A terra é do sol, mas a cidade é da lua

Escrito por Luã Dióegenes , metro@svm.com.br
Legenda: Luzes naturais ou artificiais iluminam Fortaleza, cidade que também é palco da boemia
Foto: Foto: José Leomar

Entre as batidas dos copos, risadas altas e as brigas corriqueiras, surge um som, uma união de vários ritmos que se entrelaçam formando um cenário místico, repleto de leveza, alegria e liberdade. Assim é a noite para os que gostam dela como eu, um momento de irreverência onde os nós das gravatas se desfazem para facilitar as chamadas conversas de "mesas de bar".

A "Noite" é uma peça da vida real, onde a boemia é a protagonista, a grande estrela desta que é por vezes drama, por outras comédia. E é sob a luz do céu estrelado que vago pelas ruas nos trajes de linho, chapéu de aba a procura de um bom papo, de uma companhia, de uma amizade ou de um amor?

Se uma antiga frase já afirmava que "todos os caminhos nos levam para o mar", em Fortaleza não se faz diferente mesmo quando a "Terra do Sol" se transforma em reduto da lua, que feito poesia se espelha vaidosa nas ondas bravias. A nossa Praia de Iracema se enfeita mais linda e bela! As luzes, agora artificiais, iluminam ruas de nomes indígenas e de um calçamento que serve como passarela para cidadãos de fora e nascidos aqui.

Foi na noite de Iracema que descobri a beleza chamada boemia, não essa que é julgada pelo desconhecido como um reduto de vícios ou promiscuidades, mas a serena, de olhares sinceros e verdadeiros, onde a cidade se encontra e eu me reencontro comigo.

Sinal

Olho para tudo admirado, olhar que só os notívagos entendem. Vejo o imponente Estoril, já demolido e reconstruído, sinal de que a cidade sobrevive no meio do velho e do novo. Por segundos, viajo no tempo, vou para a década de 1960, nos áureos tempos da delicadeza...

De olhos fechados, chego a imaginar os então estudantes Fausto Nilo, Rodger Rogério e tantos outros chegando no antigo palacete, já que, devido ao horário, tinham sido expulsos do "Bar do Anísio". Aliás, o que muitos não sabem é que foi no velho Estoril, de pouca luz e com as mesas cobertas por toalhas estampadas de aves, que veio a inspiração da música "Retrato Marrom", dos já mencionados compositores. Essa foi uma das muitas canções e poesias que surgiram ali, na beira do mar azul.

Sim! A noite é cultura e a de Fortaleza - apesar da insegurança que insiste em surgir com o crescimento da metrópole - ainda prevalece limpa, de brisa gostosa e doce diversão. A boemia é plural e não renega nenhum dos seus filhos, entre os quais orgulhosamente me incluo. É momento de sorrir, puxar uma dança, arriscar uns versos, esquecer o passar das horas, libertar-se do peso da semana tão cheia e abraçar os amigos sem pressa ou pudor.

Por momentos, e acredito que como todo boêmio, eu queria que a noite fosse eterna, assim como sua verdade e plenitude. Egoísmo meu! Como uma grande peça teatral, ela se encerra linda e bela, com o nascer daquele solzão que é típico, iluminando a areia branca e, como já diria a canção do nosso poeta Ednardo, "luzindo na madrugada, braços, corpos suados, na praia fazendo amor".

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