza. Ao todo, são 18 áreas na periferia da Capital.

O presidente da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova), Cláudio Ricardo Gomes de Lima, entende a situação e comenta que "a ideia é democratizar geograficamente os pontos, com uma distribuição homogênea, levando à periferia de Fortaleza". De acordo com ele, a distribuição dos pontos "é uma das premissas" do trabalho realizado pela Prefeitura.

Para o presidente da Citinova, "a conexão de Wi-Fi gratuito é uma forma de incluir digital e socialmente as pessoas. Porque se a gente não prezar por isso, sobretudo nas áreas mais vulneráveis da cidade, vamos contribuir para a ampliação da desigualdade", revela Cláudio Ricardo.

Teste de conexão

A reportagem do Sistema Verdes Mares visitou a Praça Nossa Senhora de Fátima, na Avenida 13 de Maio, um dos locais contemplados com um novo ponto do WiFor. Além de trabalhadores da própria praça e do entorno, e religiosos que vão à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, o local também é frequentado por alunos de escolas e instituições de Ensino Superior localizadas próximas da praça, como a Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Um celular da equipe de reportagem foi usado para testar a conexão da internet sem fio na praça. O acesso inicial foi satisfatório, inclusive durante o processo de cadastro no serviço, que exige um endereço de e-mail e algumas informações pessoais simples. Contudo, a conexão variou em diferentes pontos do local. Como por exemplo, no celular de Valdirene de Sousa, que trabalha vendendo comida na praça. No telefone da vendedora, o Wi-Fi sequer conectou, impedindo até mesmo o processo inicial de cadastro.

Na mesma praça, o taxista Joel de Lima também tentou a conexão do Wi-Fi Fortaleza. O acesso foi complicado, especialmente pela velocidade da conexão. Com a lentidão, o taxista demorou a concluir o cadastro, e na hora de utilizar a rede sem fio, aplicativos que demandam maior uso de dados (como o YouTube) não funcionaram bem.

A praça da Gentilândia, no bairro Benfica, foi outro ponto visitado pela reportagem. O local também é frequentado por trabalhadores e estudantes do entorno. Lá, a conexão permaneceu estável, permitindo, inclusive a reprodução de vídeos no YouTube. Porém, a quantidade de pessoas utilizando a conexão ao mesmo tempo pode ser um diferencial na qualidade do serviço.

"Acontece em todo processo de Wi-Fi, é inerente à própria tecnologia. Locais de concentração de prédios, obstáculos, montanhas e árvores, como a conexão se propaga por ondas, a dificuldade pode ser maior. Em um local onde muitas pessoas estão acessando ao mesmo tempo, você também tem redução da velocidade", complementa o presidente da Fundação.

Carlos ainda comenta que a proximidade física do "modem" - aparelho transmissor da rede sem fio - também influencia a conexão. Quanto mais distante a pessoa estiver do aparelho, pior é a conexão.

A grande quantidade de árvores no local é um dos problemas que pode atrapalhar a conexão na Praça das Flores, na Aldeota, outro local beneficiado com o Wi-Fi gratuito da Prefeitura de Fortaleza, e visitado pela equipe de reportagem. Na praça, a internet sem fio funciona desde o último dia 27 de fevereiro. Apesar das árvores, no teste realizado na Praça das Flores, a reportagem conseguiu concluir o cadastro, e o acesso foi rápido devido à boa velocidade da conexão registrada no momento.

Pontos antigos

A reportagem visitou também três locais onde a Prefeitura já havia instalado a rede Wi-Fi anteriormente: Mercado Central, Passeio Público e Praça do Ferreira. Em reportagem anterior, o Sistema Verdes Mares informou que os pontos de internet sem fio da cidade se concentravam em três regionais. Centro, Regional I e II aglomeravam 70% dos pontos de Wi-Fi em Fortaleza.

Na Praça do Ferreira, um dos principais pontos do Centro da Capital, o Wi-Fi apresentou a melhor conexão entre os locais visitados. Apesar de a potência do sinal aparecer como "Fraca" (com frequência de 2,4 GHz) no telefone do SVM, a equipe de reportagem conseguiu acessar redes sociais como o Instagram, e reproduzir vídeos em alta resolução (720p) no Youtube.

Contudo, o estudante Victor Almeida , que estava sentado em um banco da praça, comenta o receio que possui de acessar uma rede pública de internet sem fio. "Normalmente, quando é Wi-Fi de rede pública, eu tenho medo de algum vírus, ou alguém tentar invadir (o celular). Tenho medo de tentar", revela o estudante sobre o medo de utilizar a conexão pública.

Apesar da preocupação, o titular da Citinova tranquiliza os usuários da rede sem fio municipal. "A gente tem todo cuidado em relação a isso. Inclusive, procuramos seguir rigorosamente o Marco Civil da Internet. É necessário fazer um cadastro, e temos muito cuidado com essa questão de segurança dos dados", garante Cláudio Ricardo.

No Passeio Público, a potência do sinal do FORTALEZA_Wifi também aparecia como "Fraca", porém com 5 ghZ. No local, a reportagem também conseguiu acessar o Instagram e assistir a vídeos no YouTube, dois dos aplicativos mais acessados diariamente.

Conexão particular

A boa conexão nas duas praças do Centro não se repetiu no Mercado Central, onde vários lojistas reclamaram que a conexão depende diretamente da quantidade de pessoas presentes utilizando o serviço, como já citado pelo presidente da Citinova. Quanto maior a aglomeração no local, que é bastante frequentado por turistas, pior é a velocidade da conexão.

"O Wi-Fi aqui no Mercado cai demais. Não tem muita qualidade. É difícil de entrar, e quando consegue, cai logo. Quase todo lojista aqui tem Wi-Fi próprio por conta disso", comenta a empresária Kátia Lote, proprietária de uma loja no Mercado Central, mais uma das lojistas que optam por ter uma rede particular.

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