Tom Barros: O templo mudou. O futebol também

Legenda: Tite observa treino da Seleção Brasileira
Foto: Luis Acosta/AFP

Depois da reforma, esta será a segunda vez que a Seleção Brasileira decidirá um título no Maracanã: Brasil x Peru. Na fase classificatória a Canarinho triturou o Peru (5 x 0) na Arena Corinthians. Mas o Brasil, ao longo da trajetória, teve lampejos de belo futebol e instantes de futebol ruim. Em nenhum momento, porém, apresentou qualidade inferior aos concorrentes. Cometeu oscilações que outras seleções também cometeram, principalmente as do Uruguai e da Colômbia. O Peru surpreendeu na reta final e ganhou a vaga na decisão. Segundo Paolo Guerrero, o Brasil não é favorito. Certamente ele vai querer ser um Alcides Ghiggia, o homem que silenciou duzentas mil vozes no Maracanã, quando o Uruguai conquistou a Copa do Mundo de 1950. Mas hoje tudo mudou. O local é o mesmo, mas não o cenário. O Maracanã já não é o maior do mundo de duzentas mil vozes nem o templo sagrado de antes. Profanaram o que deveria ter sido intocável por todos os séculos. Destruiram o Maracanã histórico em nome de uma modernidade duvidosa. E é exatamente aí onde o Brasil amanhã buscará o título da Copa América. O templo mudou. O futebol também...

Terceiro lugar

Não há graça na disputa pelo terceiro lugar, seja qual for a competição. Em campo equipes desmotivadas pela perda da vaga na final. Só mesmo com raras exceções algumas seleções resolvem fazer um jogo competitivo em circunstâncias assim. Se for feita uma pesquisa, garanto que a maioria dos jogadores gostaria de não ir a campo.

Critério

A classificação geral ao final da Copa América, para efeito de ranking, poderia ser feita através da apuração de pontos ao longo da competição. Se tal apuração desse empate, então seriam utilizados os demais critérios para definição dos 3º e 4º lugares. Nesse tipo de disputa o ânimo e a graça dificilmente se acham presentes.

Legado

A Copa América vai chegando ao fim. Nada de novidade. Mesmo com a Seleção Brasileira garantida na final de amanhã, não se viu uma empolgação ou algo que revelasse um clima de competição internacional. Tudo ficou entre o morno e o frio, muito longe da efervescência significativa das grandes disputas futebolísticas.

Personagens do "Maracanazo" em 1950, o goleiro do Brasil, Barbosa, e o volante do Uruguai, Obdulio Varela, passaram por constrangimento semelhante. Em 1994, Barbosa foi barrado na Granja Comary. Queria cumprimentar Taffarel, às vésperas da Copa do Mundo, mas a direção da CBF não permitiu, alegando que seria dar vez ao azar. Absurdo.

Um dos heróis do título de campeão do mundo conquistado pelo Uruguai em 1950 no Maracanã, o volante Obdulio Varela sofreu grande humilhação em seu país. O escritor Eduardo Galeano conta que Varela morreu pobre e magoado pela falta de reconhecimento, principalmente por ter sido barrado na entrada do Estádio Centenário em 1993. Outro absurdo.