1,3 mi de pessoas no Ceará não sabe ler nem escrever

Escrito por Redação ,
No Ceará, o índice se estagnou e no Brasil a taxa de analfabetismo parou de cair, segundo a pesquisa nacional

Um Ceará ainda "cego" das letras. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2012) apontam o desafio da superação do analfabetismo: apesar de programas sociais, mais de 1,325 milhão de pessoas não sabe ler nem escrever, o que representa um total de 16,4% da população do Ceará. Esse índice quase se estagnou no Estado com a redução de apenas 0,1% (1,331 milhão de cearenses), comparado com o ano de 2011.

Apesar dos índices negativos, o Estado do Ceará conseguiu alcançar nota boa quando avaliada a Taxa de Escolarização, totalizada em 91% entre as crianças de 4 e 5 anos de idade; 98,4%, das pessoas entre 6 e 14 anos, e 85,7%, de 15 a 17

E esse movimento de "estagnação" foi sentido também no País. A taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais parou de cair no Brasil após um período de 15 anos de declínio, segundo a Pnad 2012.

A doméstica Irismar da Silva Marcelino, 55, é uma das que queria deixar de compor essa estatística. Seu maior sonho é saber "desenhar" o nome, ler letras do ônibus, passar as vistas em livro e saber "abecedário". É analfabeta. "Vejo, hoje, muitos jovens seguindo meu caminho e deixando de querer estudar. Assim, não vamos para a frente".

E o tempo dedicado aos estudos é também baixo. No Ceará, 18% da população não têm "instrução" e menos de um ano na escola. Em Fortaleza, a situação é semelhante, 10% (362 mil) são analfabetos: 64 mil crianças, entre 5 e 6 anos, e 113 mil, acima dos 60 anos.

Duas gerações desencontradas com as letras. Na Capital, apenas 24% estudaram mais do que dez anos e só 6,8% dedicaram 15 anos ou mais. Somente 14% dos fortalezenses estão na universidade (153 mil). E alguns índices caíram na Capital, por exemplo. Se a quantidade de alunos em creches cresceu (passou de 53 mil em 2011 para 64 mil em 2012), o número de estudantes do ensino fundamental regrediu: foram 2 mil alunos a menos, 598 mil em 2011 e 592 mil em 2012.

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E dessa "evasão", a dona de casa Maria da Piedade, 37, foi vítima. Abandou os estudos para trabalhar. Hoje, se arrepende, queria voltar. "Mas, falta estímulo. Escola é tão desinteressante, tão precária", desabafa a doméstica.

Já na outra ponta, a menor taxa foi entre jovens de 15 a 19 anos (1,2%). Por região, o Nordeste lidera esse indicador e concentrava em 2012 mais da metade do total de analfabetos de 15 anos ou mais de idade.

Além disso, a presença de crianças de 4 ou 5 anos nas escolas aumentou de 77,4% para 78,2% no período. Nas faixas de 6 a 14 anos e de 7 a 14 anos ficou estável em 98,2% e 98,5%, respectivamente, mas já num nível elevado. Em outras faixas houve alta, exceto na de "25 anos ou mais" em que ocorreu uma redução de 4,5% para 4,1%.

Mas, a Pnad apresenta avanços na educação. Com relação à Taxa de Escolarização, o Ceará teve nota boa em 2012: 91% entre 4 e 5 anos, 98,4% (seis e 14 anos), 85,7% (entre 15 a 17). Só teve queda entre 18 e 24 (26,5% em 2012 e 27,8% em 2012). Entre os que têm 25 anos ou mais, a escolaridade é 4% no Ceará.

Sobre a Pnad, a Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME) diz reconhecer esses dados, aponta a gravidade e reforça que a redução do analfabetismo será a grande prioridade dessa atual gestão. A coordenadora do ensino fundamental da SME, Dóris Leão, traz outros dados mais setorizados: em Fortaleza são, segundo balanço da secretaria, 12.700 não alfabetizados entre o 3º e 5º ano e mais de 277 entre o 6º e o 9º ano. "Estamos com vários programas de acompanhamento", conta a gestora.

A Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) informou que com relação à queda na taxa de escolarização das pessoas de 18 a 24 anos, que passou de 27,8%, em 2011, para 26,5% em 2012, pode-se dizer que essa diferença não foi estatisticamente significativa. O Estado desenvolve o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) desde 2007. Os municípios passaram a contar com apoio técnico e financeiro para a gestão municipal.

61% são naturais da Capital

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2012) também desenhou uma geografia dos movimentos, da migração. E nessa dança, nesse vaivém, os dados revelam que 61% (2.323 mil) dos residentes de Fortaleza são naturais da Capital; 53% (2.024 mil) nunca mudaram de cidade e apenas 38% (1,456 mil) não são da Capital.

Nas "andanças" Brasil afora, Fortaleza ainda recebe, sim, muita gente externa: 34 mil moram na Capital, mas são nascidos em São Paulo, 32 mil são oriundos do Piauí e 23 mil do Maranhão.

Em menor expressão estão os alagoanos (5 mil), os amazonenses (4 mil) e os estrangeiros contabilizam apenas 4 mil.

De um total de 3.779 residentes na Capital, 94% são cearenses, nascidos em outros municípios (3.563) e 216 mil são de demais estados e países.

A estudante Silvana Rabelo, 23, é uma dessas que deixou a cidade natal, Mombaça, e veio para Fortaleza estudar. "Eu pensei que nunca fosse sair do lugar em que nasci, mas vi que essa mudança é algo comum", diz.

Movimento migratório é crescente. Entre os anos de 2011 e 2012, a capital recebeu novos quatro mil moradores oriundos do Interior do Ceará. Na busca de oportunidades ou fugindo da seca e da fome, a pesquisa não aponta, entretanto, os motivos.

Fortaleza conta hoje com 3.779 mil residentes, sendo 52% mulheres (1.789 mil) e 48% homens (1990). A maioria está na faixa entre 20 e 24 anos (363 mil); mas 11% são idosos e 31% têm entre 0 e 19 anos de idade.

Na Capital, houve um crescimento de 44 mil residentes. No Estado, a Pnad trouxe 8.751 mil residentes, sendo 48,2% homens (4219 mil) e 51,7% (4531 mil) mulheres. Um aumento de 80 mil novos moradores.

A população de pessoas que se declaram pardas no Ceará supera a de pretas, brancas, amarelas e indígenas. No ano passado, dos 8.751 no Estado, 5.598 se consideravam pardos, sendo 2762 homens e 2836 mulheres: 63,96% da população cearense.

Os brancos vêm em seguida, com 2792 (31,9%), sendo 1263 do sexo masculino e 1529 do sexo feminino. Os que se declararam pretos somam 336 (3,8%) , com 184 homens e 152 mulheres. Os amarelos ficam em quarto lugar, com 14 (0,15%), sendo cinco homens e nove mulheres (0,12%). O indígena foi de 11 , com 5 do sexo masculino e seis do feminino, segundo a Pnad.

IVNA GIRÃO
REPÓRTER
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