Todos somos saudosistas

Um dia, mais cedo ou mais tarde, olhamos para o passado. E tentamos buscar entre as brumas de recordações os momentos que nos marcaram. O saudoso Mardônio Sampaio foi um dos mais brilhantes noticiaristas que conheci. Com ele, durante mais de duas décadas, apresentei o Rádio Notícias Verdes Mares. O irmão dele, meu querido Alberto Sampaio, também locutor da Verdinha na década de 1960, mandou-me bela mensagem. Sem querer, conduziu-me ao tempo em que Mardônio, apaixonado pelo Ferrão, presidia o Sindicato dos Ferroviários. Alberto fez referência ao início de minha carreira como narrador de futebol. Na época, no PV, Alberto estava ao lado do radialista e oficial da FAB, José Cabral, então narrador da Rádio Uirapuru. Cabral fora notável na Rádio Globo e Rádio Tamoio, ambas do Rio de Janeiro, e na Rádio Uirapuru, aqui de Fortaleza. Nesse tempo, Júlio Sales, o Julinho da Imperatriz Sales, muito bom como até hoje, era "O Garoto do Placar". A jornalista Lyana Ribeiro, fervorosa torcedora coral, sobrinha do Alberto e do Mardônio, foi quem me entregou a mensagem do seu tio. E assim desencadeou esta volta ao passado.

Moderna

As transmissões de futebol pelo rádio atualmente são ornamentadas por vinhetas e chamadas de toda ordem. Ficaram mais bonitas. Na década de 1960, era bem diferente porque esses mecanismos de embelezamento das coberturas não existiam ou, se existiam, não eram usados.

Repetição

A reverberação (tipo suave quase eco) ajuda o narrador. Há locutores que preferem transmissão seca (sem reverberação, sem eco). Hoje, dificilmente há transmissões "cruas" assim. Sempre optei por transmissões com quase eco. Já com o uso de eco não dá porque embaralha as palavras. Torna-se ruim para o ouvinte e para o narrador. Nas décadas de 1960 e 1970, na Rádio Dragão do Mar, o operador de som Mauro Coutinho, sabia colocar a reverberação na medida certa.

Agilidade

Valdenir Santos foi um dos mais criativos operadores de som em transmissões de futebol. Usava ornados de acordo com a condução do narrador. Valdenir morreu em 2017. Foi um inovador. Criou uma verdadeira escola de operadores que buscavam enfeitar de forma diferente as transmissões.

Patrocínio do tempo de jogo começou na década de 1960. Lembro demais da "Aguardente Cantagalo", que patrocinava a equipe comandada pelo brilhante narrador esportivo Ivan Lima. O operador de som colocava no ar um galo cantando. Aí o Ivan chamava o tempo. Ivan foi líder de audiência aqui e em Recife. Uma das vozes mais bonitas do Brasil. Morreu em Recife em 1994

O Sinal de tempo mais agudo, em dois toques, ainda hoje usado nas transmissões de futebol, foi elaborado pelo operador Mauro Coutinho. A forma aguda, tinindo, era exatamente para chamar atenção da audiência no estádio. Quando o sinal de tempo era chamado pelo narrador, havia um eco no estádio. Mauro, o criador, ainda hoje trabalha no Teatro José de Alencar