Tradição sob risco: Tiradentes é notificado pelo Estado e pode perder sua sede

Há 33 anos na sede doada pelo Governo, Tigre foi surpreendido com notificação no último dia 9 por construção de obras sem autorização, nega irregularidades e espera encontro com governador para resolver o imbróglio

Legenda: O Tiradentes tem cedido seus campos de treinos para equipes como o Caucaia
Foto: FOTOS: CAMILA LIMA

Um dos times mais tradicionais do futebol cearense, campeão do Estadual de 1992 e com 58 anos de fundação, o Tiradentes, corre risco de ficar sem sede. O clube, que está há 33 anos na sede do Antônio Bezerra, em terreno doado pelo Estado, recebeu, no último dia 9, uma notificação do próprio Governo por construção de obras sem autorização, invadindo o imóvel onde se situa o Colégio da Polícia Militar de Fortaleza, em parecer assinado pelo secretário de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa.

Assim, o Tiradentes tinha um prazo de 48 horas para prestar esclarecimentos, mas o clube pediu um prazo maior, como informou a SSPDS ao Diário do Nordeste, em nota. "A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que estão em andamento tratativas extrajudiciais para a reintegração de posse do terreno do Colégio da Polícia Militar General Edgar Facó (CPMGEF), que atualmente é ocupado pela Associação Desportiva Tiradentes. No último dia 9 de setembro, a associação recebeu uma notificação da SSPDS para apresentar em 48 horas documentação que comprove a cessão de uso do referido imóvel. O Tiradentes respondeu solicitando que o prazo seja estendido para 30 dias. A solicitação está sendo analisada pela Assessoria Jurídica da SSPDS".

Legenda: A última obra feita pelo Tigre foi uma guarita, para garantir segurança dos atletas

Em entrevista ao Diário do Nordeste, na sede do Tiradentes, o presidente do Tigre, Capitão Marcos Luís, afirmou que o clube está aguardando uma reunião com o governador Camilo Santana para resolver a questão, negando qualquer obra irregular na sede, que inclusive foi cedida pelo próprio Governo do Estado há 33 anos.

"O Tiradentes nunca entrou aqui de forma ilegal. Ele entrou de forma pacífica, em 1986, com uma concessão do governador da época. O Tiradentes construiu com seus próprios recursos a sede antiga e a sedemos para o Estado para recebermos uma nova, no mesmo terreno. A nova sede foi autorizada pelo Cid Gomes em 2014, e até hoje não pegamos a concessão, o termo de uso. E é isso que o governador vai decidir. Se vai dar o termo de uso ou não".

Sem querer entrar em conflito com o Estado, que para o presidente do Tiradentes é um parceiro de longa data, devido aos projetos sociais que o clube dispõe na sede, Marcos cita o drama vivido pelo clube após a notificação.

Legenda: A sede do Tigre foi reformada pelo Estado em 2014, no Governo Cid Gomes

"Estou aflito desde o dia que enviaram este documento. O Tiradentes iria para onde? A sede nova feita no Governo Cid Gomes em prol da demolição da sede antiga. Foi um projeto do Governo do Estado. Falta apenas um termo de sessão, de uso, para que o Tiradentes continue aqui. Queremos salvar o social e o esportivo que o Tiradentes faz. Até o Estado sentiria caso saíssemos daqui. Fornecemos alojamentos para mais de 20 atletas com cinco refeições diárias, visando a oportunidade de inseri-los no esporte. Estes meninos serão despejados? Colocados na rua? São garotos que querem uma oportunidade na vida e o Tiradentes está ajudando no sonho deles", desabafou Marcos.

Projetos

Hoje na Série B do Campeonato Cearense - foi eliminado este ano pelo Crato - e ausente da Taça Fares Lopes, o Tiradentes tem reduzido os investimentos no futebol profissional e concentrado seus esforços nas categorias de base, ressocialização de jovens do Estado e da comunidade.

Por isso, a possibilidade de perder a sede está preocupando o presidente do Tiradentes por uma razão maior: os projetos sociais que o clube dispõe em sua sede, acolhendo jovens, como no Projeto Tigre Camisa 10.

"O projeto em parceria com o SEAS auxilia na reeducação de jovens em conflito com a lei, através da acessibilidade do esporte, afastando-os da criminalidade, com estrutura profissional de formação física e intelectual de adolescentes, potencializando a ressocialização deles. Nosso trabalho social no esporte é muito forte e importante para as comunidades", explicou o presidente.

Além disso, o mandatário destaca a captação de jovens atletas em todo o Ceará. "Contamos com mais de 500 atletas em formação divididos em categorias de base Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20 no nosso Estado com núcleos em Fortaleza, Iguatu, Caucaia, Juazeiro do Norte, Itapipoca, Russas e outras. Muitos meninos vieram das favelas, foram fabricados aqui. Alguns deles estão no São Paulo, no Grêmio, na Suíça, com uma nova perspectiva de vida. E é isso que queremos continuar fazendo", finalizou o presidente do Tigre, esperançoso por uma resolução favorável ao tradicional clube fundado em 1961.

 


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