À noite, Fortaleza vai do caos ao breu em horas

Universidade e instituto federais, além de escolas estaduais paralisaram atividades devido ao apagão

Escrito por Cadu Freitas - Repórter ,
Legenda: A reportagem conversou com pessoas que caminharam por vários quarteirões para tentar fugir do trânsito caótico
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Olhar para cima no cruzamento das avenidas da Universidade e 13 de Maio e não ver aquele prédio rosa, referência do Benfica - cujo funcionamento resguarda a Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) -, pode até assustar. Basta apontar a lanterna do celular para o local ou esperar um novo grupo de carros em fileira que uma das arquiteturas mais famosas da cidade reaparece; entre o escuro, é claro, mas foi essa a sensação pela qual diversos fortalezenses passaram na noite de ontem (21), ao andar pelas ruas da Capital.

No início da noite, além de parte das vias com grande circulação na cidade continuarem engarrafadas em decorrência de problemas na sinalização provocados pelo blecaute, as calçadas de ruas e avenidas foram tomadas pelos transeuntes. De trabalhadores que haviam saído de seus empregos ou foram liberados antes a estudantes universitários e de Ensino Médio que tiveram aulas canceladas.

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Gabriel Kennedy, de 15 anos, estuda na Escola de Ensino Médio Adauto Bezerra e tem uma prova para fazer hoje. Ontem, era dia de revisão, mas, em razão do apagão, o dia letivo foi cancelado. "As aulas seriam muito importantes, pois nós íamos revisar os assuntos para a avaliação. Eu fiquei sem saber se realmente vai ter prova, já que o colégio não se pronunciou", lamentou Gabriel.

A estudante das Casas de Cultura da UFC Thaís Norões pretendia ler o material de estudos até à noite, pouco antes de começar as aulas. "No fim da tarde, os seguranças disseram que não teria mais expediente e começaram a fechar os portões, sendo que haviam estudantes lá dentro", relatou, ao confirmar que o horário máximo de funcionamento seria às 18h.

No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), as aulas também foram canceladas e não se via nada além de estudantes sentados nas escadarias do prédio à espera de caronas e guardas responsáveis pela patrulha do espaço a fim de resguardá-los. "Os alunos estavam considerando a hipótese de dormir aqui, mas os guardas informaram que nós não poderíamos fazer isso. Eles não nos expulsaram, mas pediram para não ficarmos no interior do prédio, nos autorizando somente a ficar depois das catracas", contou a estudante Virgínia Lucena, de 17 anos.

Mudanças

As problemáticas relacionadas à falta de energia em Fortaleza não se resumiram à rotina de estudantes e o cancelamento de aulas nas instituições de ensino superiores e de nível médio. Houve quem cansasse de esperar por ônibus que não vinham e/ou desistisse de esperar a volta de sinais de trânsito para que o deslocamento fosse facilitado.

O programador Antônio Oliveira, de 42 anos, estava em serviço particular quando começou o blecaute na cidade, impossibilitando, assim, a realização do serviço. "Esperei o ônibus durante 20 minutos e, vendo que o trânsito continuava completamente parado, decidi andar até um ponto que estivesse mais tranquilo, o que não adiantou, pois o caos já estava instalado", explica, lembrando o percurso da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará à Avenida Bezerra de Menezes - cerca de 1h10 andando ininterruptamente.

Quando o horário de pico, contudo, começou a chegar perto do fim, ruas e avenidas foram dando espaço ao breu. No Centro da cidade, apesar de comum em torno de 19h, não havia quem passasse pelas ruas se não fosse dentro de um carro fugindo dos engarrafamentos.

Na Avenida Santos Dumont, os espaços comerciais, que estavam em funcionamento, exibiam luzes acesas; os demais, apagados, nem ousaram subir as portas ou colocar cadeiras para os consumidores. Farmácias, shoppings centers, supermercados, restaurantes e agências bancárias não funcionaram durante a noite. Alguns barzinhos, porém, aceitaram o desafio de servir os clientes ansiosos, alguns até a luz de velas, embora não houvesse o que comemorar (Colaborou Itallo Rocha).

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