50% dos óbitos por câncer ósseo no Ceará atinge maiores de 60 anos

Em 2018, a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) registrou um total de 108 óbitos por câncer ósseo até julho. Destes, 54 tinham acima de 60 anos de idade. Nesta faixa etária, a doença ocorre mais frequentemente por metástase

Escrito por Barbara Câmara , barbara.camara@diariodonordeste.com.br
Legenda: A fisioterapia faz parte do processo de recuperação de pacientes com câncer ósseo.
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Raro, mas perigoso. Embora represente apenas 1% do total de casos de câncer, o tumor maligno ósseo foi a causa do óbito de 108 pessoas somente nos seis primeiros meses de 2018, no Ceará, segundo os dados mais recentes da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), registrados até 2 de julho. Destas, 54 tinham idade igual ou superior a 60 anos.

A predominância dos óbitos nesta faixa etária se mantém desde 2016, quando foram registradas 122 mortes pela doença no Ceará; destas, 62 eram pessoas com 60 anos ou mais. Em 2017, foram 105 óbitos, com 52 incluídos nesta faixa etária. O menor índice de mortes é o de pacientes de até 9 anos de idade, que tiveram um total de quatro óbitos de 2016 a julho de 2018.

A doença rara pode se originar de duas formas: a partir de um tumor maligno primário, formado inicialmente no osso; e através da metástase de um câncer que surgiu em outra parte do corpo - sendo, assim, um tumor maligno secundário, conforme explica Roberto Castro, ortopedista oncológico do Hospital Haroldo Juaçaba. Os tipos que mais comumente afetam o osso dessa maneira são os cânceres de mama, de próstata e de tireoide.

Entre as distintas formações, a mais frequente é a lesão óssea maligna metastática, que também atinge prioritariamente os idosos. "São pessoas com idade mais avançada, de 40 a 60 anos, que têm sabidamente outro tumor, ou não sabe que têm e já se manifesta com a metástase óssea".

O oncologista destaca, porém, que é nas duas primeiras décadas de vida que há o maior crescimento ósseo, condição que favorece a transformação da célula normal para uma célula anormal, formando o câncer. Às vezes, segundo Castro, o paciente tem uma fratura patológica, com o osso enfraquecido pelo comprometimento do tumor, e o diagnóstico é "descoberto" através de biópsias e outros exames complementares. No caso do câncer primário, que se inicia no osso, a idade dos pacientes pode variar até a idade de 30 anos.

Sintomas

Uma dor contínua no osso, e que aumenta progressivamente, aliada a um inchaço no local, são os principais sintomas característicos do câncer ósseo. "Hoje em dia, as pessoas querem de imediato recorrer a uma ressonância da perna, do braço, do joelho, quando tem dor naquela região. Na realidade, o mais importante para o diagnóstico do tumor ósseo é um Raio-X simples. Ele permite, em mais de 90% das vezes, que eu tenha a ideia se essa lesão é maligna, se compromete a estabilidade e enfraquece o osso, podendo levar à fratura, e já me dá uma ideia do tecido que forma aquele tumor", detalha o ortopedista oncológico.

Foi dessa forma que Ana Raquel Boriz, 34, recebeu a notícia que marcou sua adolescência. Em 2001, prestes a completar 16 anos, ela caiu durante uma partida de vôlei. Sem conseguir levantar, apesar de não sentir dores, percebeu um inchaço no joelho esquerdo. Ela foi levada até o hospital, onde, após exame de raio-x, foi constatado o tumor ósseo primário.

"Eu estava no primeiro ano do ensino médio e tive que cancelar a matrícula. Fiz quimioterapia por três meses no ICC (Instituto do Câncer do Ceará). Em setembro, fui fazer a cirurgia da retirada do tumor, tiraram todo o osso do joelho, e mais uma 'margem' pra cima e outra pra baixo. Aí colocaram a prótese de platina", relata. Passada a cirurgia, Ana Raquel teve que permanecer no Instituto por mais três meses, para passar pela quimioterapia pós-operatória. A alta foi dada em fevereiro de 2002.

"O efeito ( da quimioterapia)era muito forte. Perdi os cabelos, emagreci bastante. Eu vomitava até a água que eu bebia", lembra. Ao fim do tratamento, ela passou mais um mês fazendo sessões diárias de fisioterapia. A volta às aulas aconteceu logo depois do término da quimioterapia, mas foi somente após três meses que Ana pôde voltar a andar normalmente.

Hoje, ela trabalha como auxiliar administrativa do Corpo de Bombeiros, e a prótese quase não se faz notar. "Dor, só quando 'tá' muito frio. Mas já me acostumei. É só um incômodo. Levo uma vida normal, com algumas limitações. Não posso correr nem engordar, por isso me exercito fazendo natação e hidroginástica".

Diagnóstico

Em diagnósticos similares ao de Ana Raquel, os pontos do corpo mais acometidos são a região distal do fêmur, na coxa, a região proximal da tíbia, na perna e, em seguida, o ombro, por terem um crescimento ósseo mais acentuado nos jovens. Já os tumores originados por metástase não têm predileção por local, mas frequentemente acometem a parte central do osso.

"Além das dores, do inchaço e da deformidade do membro, quando o tumor já está na fase mais avançada, vem o comprometimento do estado geral do paciente. Fraqueza, perda de peso, falta de apetite. Pode vir associado à febre, devido à condição imunológica do paciente, entre outras condições", pontua Roberto Castro.

As abordagens para o tratamento do câncer ósseo também variam de acordo com sua origem. Com relação ao tumor primário, é preciso estudar primeiramente o estado da doença. Essa lesão costuma afetar o pulmão como sítio de metástase por isso, depois de realizar o Raio-x do membro comprometido, é necessária a tomografia computadorizada do tórax. Depois, é indicada uma biópsia e, dependendo do resultado, inicia se o tratamento.

Endoprótese

Cumprindo esse protocolo, dependendo da agressividade do tumor, o tamanho e o local em que ele compromete o osso, é realizada a cirurgia. "Em termos de chance de cura, é a mesma entre você preservar ou amputar o membro", avalia. Entre as possibilidades de táticas cirúrgicas, existe a reconstrução da articulação com uma endoprótese modular não-convencional.

"Eu crio um defeito com a ressecção, e tenho uma prótese que vem em pequenos pedaços, que permite reconstruir a articulação de acordo com o defeito que eu criei. Preservo o membro, resolvo localmente a doença e possibilito que o paciente mantenha a funcionalidade do membro", explica Castro. Em casos extremos, porém, é preciso recorrer à amputação.

Por fim, em cima de onde o tumor foi retirado, é feita uma nova biópsia para ter ideia da resposta do tumor à quimioterapia. Então, avaliam se é preciso uma quimioterapia de pós-operatório, para dar segurança ao paciente.

No caso das lesões metastáticas, a abordagem é modificada porque a doença pode estar em outra víscera. O tratamento do paciente passa a ser feito a fim de oferecer qualidade de vida, podendo ir desde o tratamento não-cirúrgico, só com radioterapia para aliviar a dor e controlar a doença localmente, até a uma abordagem cirúrgica, quando se tem uma lesão suspeita de gerar fratura.

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