Tom Barros: uma devoção em cem anos

No princípio era um sonho. E o sonho estava com Alcides Santos. A luz resplandece na ideia da formação de um grande time. O ideal se materializou. E assim foi formado o Fortaleza Esporte Clube. Hoje faz um século. É impossível contar neste espaço uma história de cem anos. Mas é possível dizer que mais cem anos não serão suficientes para traduzir em grandeza o que é o Tricolor de Aço. Não há limites no tempo para quem tem compromisso com o amanhã. Alcides Santos venceu os primeiros desafios. Seus seguidores conservaram a chama, espécie de pira olímpica acesa e inapagável na alma da fiel torcida. De 1918 até hoje, a consolidação. Repito o que disse: a história do Fortaleza é feita de atos de grandeza, de elevação. De crença, quando na adversidade; de confiança, quando na dúvida; de coragem, quando tudo parece perdido. Algo transcendental, invisível aos olhos humanos. Hoje, vejo o acerto dessa colocação. Está aí o Leão líder da Série B, a poucos pontos da Série A. Uma campanha exuberante, superior, incontestável. Repetição de tantas retomadas inacreditáveis. Pujante, refaz a sina de reviravoltas monumentais. Quisera citar todos os nomes dos que escreveram a trajetória do Leão vencedor. Na impossibilidade de fazê-lo, a todos homenageio na pessoa do saudoso coronel Mozart Gomes, dirigente que, nos momentos mais difíceis, sustentou com profunda devoção o nobre ideal de Alcides Santos.

Time do século

Pensei muito para montar o que seria a seleção do Fortaleza no século. E perguntei a mim mesmo: como, sem cometer lapsos e injustiças, escalar apenas 11, entre dezenas de craques que vi em ação? Escalaria seleções e mais seleções do Leão, com jogadores de alta qualidade. Então vamos lá: Pedrinho Simões; Louro, Zé Paulo e Angelim; Pedro Basílio, Chinesinho e Amilton Melo; Moésio, Clodoaldo, Croinha e Mozart.

Fatos marcantes

A subida do Fortaleza para a Série A em 2002 teve elevada repercussão. Impressionante porque na formação a maioria era de jogadores cearenses ou que fizeram a base, como Jefferson, Angelim, Erandir, Sérgio, Clodoaldo, Dude e Juninho. O técnico Luís Carlos Cruz fez um trabalho brilhante.

Retorno

Em 2004, nova ascensão tricolor para a elite nacional. Após um ano infeliz na Série A em 2003, quando foi rebaixado, o Fortaleza voltou sob o comando de Zetti. O time contou com alguns remanescentes: Bosco; Erandir, Fernandão e Angelim; Sérgio, Marcelo Lopes, Dude (Juninho Goiano), Mazinho Lima e Juninho Cearense (Daniel Sobralense); Guaru e Marco Antônio (Jean Carlo). Foi uma festa.

Taça Brasil

Um dos momentos importantes do futebol cearense foi, pela primeira vez, uma equipe daqui chegar a uma decisão nacional. Coube ao Fortaleza essa primazia. Em 1960, decidiu a Taça Brasil com o Palmeiras, que era uma máquina comandada por Julinho Botelho. O Palmeiras foi campeão. O Fortaleza, vice, formou com Pedrinho, Mesquita e Sanatiel; Toinho, Sapenha e Ninoso; Moésio, Walter Vieira, Benedito, Charuto e Bececê.

Outra taça Brasil

O Fortaleza teve também a responsabilidade de decidir a Taça Brasil de 1968, agora diante do Botafogo. Empatou no PV (2 x 2), mas perdeu no Maracanã para um Bota que tinha craques consagrados, como Afonsinho, Gerson e Paulo Cézar Caju. O Fortaleza formou com Mundinho, William, Zé Paulo, Renato e Luciano Abreu; Joãozinho e Luciano Frota; Garrinchinha, Lucinho, Erandir (Amorim), Mimi. Técnico: Gilvan Dias.

Craque maior

Privilegiado foi quem teve a felicidade de ver jogar Mozart Gomes, o Mozarzinho. Eu vi e atesto: craque, tão craque, que, mesmo sem a comunicação de hoje, teve seu nome lembrado para a Seleção que ganharia a Copa de 1958. Na época, Mozart estava no futebol pernambucano. Mereceu bela biografia escrita por Saraiva Júnior. Para mim, o mais perfeito craque cearense que vi em ação.

Também Craque

Privilegiado também quem viu em ação Clodoaldo, o baixinho bom de bola. Este, as novas gerações viram jogar. Há também os vídeos à disposição. Clodô é o 2º melhor craque cearense que vi. Autor de jogadas comparáveis a Messi. Por aí, vocês podem imaginar o que Mozarzinho foi capaz de fazer. Pena não haver vídeos com lances de Mozart. Conclusão: Clodô e Mozart, dois craques especiais que ornamentam o time do século. Parabéns, Fortaleza.


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