45 pesquisadores fazem visita ao Apodi

Escrito por Redação ,
A abertura do ´Encontro Internacional Ecologia de Saberes´ se deu com uma aula inaugural realizada ontem

As dores e traumas de homens e mulheres vítimas da intoxicação por agrotóxicos agora será conhecida também internacionalmente. Mais de 45 pesquisadores e lideranças sociais de 20 países seguem, amanhã, para expedição na Chapada do Apodi, Interior do Ceará, a fim de conhecer realidades das comunidades e impactos desses produtos químicos na saúde e meio ambiente.

Sociólogo Boaventura de Sousa, Universidade de Coimbra, participa de encontro na UFC FOTO: KIKO SILVA

A atividade compõe a programação do ´Encontro Internacional Ecologia de Saberes´, aberto oficialmente ontem na Universidade Federal do Ceará (UFC).

O Diário do Nordeste já acompanha as denúncias de usos abusivos de agrotóxicos há mais de sete anos e publicou, em abril, uma Série de Reportagens especiais chamada "Viúvas do Veneno", contando os dramas das famílias de agricultores que sofrem consequências do uso indiscriminados desses produtos.

No ano de 2012, o "Dossiê dos Agrotóxicos", organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), revelou a grande vulnerabilidade dos agricultores. Pesquisa confirmou alterações cromossômicas que identificaram um aumento de chances de trabalhadores - que conviviam abusivamente com químicos - "adquirirem" câncer, além da contaminação da água.

O uso dos agrotóxicos, conforme a operação "Mata Fresca", é alto no Ceará, 81% dos produtores rurais, da Ibiapaba, por exemplo, estão fazendo um mau uso.

E é essa grave realidade que os 45 pesquisadores de mais de 20 países querem conhecer, explica o presidente da Abrasco, Luiz Eugênio de Souza. "Vamos para o campo visitar as comunidade da Chapado do Apodi e, dessa experiência, começarmos a construir um dossiê sobre impactos dos agrotóxicos na América Latina. A experiência do Ceará vai nos ajudar a amadurecer a essa ação internacional", diz.

Desafios

A abertura do ´Encontro Internacional Ecologia de Saberes´ se deu com uma aula inaugural, ministrada, ontem, pelo sociólogo Boaventura de Sousa, da Universidade de Coimbra, que apresentou um tema de inquietação: "Diálogos com os modelos de desenvolvimento no Brasil: a feitura de uma ecologia de saberes".

Referência internacional na questão do desenvolvimento sustentável, Boaventura encantou a plateia, fez provocações sobre o papel da ciência e os desafio em rever os atuais valores. "Precisamos de outro tipo de conhecimento, de outra política que construa novas noções de mundo", afirma. Ele aponta ainda que é necessário criar "solidariedade universal que salve o planeta do avanço do consumismo".

Para tal problema, Boaventura lança questão: "que tal desaprendermos tudo que sabíamos e apreender o mundo de outra forma? Só assim vamos pensar alternativas sustentáveis. Precisamos livrar a natureza dos agrotóxicos, unirmos os saberes cientifico com os outros conhecimentos existentes", questiona.

IVNA GIRÃO
REPÓRTER
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