7 bairros registram pior índice de abandono escolar

Dos 120 bairros da Capital, apenas 28 não registraram nenhum abandono escolar durante o ano passado

Escrito por Renato Bezerra - Repórter ,
Legenda: Trabalhar a autoestima dos estudantes está entre as estratégias da gestão para reduzir o abandono
Foto: Foto: José Leomar

A educação é um direito de todos, mas, infelizmente, não chega para todos. Aspectos sociais e econômicos estão entre os fatores que contribuem para que a criança e adolescente deixe a escola ainda no Ensino Fundamental. Em Fortaleza, a taxa de abandono escolar passou de 12,1% em 2007 para 2% em 2016, redução absoluta de 10,1%, segundo dados da Secretaria Municipal de Educação (SME). A meta de zerar esse número, no entanto, esbarra na discrepância entre os bairros da Capital. Enquanto em algumas localidades a desistência registrada em um ano foi zero, em outras passou de 100.

Os dados são do Mapa do Abandono Escolar do Município de Fortaleza referente a 2016. Dos 120 bairros, apenas 28 não registraram nenhum abandono escolar durante o ano. Já entre os 92 restantes, Bom Jardim, Granja Lisboa, Passaré, Barra do Ceará, Jardim Iracema, Mucuripe e Sapiranga apresentaram os piores índices, entre 101 e 144 desistências. De acordo com a SME, dos 197.381 alunos matriculados em 2016, 2.750 deixaram a escola.

d

Dos bairros com o pior desempenho, quatro também apresentam os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade. Para o doutor em educação Marco Aurélio de Patrício, quanto mais graves os problemas sociais no entorno da escola, entre eles, a violência e a crise econômica, maiores serão os números do abandono e da evasão escolar. Outra variável, segundo o especialista, está na falta de motivação da criança na escola. "Ela não se adapta e ter uma disciplina e fazer um esforço é difícil. As que vêm de uma região de muita miséria a escola é um espaço odioso e de cobrança. Ela não consegue se encaixar e passa a desejar estar fora dela", diz.

Neste aspecto, acrescenta, o currículo escolar se mostra distante da realidade da criança e passa a ser um fator desmotivador, devendo passar por uma revisão para criar espaços onde o aluno se sinta pertencente. Apesar da questão social ser difícil para a escola reverter, como avalia Marco Aurélio, cada realidade pode ser alvo de uma luta por questões ligadas a vontade política para a melhoria desses locais. "A escola pode tentar ser um espaço de diálogo com a comunidade, de puxar as famílias para dentro e tentar sensibilizar sobre a importância da educação", fala.

Estratégias

Trabalhar a autoestima dos estudantes está entre as estratégias da gestão para reduzir o abandono e, por consequência, a evasão escolar, segundo a coordenadora de gestão escolar da SME, Lucidalva Barcelar, especialmente do 6º ao 9º ano e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), períodos em que a desistência está mais suscetível. "Até o 5º temos um conjunto de fatores que blindam, como o formato da escola de um professor que acompanha cada aluno. A partir do 6º é por disciplina, ele passa para o sistema em que ganha dez professores mas nenhum olha para ele integralmente, então estamos trabalhando na formação dos professores para que cada um olhe o aluno como um todo". Além disso, destaca a ampliação dos polos da EJA, a implantação de um sistema informatizado de frequência diária e o Programa Novo Mais Educação, onde mais de 43 mil alunos tiveram acréscimo da jornada escolar com atividades de esporte, lazer e cultura.

Image-1-Artigo-2291133-1
Em Fortaleza, a taxa de abandono escolar passou de 12,1%, em 2007, para 2% em 2016, redução absoluta de 10,1%, segundo a SME Foto: Fabiane de Paula

Segundo acrescenta a gerente de dados educacionais da SME, Iracema Frota, cerca de 50% dos estudantes que largaram a escola em 2016 já retornaram este ano graças ao incremento das políticas públicas e ações sociais, além da parceria com o Ministério Público Estadual que visa construir um rede de dados intersetorial com diversos setores, ampliando a capacidade de ação. "A nossa capacidade para resgatar tinha um limite, com dados registrados no nosso sistema, mas o importante é ir além, estender essa pesquisa para saber quem são esse jovens que estão fora da escola, que vieram da rede particular, da estadual, ou de outro municípios e que não temos nos nossos dados".

Iniciativa focará no jovem infrator

Uma iniciativa do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), envolvendo a Secretaria da Educação do Estado (Seduc) e a Secretaria Municipal de Educação (SME), tem como objetivo a redução de atos infracionais e o resgate de crianças e adolescentes em conflito com a lei para o ambiente escolar na Capital. No último dia 23 de agosto foi realizada a primeira reunião para desdobramento das ações e um novo encontro na Vice-Governadoria deve ocorrer na próxima terça-feira, dia 5 de setembro.

De acordo com o promotor de justiça Sérgio Louchard, da 1ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude - Atos Infracionais, a estratégia visa criar uma rede para uma busca ativa de crianças e adolescentes, por meio de um banco de dados integrado entre os órgãos estaduais e municipais que identificará as escolas com os piores desempenhos, junto com os bairros com a maior incidência de atos infracionais cometidos. A ideia é que os jovens saiam do ambiente hostil e voltem para a escola.

Acompanhamento

Um Termo de Cooperação Técnica deve ser celebrado entre os representantes do MPCE para que o acompanhamento desse trabalho seja realizado de forma permanente. De médio prazo, a iniciativa ainda prevê a conscientização de pais e filhos quanto a importância da escola e a capacitação dos profissionais de educação. Há a perspectiva, segundo Sérgio Louchard, de que a iniciativa faça parte do Programa Ceará Pacífico, do governo do Estado.

Os bairros com os piores índices de abandono escolar em 2016 são territórios com elevada incidência de assassinato de jovens, segundo dados da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), referente à 2015.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.